sexta-feira, 10 de outubro de 2008

CÓPIA OU ORIGINAL?


“O homem nasce original e morre cópia. “

Carl Jung


Sai que vai parecer arrogante, mas garanto que não é, se é para seguir homens sigo a mim mesmo... O que Buda pode ser que eu não, ou Cristo? Ou Maomé? Ou Ghandi? Ou Marx?... Não faz sentido eu sair por ai, tentando seguir outro cara como eu, é dar um atestado de incompetência a si mesmo... É como escrever em neon: Eu sou um babaca, não sei construir meu caminho, tenho que ir no rastro dos outros!!!...

Vejam o quanto somos diferentes do meio... Já parou para se observar e ver o tão pouco você se identifica com os que estão ao seu redor? Tente se comparar ao seu pai, a sua mãe, amigos, e perceba o quanto você é diferente... Você só absorve o que você admira e depois se você percebe que isso te faz mal, você descarta...

São poucos os homens que conseguem enxergar a si mesmos como senhores do seu destino... Não por que eles são especiais, ou inteligentes ou poderosos, mas pelo simples fato de não contarem com ninguém... De descobrirem que eles são homens e não projetos de um modelo a ser construído, conforme a "bula"....

Eu me construo a cada dia, ainda existe em mim, muito dos homens que forjaram o conhecimento humano, mas é bem verdade que muita já descartei... Hoje posso, seguramente dizer, que sou um livre pensador... Não tenho medo de ir além dos outros, pois os outros foram apenas homens, como eu e você...

Quando era adolescente, eu me vestia diferente de tudo, rasgava calças pela metade, e arrancava as mangas das camisas... Nunca, me adaptei as convenções.. Foi exatamente quando comecei, ao mesmo tempo em que absorvia e conhecia o pensamento humano, a descartar e me formar originalmente, intuitivamente... Detesto roupas, 90% do tempo estou apenas de calção e, é um calção sem formas, modelos, ele é apenas uma vestimenta rústica... Minha esposa diz que eu sou um bicho do mato.. Um eremita na cidade grande...

A diferença em ser uma cópia e ter consciência de que é uma cópia?... Essa consciência nos faz buscar a originalidade do ser, construir-se por si mesmo, sem seguir modelos, ou mestres, pois sabemos que são meros homens ao nosso nível, e muitos nem sequer tem consciência de que são simples imagens refletidas em um espelho...

Eu não vejo o ser humano como nascendo original, no meu entender, somos criados a partir de duas células que trazem informações genéticas que vão nos definir biologicamente, só isso, nada trazemos para a vida se não essas informações genéticas que vão dar todas as nossas características físicas e orgânicas.

Quanto a parte de "ser", eu vejo como uma construção diária e só é cópia dos modelos já existentes quem assim os seguir... Quando o ser humano consegue se descobrir como construtor de si mesmo, ele pode ser único e original, mas original mesmo, sem modelos para espelho, pois que ele é apenas isso, um homem e pode se construir originalmente.

Podemos e devemos ter sim alguns parâmetros, referências, homens que pensam e desenvolveram teorias que nos apontam um caminho, desde que seja uma escolha consciente de que é um homem que nos guia e não alguém que é superior a nós... É louvável sim, acatar idéias de um parceiro, de um ser que pensa uniformemente com você...

Não vejo um modelo para o homem, só vejo sociedades que se formam e modelos que são formados a partir delas... O homem é como um animal qualquer, sem sociedade ele formar-se-á sozinho, adaptando-se as suas necessidades e as disponibilidades do meio natural... Ou ainda interferindo nesse meio, a partir de uma formação mais elaborada de si mesmo. A partir daí ele começara a criar modelos, não o contrário. O homem não nasce pronto, ele não é determinado em sua personalidade, em sua existência!

Nunca neguei a alienação, o condicionamento, ao contrário ele é a prova de que podemos ser originais! Por isso no começo dessa explanação, disse que, poucos são os homens que conseguem ser modelos, pois só pode ser modelo o que se descobre original!

Em quem se inspirou Buda? Em quem se inspirou Heráclito? Sócrates (Platão?) e o homem que saiu da chuva e do sol, para o abrigo da caverna, em quem se modelou?

Eu não consigo ver homem como sendo cópia, assim, o que chamam de modelo são condições criadas pelo próprio homem, portanto algo originariamente do homem, criador de si mesmo, original!

O homem começa a construir-se original a partir do momento que se descobre cópia, ao contrário do que disse Jung, eu inverto a ordem, a partir do seu "nascimento" ele começa a se construir e se tiver tempo, se "nascer" cedo, talvez cesse a sua existência, completamente construído por si mesmo, uma obra-prima de si!!

sábado, 16 de agosto de 2008

A SOCIEDADE

Qual a função da sociedade? Seria ela apenas o que Marx cogita? A síntese das relações produtivas de um povo?
Eu particularmente acredito que não! Deveria ser isso sim, porém os homens e as suas relações criaram outros fins para a sociedade. O que deveria ser uma relação de trabalho, uma associação cooperada para o desenvolvimento tecnológico do homem e a facilitação de sua sobrevivência, foi transformada numa idealização, numa utopia...
Diante da necessidade de legislação dessas relações produtivas, alguns setores se desenvolveram a margem da real finalidade da sociedade e desvirtuaram seus objetivos naturais, criando expectativas para o homem muito além de sua real capacidade.
Dentre essas atividades que se afastaram dos objetivos naturais da sociedade, estão as religiões e os chamados sistemas ideológicos. Essas atividades criaram as maiores ilusões sociais, inventaram homens desprovidos de vontade própria e de instintos de sobrevivência.
Produziram diferenças entre seres da mesma espécie, forjaram mitos e soluções antinaturais, com isso, a sociedade perdeu seu rumo e passou a existir, não com o seu fim natural, que era ser o instrumento para o justo desenvolvimento tecnológico em função da humanidade, mas sim como amparo aos anseios existências do seres humanos dominantes.
A sociedade passa de instrumento, ferramenta em beneficio do homem, para ser o fim em si mesmo. Deixa de ser uma ferramenta de uso e acesso comum, para ser o instrumento de manipulação de uma elite dominante, que faz uso dos mecanismos sociais, antes criados para sobrevivência e desenvolvimento da produção de bens de consumo e tecnológicos, para manter o homem dentro de faixas sociais.
A sociedade nas mãos desses passa a definir o “modelo” de ser humano que pode viver nela. Daí em diante a sociedade perde o sentido, começa a construir desníveis enormes, escraviza, explora e determina quem pode ou não ser “feliz”!
Essa palavra, “felicidade”, em si já é uma utopia, um desejo apenas e não uma condição alcançável plena, pois que ninguém pode ser feliz plenamente! Nossas sensações são produtos de substâncias químicas, hormônios que interagem no nosso organismo, provocando processos temporários de prazer, medo, raiva, alegria... Portanto “ser feliz” é uma ilusão criada para que o ser humano possa suportar maiores períodos de “sofrimento”, pois que será “recompensado” quando finalmente conquistar a sua “felicidade plena”...
Esse é um dos exemplos de ilusão que a sociedade, sob o domínio de poucos, produz para contenção dos ânimos de seus componentes base, geralmente condenados a ser a força produtiva, sem ter acesso aos benefícios de sua produção... Seja de bens consumíveis, seja patrimonial ou avanços tecnológicos!
Eu vejo que esta é uma “Sociedade idealizadora de homens” e se fundamenta em cima de propostas ilusórias para o homem! Todos os objetivos dessa sociedade em que vivemos são ilusões criadas para modelar o ser humano à ela e não o contrário, como deveria ser, a sociedade se modelando as necessidades do homem, servindo para dar continuidade a vida e sendo uma justa relação, onde os homens se respeitassem mutuamente pelo que são e não pelo que poderiam vir a ser!
Essa suspensão da identidade existencial do ser humano provoca um comportamento artificial, uma “vida” inútil! Inibe emoções, instintos que deveriam ser plenamente sentidos, vividos em suas ações e reações plenas, sejam “boas” ou “más” (conceitos que não existiriam se a sociedade não tivesse sido desvirtuada em sua proposição natural). Um homem não pode ser reconhecido por sua cor, raça, posição que ocupa nesta sociedade, religiosidade ou crença que lhe foi imposta, ideologia ou qualquer dessas convenções... O homem tem que ser reconhecido por sua humanidade, por sua espécie, por sua identidade existencial!
Essa é a minha visão da sociedade atual, ou o que ela se tornou ao longo do processo de evolução do homem! Sei que minha visão é pessimista, que coloca o homem como senhor e escravo, elimina qualquer tentativa de fazer do homem um ser “bom”, “caridoso”, etc!! Sei que é uma visão que deixa órfão o ser humano, pois que lhe destitui de toda e qualquer modelação, seja anterior ou posterior ao seu surgimento.
Minha visão coloca o ser humano como criador de si mesmo, responsável direto por suas ações e reações diante dos fatos e da natureza! Não deixo ao homem alternativa de tutela, de desculpa por seus atos! Ele não obedece a um desenho, um projeto, ele se projeta, ele se constrói(isso do ponto de vista do intelecto), não há um propósito definido para a sua existência e seus atos. O único destino do homem é ser homem, satisfazer seus instintos e preservar sua espécie, evoluir, tentar vencer a luta contra a morte e construir uma relação social de cooperação e não de dependência!
Portanto, a mão que tem que ser estendida, não é a que “pede” e muito menos a que “dá”, não devemos basear nossa relação social em sentimentos e sim em ações reais, atitudes realistas! A mão que se estende tem que ser a que soma, a que respeita, a que apóia!
Os motivos que devem mover estas mãos não são a “caridade”, “a pena”..etc., e sim a Consciência de sua responsabilidade, a certeza de que sem a cooperação mutua estamos fadados a perder a guerra contra o inanimado! Sucumbiremos às forças da natureza, as leis imutáveis da física e da matemática! Seremos extintos!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

SÓCRATES NÃO EXISTIU....






Manoel Nogueira e Aline Marques




Manoel

Eu sempre vi a figura de Sócrates na obra de Platão como uma idealização... Na minha visão o Sócrates de Platão é fruto de seu amor pelo homem que deve ter sido seu mestre e a paixão de sua vida... Alguém disposto a ir em frente?

Aline
Acho que é indiferente se Sócrates existiu ou não, se Jesus Cristo existiu ou não, não devemos idolatrar filósofos ou santos, mas analisar idéias. Se Sócrates é um personagem de Platão, legal é um personagem interessante, com algumas idéias legais e outras ruins, só isso, mas não deve ser encarado como modelo. Assim como Jesus cristo, se existiu ou não, não vai mudar a nossa realidade.

Manoel
Você tem mesmo essa certeza de que se, seguramente provássemos a não existência de Jesus ou Sócrates, não haveria mudanças significativas na realidade humana? De onde você tira essa certeza?

Aline
A existência de ambos pouco importa, o importante são as idéias que eles deixaram, se são válidas ou não para nosso tempo, para nossa realidade. O problema é que temos uma séria tendência a idolatria, gostamos de cultuar a imagem ao invés do conteúdo. Será que se tivéssemos uma imagem de um Jesus Cristo negro, as idéias dele teriam valor?

Manoel
Porque não? Gandhi era meio moreno não? Aline eu te vejo muito agarrada ao preconceito... Às vezes, os homens esquecem a cor da pele, a raça, o credo... É difícil, mas acontece...

Aline
Quem tem mais prestígio: Gandhi ou Jesus Cristo? A idéia de Jesus Cristo, é sempre de Europeu, loiro, olhos azuis. Como os norte americanos mais preconceituosos iriam adorar um cristo negro? Nunca. E na nossa sociedade, racista, acha mesmo que as burguesia iria dobrar os joelhos para um cristo negro? Ta bom...!!!

Manoel
Então minha cara, veja como é importante a existência de certos personagens históricos... Sem eles as suas idéias seriam nada, já que até a cor de sua pele interfere no julgamento delas. com isso você contradiz sua primeira posição, pois dentro dessa visão, mudaria sim a existência ou não de Cristo ou Sócrates..Cristo pelos motivos que você conhece bem e já citou várias vezes e Sócrates pela sua característica de precursor da Filosofia, comprovar a sua não existência seria matar a filosofia grega e toda a base do pensamento ocidental! Seria matar toda essa idéia de moralidade e humildade que parte dele... E até as bases do judaísmo e todo o alicerce cristão...

Aline
Sabe o que eu percebo Manoel, o problema não é a existência ou não de tais personagens, mas essa tendência para idolatria. Você vai provar por A + B que determinado personagem não existe, e logo em seguida colocarão outro mito no lugar . Os mitos nunca são derrubados, mas substituídos, e percebe-se isso no decorrer de toda história da humanidade. Por isso falo da importância de se discutir conteúdos e não o meio. Senão, Mcluhan estava certo: O meio é a mensagem.
É muito interessante essa questão que você levanta, porque teoricamente, a idéia de cinema surge com Platão. Podemos começar a entender a construção de um mito.

Manoel
Platão primeiro cria o homem ideal (Sócrates) depois ele tenta fundamentar uma Sociedade ideal (A república) antes, porém, ele idealiza o mundo ideal fora do alcance humano (o mundo das idéias) o destino da “alma” do homem ideal... É esse mundo a única coisa que realmente importa a Sócrates... Algo familiar?!!!!
Aline
Jesus.... Agora, prova para as pessoas que o super homem não existe...

Manoel
Sócrates é um homem do povo... Ele leva seus ensinamentos diretamente às praças... Ele se mistura ao povo para "esclarecer", ele fala através deles, com sua língua e com seus recursos de conhecimento...ele apenas orienta tais conhecimentos de forma a torná-los lógicos e coerentes(com seu ideal)...ele é o escolhido do oráculo...O “tal”!

Aline
Jesus Cristo também...
Ambos morreram por um mundo ideal... rs
Jesus Cristo é um plágio de Sócrates?

Manoel
Parece que tudo começou com Platão... Digo isso do ponto de vista do ideal da virtude humana, de um plano racional de criação de um norte a ser seguido, a unificação das crenças, com certo "quê" de razão e coerência... Creio que ele visava uma Grécia unida por um ideal virtuoso... Ele devia pressentir que a diversidade de crenças levaria a queda do império grego...

Aline
A filosofia nunca vai conseguir passar do mito para razão. Veja bem, Sócrates, Jesus Cristo, Zaratustra , Super Homem ....rs O homem é o mito da vez . O que é o homem? O homem nada mais é que uma idealização do próprio homem.

Manoel
Isso é o que? Eu sou humanista... Eu defendo o homem como senhor de si mesmo.. Sem Super poderes, apenas com a sua vontade e sua capacidade de raciocínio e inventividade. Sou um seguidor de mitos?

Aline
E as suas práticas são baseadas em que? Na sua idéia de “realidade ideal”, e isso não quer dizer que ela realmente seja ideal, continua sendo um mito.

Manoel
Eu me isento de ideais, procuro apreender a realidade em que me insiro, e analisá-la conforme seus componentes, independente de minha vontade. Procuro apenas entender os motivos desta realidade e tentar ser justo comigo e com os outros, sem subjugar nem me deixar levar...

Aline
Vamos supor que você eduque seu filho dizendo: “Um homem não pode se vestir de mulher”, você explica todas as razões, e seu filho aceita como correta. Então seu filho se torna pai, e reproduz o seu ensinamento, e seu neto não concorda, ele acredita que por a+b ele pode se vestir da maneira que bem entender, ou seja, ele derrubou um mito criado por você.

Manoel
Ninguém mais que eu detesta o pensamento instalado, a convenção, o clássico, só não gosto da crítica sem construtividade... Eu não posso de maneira nenhuma, combater a sociedade atual, sem tentar expor as deficiências que formaram esse pensamento, tentar destruir a sua base de apoio, carcomer seus alicerces frágeis... Derrubar mitos é meu hobby... Eheheheeh!

Aline
Muito legal você gostar de derrubar mitos, isso é ótimo. Porém, você deve tomar cuidado para não impor outro mito no lugar do derrubado, esse é o perigo. Não concordo com idéia de combater a sociedade atual, como se “eu” fosse um grande “deus” com poder para solucionar todas as coisas. No meu ponto de vista, essa foi a grande utopia de Platão, da igreja, do comunismo, do capitalismo, querer uma IMPOR uma “sociedade ideal” para todos. Parece que a coisa funciona assim: Só seremos felizes se toda sociedade se guiar pela filosofia, só seremos felizes se todos acreditarem em deus, só seremos felizes se todos estudarem Marx, só seremos felizes se todos forem capitalistas... Loucura! Chegou a hora de cada individuo se perguntar: O que eu preciso para ser feliz? E trilhar seu próprio caminho, com os seus próprios mitos, sendo o seu próprio mito (a concretização das suas idéias), claro, vivemos em sociedade, e alguns itens precisamos analisar juntos, mas não tudo. Não precisamos de um grande mito , para dizer: “vista assim”, “coma assim”, “não fume”, “não beba” , “transe assim” etc. etc. etc.

Manoel
Exatamente, não podemos solucionar os problemas com a visão estática de um observador apenas... Por isso o capitalismo resiste, pois que ele não se fecha em um sistema pensado, ele vai absorvendo as mudanças das sociedades, e vai mudando é como uma bactéria, que vai ficando resistente aos antibióticos... Enquanto os outros sistemas sucumbem, por sua rigidez, é outro mito que precisa ser quebrado, Marx analisou muito bem o capitalismo, só que ele não levou em conta a evolução deste, ele o viu como um sistema rígido, imutável, que certamente se assim fosse sucumbiria conforme suas previsões... Não aconteceu e nem acontecerá... Outro mito é de que o homem é solidário, e por isso tantas tentativas falham, não adianta basear ações na solidariedade humana... Não funciona o homem é egoísta! O homem só faz algo por outro se ele tiver benefícios equivalentes... Não existe solidariedade, compaixão e essas baboseiras....

Aline
Você não acha que é um pouco de determinismo afirmar que o homem não é solidário? Porque esse egoísmo excessivo é altamente destrutivo. Será que essa é realmente a nossa natureza?
Em minha opinião, a lógica do capitalismo é a seguinte: "Você só pode ser feliz se consumir o tempo todo."
Como uma coisa destrutiva pode ser natural?

Manoel
Não é! O Capitalismo não é natural, apenas se adapta e ao mesmo tempo condiciona... Ele se alimenta do desejo individual. Ele absorve esse desejo individual e o vende como modelo social... Dessa forma ele anula o individualismo e se fortalece...
E não é determinismo não, muito pelo contrário, é exatamente uma construção individual que nos faz ser egoísta e não viver egoisticamente... Tudo que fazemos é relacionado ao nosso prazer individual... Creio que seja impossível ao ser humano fazer algo que vá contra a sua felicidade... Não concorda?

Aline
Por exemplo, minha mãe é téc. de enfermagem, trabalha num hospital público, e recebe por esse serviço. Mas eu já vi minha mãe várias vezes gastar dinheiro para comprar remédio para um vizinho doente, socorrer pessoas na rua, levar um mendigo que estava com a perna apodrecendo para o hospital. Eu nunca vi essas atitudes como uma forma de fazer publicidade ou coisa do tipo, eu via vontade de ajudar, ela consegue sentir a dor do outro, mas é claro que ela também tem um lado egoísta. Eu te pergunto: Você seria capaz de ajudar alguém sem interesse nenhum?

Manoel
Não! Eu não seria capaz de ajudar alguém sem nenhum interesse pessoal, eu só ajudo os outros porque me sinto bem em fazer isso, e não pelo outro! Se ajudo alguém dando um prato de comida, me sinto feliz... Se isso me deixasse infeliz eu daria um pontapé...

Aline
Uma vez eu estava descendo do ônibus junto com um senhor, e ele ia cair, eu o segurei... Foi instinto, não deu nem tempo para pensar que vantagens ou desvantagens eu teria com aquele ato, foi um impulso. Certa vez, eu estava atravessando a rua distraída e uma senhora me segurou porque eu ia ser atropelada, acho que ela também não teve tempo de pensar o que ganharia em salvar a minha vida, foi impulso.

Manoel
Condicionamento.. Imagina uma pessoa sendo atropelada, sangue, ossos quebrados, etc. isso é agradável? Por isso você "salva" a pessoa, quando na realidade esta evitando sofrer... Não é mais coerente?

Aline

Não dá tempo de pensar em nada, é instinto... Até porque o ser humano também é chegado ao horror, as pessoas adoram ver defunto na rua.

Manoel
Quando ele (o corpo) já está lá... Porém quando pode-se evitar o instinto fala mais alto... Ninguém "gosta de ver cenas de horror", é exatamente essa emoção diferente que nos leva a olhar essas cenas que nos embrulham o estômago... É a curiosidade e não a sensação de prazer... É a necessidade de ver que "não foi comigo, ainda bem".

Manoel
Há uns 15 anos atrás, eu estava numa praia com minha família, minha esposa e meu filho, ele tinha três anos... Quando ouvimos um alarde e uma correria para a beira do mar, era uma jovem de 13 anos que havia se afogado... Ela estava estendida na areia, e ninguém fazia nada, eu me adiantei, fiz respiração, massagem abdominal, mas infelizmente ela já havia falecido... Na segunda-feira, quando da noticia nos jornais, me pego imaginado se eu a tivesse salvado... Captou? Na hora eu pensei que a estava tentando salvar por pura solidariedade, mas, no fundo meu ego estava agindo.....

Aline
Não querer que o outro sofra, não é uma forma de altruísmo? Sentir a dor do outro, sentir-se bem com a felicidade do outro... Tudo isso é altruísmo. Não vejo o ser humano só como egoísta, e não vejo o egoísmo só como um sentimento negativo, é também uma defesa, mas em excesso é loucura. Tem pessoas que sentem prazer em ver o outro sofrer, em provocar o sofrimento. Você não vê, temos jovens que sentem prazer em queimar pessoas vivas.

Precisamos olhar os dois lados da moeda, o ser humano não é só altruísta e não é só egoísta, e para viver bem, é necessário que os dois lados estejam em equilíbrio. O problema é achar que precisamos ser uma coisa ou outra.

Manoel
Compreenda minha cara amiga, não sentimos a dor do outro, nós é que não queremos sofrer... Porque os outros somos nós... Entende? Ali está um ser humano igual a mim, é isso que procuro evitar, a minha dor, pois ela se reflete na dor do outro... Compreender isto é a única maneira de fazer o bem ao outro... Só assim o considerarmos um igual... E não um incapacitado que precisa de caridade... Caridade essa que o escraviza. Nos diminuímos quando admitimos erroneamente que o outro precisa de nossa ajuda, ele apenas precisa do nosso respeito, ele só está em condições diferentes das nossas e, minha ajuda é para que ele seja novamente um espelho digno de me refletir... Portanto estou me ajudando a melhor me ver!

Aline

“Compreenda minha cara amiga, não sentimos a dor do outro, nós é que não queremos sofrer... porque os outros somos nós... Entende? ali está um ser humano igual a mim, é isso que procuro evitar, a minha dor, pois ela se reflete na dor do outro...”

Concordo Manoel, só que em algumas pessoas o egoísmo chega a tal ponto, que elas passam a não se importar mais com as dores do outro. Chegam a sentir prazer com a dor alheia. O prazer pela violência. O egoísmo é natural no ser humano, mas não é absoluto, existe um contra ponto que é o altruísmo, que é ser o outro....

“e não um incapacitado que precisa de caridade... Caridade essa que o escraviza. Nos diminuímos quando admitimos erroneamente que o outro precisa de nossa ajuda, ele apenas precisa do nosso respeito, ele só está em condições diferentes das nossas..”

Concordo, também não gosto de caridade....

“e minha ajuda é para que ele seja novamente um espelho digno de me refletir... Portanto estou me ajudando a melhor me ver!”

Também concordo.

Manoel
Isso é uma aberração do egoísmo se chama egocentrismo, uma pessoa que se acha superior a outras, é esse comportamento que leva a essas atrocidades, a falta de respeito à igualdade da espécie... E é a falta de egoísmo, pelo outro lado, que permite também que esses dominem outros de sua espécie... Veja! Só a consciência de que somos egoístas, pois o egoísmo é bom para a humanidade, equilibra as forças, poderá gerar uma sociedade igualitária... Não é colocando iguais na condição de inferiores que seremos justos...

Aline
Então estamos vivendo numa sociedade totalmente egocêntrica, que se aproveita dos que perderam seu "egoísmo" natural, que perderam a capacidade de se defenderem sozinhos ? Me explica...

Manoel
Exatamente! Vivemos sob o domínio do egocentrismo individual... O capitalismo forja modelos individualistas que se alimentam da miséria e da "solidariedade", o modelo vigente é o politicamente correto, altruísta, preocupado com o meio ambiente, não tem preconceito, atura todas as diferenças, bem sucedido e de moral ilibada, um ser perfeito em seu egocentrismo! O outro não existe a não ser para satisfazer as necessidades do "modelo"... E ele é vendido diariamente em todos os setores da nossa vida, na escola, no cinema, no teatro, na TV, nas ONG's, nas Igrejas... Etc. Percebe o egocentrismo disfarçado de solidariedade e compreensão?

Aline
“o modelo vigente é o politicamente correto, altruísta, preocupado com o meio ambiente, não tem preconceito, atura todas as diferenças, bem sucedido e de moral ilibada, um ser perfeito em seu egocentrismo!”

Serve para disfarçar o “egocentrismo”. Muito interessante a sua observação. Eu sempre achei que as ONGs seriam a “salvação da lavoura”, até que percebi que esse tipo de projeto envolve muito gasto, e pouco benefício. Não estou generalizando, mas são poucas que realmente atingem o objetivo (beneficiar uma maioria). A idéia é ótima, mas a prática é totalmente diferente.

"mudaria sim a existência ou não de Cristo ou Sócrates..cristo pelos motivos que você conhece bem e já citou várias vezes e Sócrates pela sua característica de precursor da Filosofia, comprovar a sua existência seria matar a filosofia grega e toda a base do pensamento ocidental! seria matar toda essa idéia de moralidade e humildade que parte dele... e até as bases do judaísmo e todo o alicerce cristão...

Poderia falar mais sobre isso ?

Manoel
Posso sim, mas devo retificar uma palavra nesta minha colocação, no lugar de existência, nesta frase, seria inexistência... de qualquer maneira não muda o centro da questão... que é a existência ou não de personagens da história que mudaram o mundo com suas idéias...

Comecemos com Sócrates, esse que é o pai da filosofia ocidental, sobre a sua famosa premissa se baseia todas as virtudes ocidentais... A humildade de sua declaração "só sei que nada sei..." norteia todos os filósofos que se seguiram... Mas, fosse essa frase de um homem inventado por Platão, teria essa força? Serviria como base para a conduta filosófica? Eu duvido muito... Creio que o cenário de realidade, sua condição de ser humano e que fazia aquilo pelas ruas e pelas praças gregas é que o tornaram tão importante e capaz de influenciar até mais que seu "criador"... É a sua humanidade que o faz tão sábio, pois só alguém divino poderia ser tão virtuoso, e como o ser humano sempre buscou essa divinização de si mesmo, Sócrates real se torna a busca dos homens. Todos os filósofos queriam e querem chegar a esse estágio divinal de pureza e sabedoria que existe em Sócrates, e que nos mostrou Platão, através de sua obra.

Manoel
Cristo...
A igreja fundamentou a humanidade de Cristo, tornando-o humano para ser o mártir de sua ideologia, ele é colocado como um homem comum sem poderes extraordinários..

Nesta imagem de Cristo desenhada pela Igreja, ele não faz milagres, ele apenas pede ao pai que faça os milagres, ele não é poderoso, ele é apenas um homem... É essa característica que fascina o homem, assim como na obra de Platão, é essa humanidade divina, que arrasta os homens para a crença. É o desejo de ser divino que faz lendas, personagens virarem gente.... Imagina se em vez de um homem essa narrativa dissesse que foi o próprio Deus que veio ao mundo e fez milagres e que circulou entre os homens. Isso não teria efeito nenhum! Deuses não seduzem homens a seguir seus exemplos. Homens seguem homens que seguem deuses...

Um pouco diferente de Sócrates a existência de Cristo foi questionada e ainda é... Porém nesse caso, a Igreja teve muito tempo para, se ele não existiu, ter destruído todas as evidências... Mas, se fosse provada a inexistência humana de Cristo, toda a fé cristã iria pelo ralo...

Aline
Então descobrimos que Sócrates nunca existiu, que Jesus Cristo nunca existiu, que a solidariedade nunca existiu, que o amor nunca existiu, que a felicidade nunca existiu, que a paz nunca existiu, que um monte de coisas que nós sempre acreditamos na realidade nunca existiram. Toda a nossa existência não passou de conto de fadas. rsrsrs!! Será que nós existimos?! Chego a conclusão, que foi o ato de “pensar” que fudeu a história, pensando deixamos de existir. Sim, deve ter tido algum momento em que éramos apenas instintos, sem esse monte de mitos. Sei lá , acho que algum macaco comeu uma planta que não devia, ficou doidão, olhou para sol e inventou deus. E não parou mais de inventar coisas, e foi inventando, inventando, e agora cansamos de inventar, resolvemos “desinventar” tudo, vamos voltar para floresta, parar de pensar, curtir a natureza, viver em harmonia com o meio ambiente, vamos só viver, sem inventar mais nada....

Manoel
É que o homem inventou a verdade, e baseado nessa verdade ele construiu uma realidade... Só que tempos depois, outro homem inventava outra verdade... Assim fomos construindo castelos de ilusões sobre verdades inventadas... Hoje inventamos a mentira, e vivemos a destruir verdades, a demolir castelos...

terça-feira, 1 de julho de 2008

Redemoinho


Redemoinho..



A dor que rebenta
Como uma onda em fúria
Rasga o peito, arrasta, fura...
É qual tormenta,
Uma beleza dúbia:
A claridade obscura
Que emana da correnteza,
Ou a escura noite
Que se faz no dia...

No contraste e no açoite
Da água e da ânsia
A minha alma verte,
Gota a gota, a agonia..
Menos pela calmaria
E mais pela procura...
Menos pelo porto
E mais pelo farol...
Apenas a certeza e o perigo
Não a terra firme...
Não o corpo ardente...
Apenas a febre e o frio,
A consciência aberta em guia
A verdade em forma de tiras
Para que meu coração
Mesmo em retalhos
Se costure em vela...
Para que meus olhos
Avistem a luz nas trevas
E minhas mãos abertas
Tracem uma nova rota
Ainda que escura e trôpega,
Porém na certeza de um caminho..
E não mais o vórtice, o redemoinho!

Manoel Nogueira.

sábado, 7 de junho de 2008

Por que é tão difícil pensar em soluções reais?


O filosofar a realidade prática parece que não convém...

Cada vez que coloco uma questão ligada à realidade, ao solucionar de problemas reais, práticos e urgentes da humanidade, sempre me deparo com uma solidão enorme, salvo umas poucas mentes, às vezes talvez por simpatia, me vejo sem alternativas para o diálogo... me parece que o esforço filosófico se concentra em inventar uma realidade sem base prática e idealizar uma humanidade perfeita, divina que caiba nessa realidade produzida nas mentes brilhantes dos pensadores!
Porque, se é a filosofia a paixão dos que buscam o conhecer novo, as soluções para os males que nos afligem, me deparo sempre com essa parede, esse muro erguido entre o passado e o futuro? Entre o novo e o velho? O que afasta esses pensadores de suas realidades, suas vidas presentes, seus problemas diários? Porque temem tanto pensar em soluções?
Porque mergulham na mesmice do que já foi pensado, tentando de alguma forma entender, acatar, comprovar e não contestar, criar, solucionar? Abrirmos-nos ao debate da realidade como ela se apresenta e não como idealizamos que seja em nossas teorias... Ou das teorias mirabolantes e fora de época de outros filósofos. Partir para uma nova tomada de posição, levando em conta não a teoria passada, pois que todas as soluções antigas foram testadas, mas sim uma que leve a tecnologia, a comunicação, o imediatismo da informação, a comodidade, as ciências e o capital... Pois que eles estão aí não são personagens de livros...
Solucionar os problemas é compreender que a humanidade é imperfeita e que toda realidade sempre será imperfeita, o que devemos é procurar diminuir essas imperfeições, buscando um caminho menos egoísta, porém nunca poderemos "criar" uma sociedade perfeita, pois que isso não é humano!
Essa situação me provoca desejo... Uma vontade enorme de fazer o homem entender, que ele é seu predador, que não temos inimigos ocultos... que somos nós os nossos próprios carrascos...que a vida ...a existência é um exercício de luta, mas que podemos, se quisermos, respeitar nossos adversários, tratá-los com um pouco de dignidade, mesmo que seja para abatê-los e vê-los tombar de cabeça erguida..
Frijot Capra nos diz: "o que necessitamos, pois, é de uma redefinição da natureza tecnológica, uma mudança de sua direção e uma reavaliação do seu sistema subjacente de valores. Se a tecnologia for entendida na mais ampla acepção do termo - como a aplicação do conhecimento humano à solução de problemas práticos - torna-se evidente que nossa atenção foi excessivamente concentrada nas tecnologias pesadas, complexas e consumidoras de recursos; mas que devemos agora voltar-nos para tecnologias brandas que promovam a resolução de conflitos, os acordos sociais, a cooperação, a reciclagem"
Mas, isso a meu ver, não é uma solução é uma acomodação! Ele pede ao mesmo tempo que abarquemos a tecnologia, e mais a frente nega, abranda os usos delas, não dá! Se você tiver um celular que consome a bateria em duas horas e outro que consome em 24h, você vai optar pela "pesada" tecnologia... Ele quer limitar o uso da tecnologia, ele quer fazer o homem recuar diante da sua capacidade criativa, isso não combina com a competição natural. Precisaria de um freio antinatural, ou seja, lei, Estado, justiça ou religião, crença! É o pensar retroativo, buscando a solução atrás e não na frente. Temos que parar de construir o futuro igual ao passado, não podemos parar, tudo se movimenta, é dinâmico! Não dá para fotografar o passado e reproduzir no futuro, temos que construir soluções partindo do que já tem para o que vai vir, antecipar o futuro e não predizer, fatalizar..
Temos de um lado a miséria quase que absoluta e de outra a riqueza extrema. É exatamente essa distância que me proponho a pensar em diminuir, essa imagem precisa ser apagada! Não por que me dê medo, mas porque sou eu. É a minha improdutividade gera essa imagem e não ao contrário! Não é a fome que produz a minha geladeira cheia, é sim a minha geladeira, o excesso do que nela tem que produz a fome.
Não tenho medo da minha humanidade não, eu sei que sou isso, eu sei que sou capaz. Eu queria mesmo é que cada ser humano, conseguisse ver isso, conscientizar-se disso! Parar de dar nomes e formas externas aos seus próprios instintos. Quando o homem tiver a completa consciência de sua finitude, de sua inutilidade e de sua capacidade de destruir-se, ele poderá superar-se!!!
É nessa aceitação que nasce a vontade de mudar isso, é exatamente aceitando a morte que nos revoltaremos contra ela. Buscaremos a solução humana, cientifica tecnológica para fugirmos dela ou pelo menos adiá-la o quanto mais for possível! Quando nos agarramos a uma vida pós-morte, essa vontade desaba, nos conformamos com a morte, pois é apenas "passagem"...!
Se eu acredito que minha vida humana é apenas uma passagem, que eu sou o projeto de um algo além e sublime perfeito... Essa situação pouco me importa, na prática....porque me importaria, pois seu eu sei que esses miseráveis amanhã receberão a devida recompensa... Essas abstrações imbecis é que acabam por dificultar cada vez mais as soluções que poderiam acontecer... Ninguém ama por amar, ninguém doa por doar.. temos que esquecer essa utopia, somos realmente mamíferos que raciocinam, apenas isso..não somos projetos de nada e nem de ninguém...
Vejamos uma situação:
Eu tenho dez filhos, sou rico e tenho uma mansão maravilhosa, com todo o conforto, posso pagar-lhes as melhores escolas, terão tudo do bom e do melhor, viverão num paraíso. Reúno-os quando completam uma certa idade (imaginemos que são todos da mesma idade) e digo-lhes: olhe! Agora vocês serão mandados a viver, por um determinado tempo, em um lugar horrível, onde vocês serão responsáveis pelo seu próprio sustento e terão que trabalhar suar segundo a segundo, pelo seu viver... mas não se preocupem isso é apenas um aprendizado, um crescimento pelo sofrimento, agora tem um detalhe, se não apreenderem irão para um lugar pior do que este , irão sofrer as piores torturas.., porém se aprenderem direitinho e se comportarem bem, sem reclamar da vida e fazendo tudo que o papai disser, no final serão recompensados com uma vida maravilhosa de ócio e prazer nesse paraíso...
Será que algum desses meus filhos se importará com seus rivais? Fará algo para cuidar desse lugar imundo?
A solução começa por nos livrarmos dessas crenças, essas escoras... precisamos nos conscientizar que somos apenas mamíferos que pensam, finitos, e só temos essa casa, não existe uma mansão nos esperando e nem um pai bondoso zelando por nós...esse é o começo da mudança do homem, se ele se conscientizar dessa condição, passará a respeitar esse mundo... A dar valor a essa vida... Que é a única que ele tem!