sexta-feira, 20 de maio de 2016

SOBRE A ATUAÇÃO DOS FILÓSOFOS NO ATUAL MOMENTO POLÍTICO DO PAÍS.






Eu não consigo entender e pensar a Filosofia sem uma atuação intensa e significativa no ambiente acadêmico e fora dele. A Filosofia quando vem a cabeça das pessoas não vem como introspecção e sim como reflexão. E, como tal, não pode dissociar-se do debate, da discussão e do confronto dialético das ideias.
Não é uma questão de política, é que é da "natureza" da Filosofia, desde os pré-socráticos, essa atuação, esse protagonismo do filósofo. O filósofo é o interprete da realidade, aquele que dissipa a fumaça da ignorância e vai a Ágora, mostrar com seu discurso, essa realidade, tal qual Sócrates. Ou quebra as amarras e saí da Caverna e se encontra com o real e o apreende, voltando para libertar sua gente, cumprindo a sua missão platônica.
A Filosofia só se recolheu no período helenístico, quando surgiram as filosofias introspectivas, pessoais e distanciadas da polis, como o caso do epicurismo, em todos os outros períodos históricos da filosofia, em todas as suas correntes, ela se dá no discurso, na atuação, no debate público, na busca mediada dos problemas gerais da humanidade.
Não é o debate político que se cobra do filosofo, é o debate simplesmente. O debate como a práxis filosófica. E isso, necessariamente não é filosofia política, mas, não há como separá-las, a política é base fundamental nas relações humanas, portanto, sendo a filosofia a base da compreensão humana da realidade, elas se irmanam simbioticamente em suas atuações.
Tudo bem, toda atuação profissional é sim política e, é ato, ação, práxis. Mas no caso especifico do filósofo, ele não é um simples profissional, um técnico que vai contribuir com a sua ação apenas se dedicando ao estudo dessa ou daquela área da filosofia, a práxis filosófica é o discurso, o debate das ideias. A problematização e a resposta a esses problemas. É isso que se espera de um filósofo, seja qual for a sua área de estudo. Essa é a visão do povo do que seja um filósofo e é isso que ele espera dele. Ou seja, que ele pelo menos vá ao corredor, ao jardim, ao pátio... Ele tem que sair da sala, da biblioteca, do quarto de estudos!!!
Não é que eu defenda necessariamente uma atuação política do filosofo e nem muito menos coloco o ser humano como necessariamente um ser político. O que coloco na minha "tese" é simplesmente uma atuação do filosofo na sociedade em que ele se insere, e como tal, essa atuação não é necessariamente na área política, apesar de que, fatalmente, ela será um ato político.
Portanto, os problemas mais urgentes e não efêmeros, só podem ser pensados com uma práxis filosófica, e assim se dando, necessariamente o filosofo terá uma ação política. Em um momento de crise como este em que vivemos, a sociedade clama pela atuação da filosofia. Nesse momento é que o filosofo tem que atuar politicamente, ele precisa sair da caverna e ferir os olhos com a luz da realidade...
Porque é que os alunos cobram tanto a atuação política do filosofo e, provavelmente isso se refira mais especificamente aos professores? A meu ver, a maioria dos professores de filosofia, não atua fora da sala, no âmbito dos corredores, do pátio, da cantina, etc...Eles restringem a sua atuação a eventos formais, onde os alunos, sedentos de debates e ação, não podem livremente colocar suas ideias. Os professores acreditam que não precisam ir além dos seus deveres curriculares, suas palestras e seus eventos formais. E até concordo que estão certos sob seus pontos de visão.
No entanto, a imagem que os alunos têm da filosofia não é esta. A filosofia no mundo dos alunos é aquela que se mostram nos manuais de filosofia do ensino médio. Romântica, idealista e a mãe de todas as ciências.
A história da filosofia que é contada no EM está repleta desse idealismo e desse protagonismo político,  Montesquieu foi conselheiro do parlamento de sua cidade... Aristóteles foi conselheiro de Alexandre, além de o seu próprio modo de ensinar já atenda a reivindicação dos alunos de hoje; Maquiavel nem precisa falar, Locke foi ministro de William III de Orange...etc. Mas, não é uma questão de militância  política simplesmente, é uma questão de viver a realidade e usar essas ferramentas que são bem mais "afiadas", nas mãos dos filósofos. Tal como nos fala a crítica platônica ao sofismo, o filosofo tem a capacidade de esclarecer sem enganar, sem precisar sofismar.
Não que eu seja contra os Sofistas, muito pelo contrário, apenas uso a teoria a minha disposição para fazer-me entender em minhas colocações. Eu não vejo os sofistas como os viu Platão ou Aristóteles. Na minha visão e análise do que me chegou deles, eles eram esses filósofos que os alunos desejam.
Concluo esse pequeno desabafo dizendo que não quero lhes convencer a mudar e nem impor minhas convicções, apenas debato essas ideias que constroem meu arcabouço intelectual, no interesse do conhecimento que posso adquirir. Nada me impede que amanhã eu mude de posição e reveja esses conceitos, e quem sabe pode até ser uma frase qualquer, uma colocação trivial que alguém me faça, a causa dessa mudança. Como livre pensador que sou, estou sempre aberto!
Mas, me estenderei um pouco mais para dizer que uma coisa é certa, a situação está feia por aqui, temos que agir e reagir. O discurso da tolerância, da isenção, da conciliação serve, nesses casos, apenas para mascarar as reais intenções daqueles que desejam, à custa de uma suposta liberdade de expressão, disseminar o preconceito, o racismo, a opressão das minorias e sufocar os gritos dos injustiçados. Precisamos sim, sair desse marasmo político, atuar concretamente nas ruas, nas escolas, nas fabricas e ambientes públicos. Precisamos nos contrapor a onda reacionária que ensaia se tornar maremoto.
Por isso digo a esses alunos que anseiam por uma filosofia que seja o grito dos sem voz e vez: Estamos tentando, mas a resistência é grande, afinal são mais de trinta anos que a Filosofia ficou acorrentada no âmbito da academia, presa as pesquisas, aos estudos solitários, longe da praça pública, no máximo ia ao auditório...demora mostrar que a Filosofia é sinônimo de autonomia, liberdade, abertura de horizontes, pluralidade de ideias.

Manoel Nogueira da Silva

quinta-feira, 12 de maio de 2016

12 de maio de 2016, o dia em que a esperança tombou, face a farsa de um impeachment sem crime.



                                                           "Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente. Esta farsa  jurídica da qual estou sendo alvo, é que nunca aceitei chantagem de qualquer natureza. Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada por ter feito justamente tudo que a lei me autorizava fazer", 
Dilma Rousseff

É com profunda tristeza que, nesta manhã, recebo a notícia da abertura de processo de impeachment contra a Presidente Dilma.  Aliado a esse sentimento de tristeza, está a revolta e a indignação de constatar, que após 31 anos do término da Ditadura Militar, e 27 anos da promulgação da Constituição Cidadã, vejo meu país mergulhar em um caminho incerto e nebuloso, um governo que nasce de parto prematuro, gestado em uma barriga que já deu à luz a tantas falcatruas. Um governo sem ideal, sem ideologia, sem programa e sem partido, e pautado somente em interesses corporativos e particulares.
Não sou um ferrenho defensor do governo Dilma, mas, sou um ferrenho defensor dos avanços sociais indiscutivelmente feitos por este e pelo governo anterior. Meu medo e minha revolta é porque quando olho para os padrinhos deste "bebê", reconheço neles o neoliberalismo, a privatização, o descaso com a educação, o viés conservador e fundamentalista, o corporativismo, o elitismo econômico e regional, o preconceito contra as minorias e a total falta de apreço as reivindicações trabalhistas.
Eu não vejo a possibilidade de alianças positivas do PMDB com PSDB e DEM, e com os outros partidos de aluguel. Infelizmente vejo tempos negros para a educação regular e para o ensino superior. Vão priorizar o profissionalizante e sucatear as escolas públicas, aliás, sucatear não, destruir, as universidades públicas e assim, promoverem a privatização, como ocorreu nos anos 80 e 90, quando houve um aumento significativo de escolas particulares no ensino fundamental e médio, relegando a Escola Pública aquilo que hoje ela é.
Já vimos os cortes na Educação pública que foram exigências do parlamento para dar um mínimo de andamento aos projetos e medidas enviadas ao congresso. Uma tentativa de o Governo Dilma barrar as famosas pautas bombas promovidas pelo sr. Cunha. Não acreditemos nos argumentos falaciosos   dos deputados e senadores em seus discursos públicos, que dizem que a crise e os cortes são por culpa das pedaladas e dos créditos suplementares. Essa política foi adotada em virtude da paralisação imposta ao governo pelo parlamento no primeiro ano desse governo. Portanto o que nos espera será um sufoco enorme para as classes mais baixas, o pequeno e microempresário e o trabalhador autônomo!
Espero que o PT tenha a humildade de reconhecer os erros cometidos, reavaliar suas metas e seus princípios, alinhar-se a esquerda e talvez unidos (as esquerdas) possam frustrar os planos dessa elite que novamente se arvora do poder no Brasil de forma ilegítima e covarde, nas eleições de 2018. Brizola tinha toda razão quando pregava a união das esquerdas e combatia ferozmente o monopólio da comunicação no Brasil, principalmente as organizações Globo. E não se enganem aqueles que pensam que tiveram algum peso nas decisões quando foram as ruas gritar Fora Dilma, ou Fica Dilma. Essa jogada foi decidida nos gabinetes, nos escritórios, nas altas esferas do poder político e econômico desse país, locais onde o povo jamais teve ou terá acesso. Além do que, não se muda um jogo mudando apenas as peças do tabuleiro. É preciso mudar os jogadores e mudar as regras do jogo. Na realidade o que aconteceu foi o descarte do PT e dos aliados mais à esquerda, detentores de um discurso voltado para minorias e políticas sociais de inclusão.
Muitos dos críticos dos governos petistas (tanto opositores quanto apoiadores) se ancoram na falta de "pulso" dos governantes, quando na realidade o que aconteceu neles foi o excesso de democracia (eu não acho ruim, quanto mais democrático melhor), uma posição sempre de negociar e fazer acordo e concessões. Isso assustou aquela classe conservadora, acostumada a impor suas decisões e desejos, por isso a união dessas forças conservadoras, possibilitou esse impedimento imoral, usando exatamente esses peões que polarizam nas ruas e nos ambientes em que deveria haver consenso, visto que os interesses são os mesmos.
A tática desses grupos dominantes é a de construir barreiras onde deveriam existir pontes. Dividir as pessoas com interesses sociais, econômicos e políticos comuns, dando ênfase nos interesses particulares de cada um deles ou de pequenos grupos. Por outro lado, universalizam o particular para gerar uma falsa união, como por exemplos as questões éticas e morais, religiosas. Dando a entender que quem não comunga daqueles preceitos é inimigo.
Não que a política seja um lugar de verdades pétreas. Não, os discursos não podem ser socráticos, ideais, são sofistas, eles dão conta do real nas relações humanas, e estas estão permeadas de verdades, verdades diversas, humanas e opositoras na sua grande maioria. Um discurso político é uma tentativa de conciliar verdades opostas, humanas e não divinas, onde as relações são pautadas pela perfeição. A política é da "cidade dos homens" e não da "cidade de deus", como nos diz Agostinho... e nos joga na cara Maquiavel.
Acreditar que existe a possibilidade de unificar os discursos políticos e tornarem homogêneas as verdades humanas é acreditar em milagres. Quando nos excluímos do jogo político, acreditamos que estamos isentos e imunes, puros. Tolo engano. Nessa nossa pretensa isenção e superioridade tornamo-nos peões, tolos úteis e descartáveis que possibilitam os movimentos dos cavalos e bispos, torres, rainhas e reis. Por isso a cegueira de grande parte da população. Não enxergam a contradição que é dizer-se contra a corrupção e apoiar esse estado de coisas que possibilitou o parto político de um governo Temer.
Para o bem ou para o mal, nos resta agora cuidar da arte da política, promover o debate de ideias e tentativas de compreensão da realidade que nos cerca. Discutir o momento em que vivemos e os fatos e atos que se desenrolam, ajudar a solidificar as posições ideológicas, os princípios e revigorar os desejos de mudança e lutas por melhores dias, e consequentemente, reforçar a participação consciente nos movimentos em que nos engajamos com vistas a isso. Por outro lado, não podemos caçar culpados personas. Não existem culpados no âmbito do pessoal, individual, a culpa é de um sistema, de uma conjuntura mundial, que expurga da esfera das decisões aqueles que mais sofrem as consequências dela.
Na minha visão política o que deve nos guiar é o discurso, a conversação, a discussão e o entendimento entre as partes conflitantes. O que eu critico é exatamente essa polaridade que é colocada e que grande parte compra na vã esperança de que a solução dos problemas seja a eliminação do contrário, do opositor, quando na realidade em um sistema democrático, isso não é possível, e o que sustenta a democracia são os acordos e não os conflitos.
No entanto, apesar de todas as incertezas e das sombras que ocultam os caminhos, vejo aí uma oportunidade para que finalmente as esquerdas escutem o antigo conselho de Brizola, unam-se e finalmente formem um bloco coeso e forte, capaz de enfrentar essa corja de criminosos reacionários e fundamentalistas que agora tomam de assalto o poder no Brasil.

Manoel N Silva.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

SOBRE OS PROCESSOS DITOS INCONSCIENTES OU DETERMINADOS







A incerteza do conhecimento de nós mesmos, vem dessa ilusão de que somos algo mais do que seres racionais, animais que pensam e interagem uns com os outros, satisfazendo ou não nossos instintos e desejos.
Quando satisfazemos esses instintos e desejos, tudo bem, compreendemo-nos e aceitamo-nos, mas, quando nos deparamos com o outro, com o mundo e isso impede essa satisfação, aí começam os nossos problemas de identidade, daí nascem nossos desgostos, sofrimentos, incertezas...etc. Vem então o medo, o desespero, o encontro com o sem sentido, com a opacidade da vida, então, a tentativa desesperada de justificar isso:  alguns recorrem a fé, a transcendência. Outros mais racionais, buscam instâncias desconhecidas, Id, Ego, Superego, consciente coletivo, inconsciente, etc....
Tudo bem, entendo isso e sou capaz de aceitar esses recursos, afinal, isso os fazem viverem e serem felizes. Mas, no meu caso, vejo da seguinte forma: Ao me deparar com o outro e com essa absurdez da existência, busquei me entender e não culpar o outro ou buscar justificação fora de mim e do mundo. Compreendi que faço coisas das quais não tenho consciência do porquê, mas, refletindo sobre isso, compreendi que tenho consciência disso, ou seja, essas coisas que faço e que não encontro explicação não estão fora de mim e nem são desconhecidas de mim. Muito pelo contrário, elas são constitutivas de mim mesmo. Elas não foram sufocadas ou reprimidas, "jogadas" em um local ou imputadas por um deus, ou frutos de uma consciência coletiva além de mim e da minha consciência, que afinal, é tudo que somos.
Não. Essas coisas são o resultado da construção dessa consciência, cada processo emocional que experimentei foi plenamente consciente, tanto quando satisfeito em meus desejos quanto quando não e, essas experiências negativas foram construindo a resistência necessária para que eu fosse em frente. Resistências, defesas prontas, a minha consciência não mais necessita tomar conhecimento disso, essas ações são automáticas agora, meu aparato intelectual segue em frente e esse núcleo que chamamos de "eu", "sujeito" descarta naturalmente a lembrança do processo construtivo. Por isso fazemos coisas que não sabemos porque, ou melhor, fazemos coisas que não mais precisamos saber porque, visto que já é constitutivo de nós mesmos.

Manoel Nogueira