terça-feira, 3 de maio de 2011

A Certeza Sensível em Hegel



É o primeiro momento da consciência natural, aqui o sujeito ainda não tem consciência de si, o conhecimento está fora, é algo exterior, independente, embora haja já uma gradativa relação que leva a consciência do objeto (Em-si) ao seu próprio saber (Para-si), que irá resultar na anulação da “coisa em si” de Kant, chegando à consciência ao reconhecimento de si mesma no objeto de seu conhecimento.
Nesse momento inicial a consciência é somente percebida separadamente, sujeito do objeto e certeza da verdade, pois ainda não há uma consciência de si mesma.  A consciência não concebe ainda seu saber e a verdade, imagina ser igual, uma relação sem mediação, uma apreensão imediata do objeto. Mas aí já há um indicio de mediação, essa separação sujeito/objeto, é, como coloca Hegel, a "diferença capital".
Nesse primeiro movimento da consciência natural, a certeza sensível tem convicção de que seu saber é rico, pois é imediato, se dá sem nenhuma mediação, ela se acha capaz de apreender qualquer coisa no espaço (isto) e no tempo (agora). No entanto, é um saber pobre para “nós” (os filósofos) que estamos reconstruindo o caminho da consciência natural, pois ao buscar a concretude, o material, ela perde-se na universalidade e se vê diante de uma diversidade onde apreendia apenas a singularidade.
Na tentativa de viabilizar seu saber, a certeza sensível primeiramente, encontra no objeto a essencialidade, é onde está o saber imediato.  Desse modo, na dimensão do tempo, facilmente se refuta a afirmativa da certeza sensível de que o agora, por exemplo, é noite, visto da impermanência de tal estado, noutro momento o agora é dia, é tarde... Assim também, acontece em relação ao espaço, há uma mudança, assim, o "isto é uma árvore", não é mais ao deslocarmo-nos e depararmo-nos com o "isto é uma casa". Portanto, na tentativa de apreender o agora e o aqui, essa consciência primária, esbarra em todos os agoras, e se encontra diante de todos os aquis. Assim dizendo, nesse primeiro momento, essa consciência natural, se vê impossibilitada de conhecer o objeto singular, pois visa a imediaticidade, o permanente, a imobilidade alegada por Parmênides e Zenão, e essa procura a leva a indeterminação, ao universal.
Contrariada neste movimento, impossibilitada de conhecer o objeto em sua essência, a consciência natural, numa ação reflexiva, volta a si mesma, ao sujeito, e acredita ser ele o essencial. No entanto, esse retorno ao “Eu”, não é ainda o momento de síntese, é apenas uma transferência, uma mera mudança de lugar, ainda é o imediato o que mede o saber. A verdade agora não está no objeto e sim em mim mesmo, no meu saber interior sobre o objeto, não há mais um tempo e espaço fora de mim, não há mais “aquilo em si”, mais sim “aquilo para mim”. Nesse segundo momento, quando é o sujeito, na sua experiência sensível, o permanente, numa clara referência a Protágoras e aos sofistas em geral, é o “sujeito como medida de todas as coisas”. É a tese do relativismo, onde apesar da contradição entre elas, as opiniões são verdadeiras. Portanto, esse movimento só leva a certeza sensível até um Eu universal, sem chegar ao singular de qualquer saber. Essa singularidade do Eu, que é a busca da certeza sensível, é anulada pelos outros  Eus, no tempo.
Ao se chegar a esse terceiro movimento, a essa síntese da identidade, onde tanto o  repouso quanto  o movimento fazem parte do Ser,  a consciência descarta essa certeza sensível, visto que nela não há uma mediação, uma relação na apreensão do imediato. Então, sem possibilidades de dar conta do singular, pois em ambos os movimentos, seja no objeto, seja no Eu, só consegue chegar à pluralidade, a indeterminação, a universalidade, ela se dirige para essa síntese, porém, ainda se agarra a imediatez da verdade, só que agora ela vai está na relação entre sujeito e objeto.   Já não há um agora imediato, ele é algo que se mantém no ser e no outro, o aqui e o agora se fundam nesse movimento em que o aparente, o falso também é.
No entanto, nesse ceticismo de Hegel não há uma negação absoluta, onde nada existe, esse nada tem determinação. O que nos remete a Fichte na sua proposição de que o “eu é determinado pelo não-eu é o não-eu é determinado pelo eu” . Também no âmbito do espaço o aqui não permanece, multiplica-se no ser/outro, já que ao apontarmos um aqui, nele estão, ao mesmo tempo, inúmeros aquis. Ao se referir a "pluralidade simples de agora”, "multiplicidade simples de aqui", revela essa relação entre opostos, e isto a certeza sensível não apreende e então é superada por si mesma.
No entanto, refazendo este caminho da certeza sensível, percebemos “nós” (filósofos), que há uma impossibilidade entre a apreensão do imediato e a experiência da certeza sensível, assim ao dizer do imediato, do singular, apenas diz do universal e destrói qualquer concretude de seu saber, visto que este se revela indeterminado, abstrato. Dessa forma, esse terceiro movimento dialético nos leva a um novo momento, suprassumida a certeza sensível, compreendida a impossibilidade de um saber imediato, a consciência se volta para a figura da percepção.
 Manoel N Silva
Bibliografia

G.W.F. HEGELFENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO, Tradução Paulo Meneses com a colaboração de José Nogueira Machado, 2ª edição, Ed. Vozes,  Petrópolis-RJ - 1992

5 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito sou estudante de filosofia e achei muito agradável a forma de exposiçao !

Manoel Noueira disse...

Obrigado!!

Anônimo disse...

Gostaria de ter tempo para apreciar seu trabalho. obrigado

Anônimo disse...

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Unknown disse...

Isso é uma meramente estética intelectual que não leva a lugar algum.