quarta-feira, 27 de abril de 2016

DE DENTRO DA CAVERNA







Gostaria de fazer uma crônica sobre o momento político que estamos passando. Sentar nessa cadeira, diante deste teclado e teclar com seriedade e honestidade sobre coisas reais, de movimentos políticos e acordos que são feitos entre diferentes, para sustentar o mínimo de coerência e governabilidade com vistas ao bem da nação. Ou ao contrário, dizer dos espúrios conchavos e dos acordos obscuros feitos nas sombras por homens vis e que devoram, solapam e surrupiam a “res” pública... Mas, não tenho fontes claras, confiáveis e sólidas que possam sustentar essa crônica, dissesse eu dos homens honestos e dos políticos que pensam no bem desse país, daqueles que querem a todo custo construir uma nação livre, rica e que abrigue cada um de seus filhos com dignidade e justiça, seria ridicularizado, satirizado e tido como louco, sonhador, socialista, comunista. Meus amigos diriam que eu sou um tolo inocente, um velho sem noção e que vive no mundo da lua...No entanto se falasse eu daqueles que usam de seus cargos e poderes para enriquecer ilicitamente, que se deixam subornar e subornam, que corrompem e se deixam corromper. Se eu dissesse daqueles que usam o nome de deus, da família, das Igrejas para referenciar seus sujos negócios e justificarem seus mais escabrosos delitos, como fora isso, dádiva paterna, glória divina, bênção de deus e ensinamentos maternais, também seria eu tratado como louco, mentiroso, maldoso, preconceituoso e outras coisas mais...
Se eu fosse aqui dizer que sou contra o Impeachment, porque não acredito que essa solução tenha qualquer eficácia no panorama político e econômico que vivemos, diriam que sou “PTista”, Petralha, etc.... Por outro lado, se dissesse que sou a favor do impeachment, porque esse governo que aí se encontra, não foi firme o suficiente para manter seus ideais e perseguir suas metas, seria tido como golpista, reacionário, antidemocrático...
Por tudo isso e muito mais, é que não posso e nem me atrevo a falar sobre realidade, visto que esta, se existe hoje no Brasil, é uma incógnita, não está acessível a alguém como eu, mero cidadão comum! Infelizmente não temos acesso a informação segura, fundamentada e honesta, nossa imprensa não nos mostra todos os fatos e aqueles fatos que mostra, são destituídos de partes que os desfiguram, decompõem e os tornam falsos. Fomos bombardeados diariamente, nos últimos meses com uma Operação Policial e Jurídica, chamada Lava-Jato, que prendeu, denunciou, fez e aconteceu, foram centenas de depoimentos, prisões e delações, não havia um só dia sequer, que a nossa imprensa não nos presenteasse com um fato novo, uma nova prisão e dezenas de fases, conduções coercitivas e um famoso japonês, que segundo as redes sociais é mais sujo que tampa de chaminé, um juiz que era a própria justiça em si mesma, Platão se vivo fosse, estaria exultante. Enfim, na minha mediana concepção mais pareciam uma daquelas séries intermináveis da TV americana sobre lei e ordem, de repente, um silêncio sepulcral... Parece que nunca houve Lava-jato, nem se sabe mais o que é corrupção... Fim! solta-se os que estavam presos e não se prende mais ninguém, esquece-se todas as delações e limpamos a bunda com as delações e as denúncias. Fazemos um Impeachment, trocamos um jogador e continuamos o jogo!
Faço o que com essas palavras? Não sei... não entendo o meu país. Não sei da minha realidade. Só sei que isso não é o real!!

Manoel N Silva

segunda-feira, 18 de abril de 2016

CRÔNICA DO ABSURDO II



Meu olhar é sempre um olhar mais amplo, abrange sempre a maior paisagem possível, não consigo me ater a uma pessoa, uma situação, um objeto, uma cena, uma sala... enfim, devo parecer aos que me olham e nos lugares onde estou, que não presto atenção as pessoas, ou as coisas, e que não me interesso por elas ou pelo que dizem. Mas, ao contrário, sempre presto atenção a tudo, a questão é que meu foco é sempre o todo, não consigo ver protagonismo e nem individualidade. No meu apreender da realidade, esta é sempre composta de tramas complexas, de relações inúmeras e imbricadas. Uma malha de pequenos gestos e falas, atitudes e ações, cujo sentido só existe em seu conjunto, como um organismo que se completa em suas partes. Muito embora essas partes parecem distintas, desligadas e sem nenhuma razão entre si, meu olhar não se conforma e passeia ao redor em busca dessas conexões, até que, como num quebra-cabeças, cada peça vai se encaixando e formando a paisagem geral, revelando um sentido, que nem as partes, muitas vezes, descobrem.
Talvez seja mera pretensão, mas, o fato é que, quase sempre o que eu vejo, cedo ou tarde se revela também aos outros, se não totalmente mas em agrupamentos maiores, mais abrangentes e conectando várias partes dantes “dispersas”. Essa minha percepção holística sempre foi-me de grande valia, pois me possibilita transitar entre essas partes com a segurança de quem sabe onde ir e o que fazer, ás vezes penso que essa posição é quase divina, outras que é também maldita, visto que é perigosa e decepcionante.  
Vejam bem como funciona, é quase uma visão de futuro, visto que certas ligações, a maioria, só vão ser percebidas pelas partes, depois de um tempo, quando as peças vão se encontrando, tornando claras essas configurações.  É muito triste quando encontro alguém que tem certeza de que algo vai acontecer e, agarrada a isso, aposta tudo nessa certeza e, eu, já vendo as conexões compreendo o erro e nada posso fazer, visto que jamais seria acreditado e com razão, pois dito naquele momento, pareceria loucura.
É também verdade que um bom número de vezes eu também perco as ligações e me deparo com um cenário que eu jamais poderia imaginar aconteceria, meu consolo é que compreendo isso, aceito essa minha deficiência de percepção, busco olhar mais longe, vasculhar ao redor, sempre que me encontro preso em uma visão dispersa, vazia de sentido e rumo.
Mas, devo dizer que dentre as tantas vezes em que assim me senti, sem ser capaz de perceber o sentido do todo, sem compreender a razão do momento, foi neste processo de impedimento, nesses instante político que vivemos, que eu estou me sentido desconectado e sem visão sequer de uma parte maior que esta que se me apresenta imediatamente, sem possibilidade de previsão ou apreensão. É uma realidade que se apresenta pronta, sem previas ligações e consequentes que apontem o sentido, a razão, a racionalidade, nela contida!
Olho ao meu redor, vasculho todos os cantos, busco as pontas, os fios, as linhas, os arremates e nada...só me deparo com o irracional, o sem sentido, o absurdo. Um vazio kafkiano, uma irracionalidade total, estou me sentindo o próprio Agrimensor K., na trama do livro “O Castelo” ou Joseph K. no “O Processo” é algo angustiante e nunca tinha sentido antes. É como jogar pedras e elas flutuarem ou está vivendo em um daqueles pesadelos em que você corre, corre e não sai do lugar... Me sinto estranho, estrangeiro na minha própria casa, conheço todos os lugares, cada objeto, cada canto, cada quarto, cada aranha, cada teia por elas tecidas, os insetos, as lagartixas, o cheiro das coisas, a luminosidade de cada hora, o som das portas que se abrem ou se fecham, mas nada faz sentido, por mais  compreenda como tudo  deveria se encaixar, que preveja como vai acontecer, o instante que se segue é uma total negação dessa visão, o que me chega é uma fotografia desconhecida, os atores são os mesmos, a trama é a mesma, mas o resultado é totalmente absurdo.


Manoel Nogueira 

domingo, 17 de abril de 2016

NÃO AO IMPEDIMENTO. SIM A DEMOCRACIA!



“Nada que acontecerá lá em cima hoje irá me afetar. Tenho minha profissão, meus filhos e minha vida que praticamente independem de presidentes do Brasil, da câmara ou do senado.”

Essa frase deve ter sido proferida por um daqueles perfeitos bobos que pensam que são realmente ricos o suficiente para não dependerem de políticas públicas, do Estado, das leis, etc.... enfim, alguém digno de pena e nada mais.
A diferença entre pessoas assim e a maioria de nós, é que apesar de não sabermos exatamente o que vai acontecer, temos noção do que pode vir a acontecer, e o que é mais importante, pensamos não em nós simplesmente, e sim nas gerações futuras, filhos, netos, etc. E mesmo no o entregador de água, no empregado do mercadinho, no garçom que nos serve na churrascaria da esquina...é isso!!
O governante brasileiro foi eleito na realidade, um governo sem maioria (como aconteceu com todos depois da ditadura), dessa forma precisa compor uma base parlamentar no Congresso. Até aí, tudo bem, não importa muito, é normal e assim deve ser. Porém, o Congresso é espúrio e está permeado de egoístas, parlamentares de legendas de aluguel, partidos nanicos, que barganham apoio em troca de favores pessoais e propinas.
Quem se interessa por política e relações econômicas e sociais, sabe que este estado de coisas não tem nenhuma relação com a competência ou incompetência da presidente e, sim, com a conjuntura política que obriga o governo a fazer alianças, coalizões para garantir a governabilidade. Em outras palavras, o sistema eleitoral possibilita que um governo seja eleito com uma minoria no Congresso, obrigando-o a fazer conchavos. O que precisa mudar não é a presidente é o processo eleitoral. Não confundamos parlamentarismo com presidencialismo. Não se pode ter “recall” em regimes presidencialistas. Se quisermos verdadeira mudança devemos ir para as ruas pedir reforma política profunda e não Impeachment!
Não existe ninguém puro em política, principalmente em uma política como a nossa, com vícios milenares e corrupção enraizada nas mais diversas camadas do serviço público. Por isso mesmo é que quero mudanças reais e não simples troca de pessoas. Eu também não estou satisfeito com as políticas do atual governo, mas, nenhum outro partido se me apresenta com propostas melhores. O grupo de políticos que se ajuntam em torno dessa proposta de impedimento da presidente, envergonha até certos criminosos, imaginem o nojo que causam na sociedade brasileira!
Dessa forma, não discuto pessoas. Se prestarmos atenção constataremos que não são pessoas, indivíduos que provocam situações como essas. Tolo é quem acredita que exista um culpado. Acreditar que o problema é de indivíduos, que basta eleger um culpado e tudo bem, é um raciocínio infantil, que visa apenas a mascarar a realidade da política brasileira e de suas relações com empresários e imprensa.
Não quero trocar de presidente, quero apenas cumprir o que a nossa legislação e constituição determina. Constituição essa que eu aderi, que aceito como guia dos meus atos perante a sociedade brasileira. Não é porque elegemos mal um governo que devemos jogar fora as leis que elegemos para ser a nossa guia legal, para pautar nossa convivência.
O que estão chamando de exercitar a democracia, nada mais é que o contrário disso. Desejam-se, por motivos que não são reais, suposições, suspeitas, depor um governo legitimamente eleito dentro das regras do jogo político e eleitoral vigentes. Isso sim é ferir a democracia, ir contra a Constituição e as leis vigentes. Isso é um exercício de excesso, de extrapolação da legalidade e não de democracia.
Eu sou antes de tudo, um cidadão consciente. Portanto, não me sujeito a sistemas, busco-os modificar ou extinguir.  Aprendi desde muito cedo que não existem inocentes e nem culpados, na sua forma individual, no âmbito do pessoal e particular. Qualquer sistema para funcionar necessita de um apoio coletivo, mesmo que esse apoio seja conseguido de forma enganosa, manipulando e deturpando. Para mudar não é simplesmente mudando as pessoas lá de cima, é preciso mudar as pessoas aqui na base, conscientizar a sociedade que nada é gratuito e que nenhum político vai ser o salvador, nenhum juiz, nenhum partido, nenhuma corte ou instituição. Só se muda quando o povo muda.

Manoel Nogueira.


quarta-feira, 13 de abril de 2016

KIM KATAGUIRI




Meu caro e desnorteado Kim, quero crer que a sua visão da Escola Publica se restrinja ao noticiário policial, cujos fatos são restritos a casos isolados e pontuais ou, talvez e, quero acreditar que não, você seja um daqueles que usam de generalizações para justificar sua falta de conhecimento das causas as quais se dispõe a debater.
De qualquer maneira, quero lhe pedir que da próxima vez que se sentir sem chão, sem base argumentativa para desenvolver ou responder questões colocadas, seja honesto, admita sua ignorância diante do fato e não tente se pavonear sacando de frases generalizantes e cliches sem nenhum efeito real. Por outro lado, já que você provavelmente sabe antecipadamente com quem vai debater e os assuntos que serão abordados, procure ler, acumular informações que possam lhe esclarecer e norteá-lo um pouco quanto a estes assuntos, para que você não corra o risco de fazer o papelão que fez diante das câmeras ao falar de um assunto tão importante e que de modo algum e por nenhum motivo, pode ser tratado tão levianamente e de maneira tão rasa como você o tratou.
Tenho certeza, caro Kim, que nenhum de meus alunos da Escola Publica, teria sido tão raso quanto você. E, posso garantir-lhe, as Escolas em que leciono, nunca foram e nunca serão "centros de recrutamento de traficantes"!!


Manoel Nogueira

CRÔNICA DO ABSURDO





Desde muito cedo aprendi a questionar valores e regras, não tive uma formação religiosa marcante, capaz de imprimir em mim, marcas profundas ou me fazer ter uma crença cega, inquestionável. Aliás, ao contrário, não tenho crenças. Pauto minha caminhada nesse mundo, respeitando as leis e as forças naturais. Adoto como norte a premissa de que o ser humano deve ser o guia de si mesmo.
Não, não é uma crença moderna ou um humanismo pós-moderno e, nem muito menos um materialismo contemporâneo. Não tenho uma fé inabalável na ciência e na razão humana. Mas é uma caminhada lúcida, coerente, dentro das possibilidades humanas, sem delírios esotéricos ou científicos. Não vivo uma ficção e nem um romance, vivo a crônica da vida como ela se me apresenta, sem deuses com poderes fantásticos e sem milagres científicos.
Tenho o homem como referência e molde, não atribuo a nós, seres humanos, nenhuma essência ou substância eterna, inata, somos fruto de nossas experiências e desejos. E, como tal, somos falhos, egoístas, interesseiros e tendemos sempre, como diria Agostinho de Hipona, para o mal.
Sim, cito aqui um religioso, mas, um religioso que se converteu, que se disse “iluminado” por uma graça divina. Ele não nasceu pleno de fé.  Antes, como eu, Agostinho questionava as regras e os valores que lhe permeavam o entorno e talvez, como eu, tenha sofrido ao se deparar com a constatação de que a vida é realmente sem sentido, que não haveria aquela referência perfeita e nem a essência divina que lhe faria mover-se para um destino já traçado e escrito, como afirmava sua mãe.
No entanto, é justamente aí que aparece a grande diferença que me afasta dele, ele tem uma influência religiosa forte, firme, sufocante e, o determinante em sua trajetória, a super protetora Mônica, sua incansável mãe, que lhe azucrina noite e dia com o apelo da fé. Frágil em suas convicções, e também em suas emoções e determinações, Agostinho deseja sentido, precisa disso e sucumbe, abraçando cegamente a fé de sua mãe.
Mas, deixando de lado essas elucubrações filosóficas e meditativas, o que realmente quero dizer é que, olhando ao meu redor, me vem um rascunho de uma crônica que me faz tremer, e não é trocadilho, o fundamentalismo religioso de grande parte das autoridades constituídas, a fragilidade emocional e intelectual da maioria das pessoas, uma imprensa comprometida com uma parcela privilegiada da população que detém a maior parte do poder econômico dessa nação, instituições viciadas e demagogas que se valem de retóricos discursos moralistas, para justificar atos e ações ilegais, autoridades das mais altas posições que se mostram,  notoriamente corruptas, rabiscam a minha frente, esta crônica  dantesca, que mais se assemelha a uma obra de Kafka ou Camus!


Manoel Nogueira

terça-feira, 12 de abril de 2016

SERIA CÔMICO, SE TRÁGICO NÃO FOSSE!!

     




      Só posso pensar que estou sonhando. Devo ser parte de uma história de ficção, um filme ou uma peça de teatro... Com certeza sou um personagem de Sófocles, em uma de suas tragédias ainda inédita. O que acontece hoje nesse país, não pode ser real! deve ser parte dessa perfeita tragédia jamais antes imaginada, onde o absurdo mais improvável pode acontecer e acontece! 

      Numa total inversão do que seja a justiça, o ladrão é juiz e o justo réu, e, aqueles que acusam e se fazem jurados, são os que dantes assaltavam e saqueavam o erário público... Como numa maldição mitológica, esses falsos deuses irados e ofendidos em sua vã vaidade, parecem querer a mais louca das vinganças: fizeram dos homens de bem, bestas sem juízo, pois que estes defendem loucamente aqueles que lhes ferem a carne e a alma. O sagrado é o manto que veste os corruptos e fazem da fé a espada que fere e mata o inocente...

    Assisto atônito a queima de uma Joana Darc moderna, numa fogueira virtual. Fogueira essa alimentada pelo fogo fátuo de uma imprensa parcial, fundada sobre as bases de uma ditadura militar, que matou, torturou e expulsou os filhos dessa pátria.

      Outrossim, penso que deva ser a mais louca das comédias de Aristófanes, e alegro-me que assim seja, pois se for e, torço para que seja, não passará de mera peça que apenas servirá ao riso e ao deboche, alegrará meu povo, já tão sofrido e calejado: marcado a ferro e a fogo pelas mãos desses carrascos, que hoje se fazem personagens tragicômicos desse melodrama épico!!


Manoel Nogueira