quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

LÚCIDA EMBRIAGUEZ






Sento-me na varanda
Abro uma garrafa de vinho
E bebo, saboreio cada gota.
Embriago-me de consciência...

Por mais que meu desejo
Se lance em busca do sonho
E minha boca mergulhe
No carmim desse bálsamo,
Minha mente permanece intacta,
Imune ao álcool e ao desejo.

Meu corpo cambaleia,
Já não sabe aonde vai
Nem obedece a minha vontade
Mas, minha mente tranquila,
Avalia, mede cada tropeço,
Cada descompasso,
Calcula a distância e,
Guia-me no amargo caminho,
Dessa agonia racional!


Manoel Nogueira
Fortaleza, 2010.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ESCULTURA DA ALMA



- Eu, o que sou?

Sou uma vazia pedra, rocha nua
Que o cinzel do mundo
Cava e modela, risca, constrói
E na noite, que é menor que um instante
Reforma, retoca,  reconstrói
e destrói...
Acordo pedra lisa e durmo arte do mundo
Dia após dia, Sísifo sem pedra,
Refaço a jornada e refaz-me a vida
Estrada perdida, sem passado e sem futuro
Presente correndo, fugindo...

- Eu, o que sou?

Sou o que contemplo no espelho
Da tua face inacabada.
Sou o que projeta meu coração
No vão do tempo a minha frente.
Sou o que escolhe a minha mente
E o que faz a minha mão!

Manoel N. Silva
Fortaleza/2010