sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

SEGUINDO A ILUSÃO....

Chegamos a um ponto em que não existem ideologias ou sistemas que nos apontem um horizonte... Toda a esperança socialista se desfaz na maleabilidade do capitalismo. A luta de classes foi sufocada, enfiada goela abaixo pela cultura do individualismo, não existe a classe A ou C ou B, o que existe é um desejo de ser bem sucedido... Existe um protótipo de ser humano, um modelo que é rico, ecológico, educado, sem preconceitos, romântico e agradável, um ser perfeito harmoniosamente projetado, para ser um exemplo a seguir, uma meta a alcançar... Este ser ilusório é o ideal da humanidade, este ser substitui a historia, o social e o econômico, desmonta qualquer tentativa de conscientização da massa, pois é ele, um produto da própria massa. É do reflexo opaco dessa maioria que surgiu este modelo ideal, unânime e perfeito...
Iludem-se os intelectuais e os pensadores, que teimam em considerar que essa grande maioria da humanidade está receptiva a uma conscientização, a uma politização, uma socialização... Jogam palavras ao vento os idealistas, os politizados, os conscientes, não há mais espaço para o senso crítico, ou melhor, é descartável o senso crítico, pois a maioria da humanidade é uma sombra de si mesma, sem necessidade de sentido político, social ou histórico, ela se faz em si mesma e, reflete nos sistemas políticos essa opacidade calma que produz a sua necessidade e ao mesmo tempo lhe sacia...
Não há como penetrar nesta maioria, ela é como areia movediça absorve tudo que lhe chega, não adianta debater-se ou tentar fugir, não há saída... Tudo retorna a essa maioria, é nela e por ela que toda economia, política, ideologia, crença, é forjada... Qualquer tentativa de ação contra ela é inútil, perde-se no monótono som de sua voz, é atropelado pelo caminhar cadenciado e firme, impassível, incansável, imperturbável... Numa marcha que não leva a lugar nenhuma e nem sai de lugar nenhum apenas se move indefinidamente, sem fim, sem objetivo... A essa maioria não importa a miséria, a fome, a violência, esses são seus dejetos e ao mesmo tempo sua sustentação, um círculo antropofágico em que se alimenta da própria carne, dos seus próprios filhos...
Vejo filósofos que pretendem forjar meios para "evoluir" a maioria, porém a maioria não precisa evoluir, ele já evoluiu tudo que precisava para sobreviver na mediocridade em que se concebe. Ela não precisa de um ideal, ela precisa apenas do real possível para se perpetuar medianamente impassível e firme. Ela não se agita sob ideais revolucionários ou caminha cega em busca de abrigo e guia de uma minoria intelectualizada, não há mais a possibilidade de forjar uma sociedade, pois já não existe sociedade como concebe a teoria social, apenas existe essa sociedade ideal, projetada nas análises da sociologia, da política e da economia, como ciências da simulação e não como realidade a ser aplicada...
Chegamos ao fim da capacidade de movimento coletivo da humanidade, nada mais é possível produzir, em termos de ideologias e conhecimento da realidade, que possa estimular comover essa massa para acordá-la deste estado passivo, não é mais possível a doutrina, o ensinamento, a iluminação da humanidade em sua mais pura tradução: massa, uniforme e disforme.
E agora? Não existe mais saída e nem esperança para a humanidade? Está condenada a viver a “sombra dessa maioria silenciosa” como nos mostra Baudrillard?
É nesse ponto que entra a ilusão a ser seguida... Se a massa não responde a estímulos reais, se mostra imune ao sofrimento, a miséria, a degradação... Talvez seja na ilusão que se transforme a massa em receptor, em ator e criador... Faça este ser sem rosto e sem forma, transmutar-se em sociedade participante, atuante e consciente, política e socialmente.
Mas, que ilusão é essa? Diante de tanta coisa tão significante, forte, verdadeira e chocante, qual a ilusão que pode produzir a movimentação dessa massa? Onde estaria escondida essa mágica solução, esse poder sobrenatural capaz de quebrar o equilíbrio titânico da maioria da humanidade?
Parece impossível, e uma balela essa afirmação. Mas, existe sim essa força, tão poderosa e devastadora, quanto ou mais que a inércia da massa. Ela é também uma criação desta maioria, é uma força inversa que se rebela contra essa massa, um poder também sem sentido e sem objetivo, gerado na implosão do sentido político, social e religioso. Ele nasce da indiferença muda da massa, e cresce assustadoramente no seio dela, transformando-se no seu veneno e na sua cura! Como um ser mitológico que encerra o bem e o mal em si mesmo, essa força também sem face e sem rosto é a ilusão que pode nos redimir deste trágico impasse...
O TERROR, essa voz que quebra o silêncio da massa, capaz de levantar ondas na superfície tranquila deste lago e repercutir nas suas margens, espalhando-se como um tsunami de medo por todo esse corpo coletivo e silencioso. Esse ato sem sentido, pois sendo a massa o alvo inocente de suas ações, não fazem sentido estas ações! Não existe objetivo real no terror, pois, se não há mais a luta de classes, se já não existe a ideologia política, ou religiosa e nem mesmo social, como fim a alcançar, aonde  leva destruir-se a si mesmo, atentar contra sua própria vida? Nenhum lugar...
 Mas, esse fenômeno violento e despropositado é, a meu ver, a esperança de uma injeção de sentido na massa... Apenas uma comoção profunda e desprovida de qualquer propósito, fim ou sentido, pode ser a cura para a apatia, a inércia social da massa, para ausência de respostas.
Não há na ação terrorista,  qualquer ideologia, religiosidade, política, confronto social, choque cultural, étnico ou moral... Ele apenas simula uma dessas razões para justificar suas ações, porém as vitimas dessas ações desmentem o sentido e desmascaram a simulação, não há sentido!! E, talvez essa overdose de seu próprio veneno, a indiferença, possa sacudir esse corpo adormecido, entorpecido e mudar o rumo, o caminho da humanidade.
Mas, como tudo essa visão é uma ilusão, um sonho de um homem, que se acha consciente o suficiente para enxergar o que a maioria não enxerga! Que tem a pretensão de perceber o que uma imensa maioria não percebe... Mas, tenho certeza que se existe solução para a humanidade, essa solução é seguir essa ilusão e, iluminar a "sombra silenciosa da maioria", que nos verbaliza Baudrillard...!


Manoel N Silva.

Reflexão após a leitura  do Livro “A Sombra das Maiorias Silenciosas”,
Jean Baudrillard, ed. Brasiliense, 1985.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

AVESSO


“ Avesso”




Espelho da alma...


Reflexo?


Miragem?




O rosto e a espera...


Passeio?


Viagem?




Espelho e espera...


Reflexo?


Viagem?




O rosto da alma?


Passeio...


Miragem...




Reflexo da alma!


Miragem no espelho!


Espera... Passeio... Viagem!




Espelho...


Miragem da alma




Espera...


Passeio e viagem




Alma...


Espelho...


Miragem...

CRER


"Crer"

Ir além do ser

Absorver a essência do cosmo

Transcender o universo

Em um reverso do nascer.

Ver no que não é

A verdade que existe

E resiste no meu ver.

Subtrair do nada o tudo,

Multiplicar pelo que restou,

O vazio da solidão humana.

E, ainda assim,

Contra todas as leis,

Duvidar do obvio.

Na certeza do infinito

Parir um mito

Que me faça sentido

Viver e não ser.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

DROGAS



Não faço uso de drogas...mas não considero o consumidor de drogas responsável pela violência, e nem, co-responsável, considero-o vítima...é incrível como a sociedade aceita e encara o uso de álcool e fumo, drogas muitas vezes mais nocivas que as ilegais. o que vejo é uma política de repressão ao uso e não ao tráfico, talvez seja esse o erro, ou ainda, uma política de combate aos efeitos e não as causas. Em toda história da humanidade sempre houve referencias ao uso de drogas e sempre ligadas a cura, esoterismo, religiosidade...é cultural o uso de drogas. a criminalização das drogas foram decorrentes de usos indevidos e sintetização dessas substâncias encontradas na natureza, portanto é natural o uso de drogas...até os anos 30 as drogas não tinham esse caráter criminoso, a partir da 2ª Guerra, houve um avanço tecnológico da medicina e o uso indiscriminado de drogas pelos governos criou o tráfico e a criminalização da droga. No vietnam a heroína foi usada largamente nos soldados americanos, abusaram também da morfina, gerando dependência e procura, isso levou ao comércio ilegal dessas substancias e o mercado consumidor criado na guerra expandiu-se após o fim, o crime organizado, no mundo todo sentiu a potencialidade deste investimento, ao verem o grau de dependência dos ex-soldados do vietnam, eles literalmente matavam para conseguir a droga. Os países latinos, principalmente a colômbia e a bolívia, que tinham abundantemente a matéria prima e a china com o ópio, viram nisso um meio de desenvolvimento econômico e fizeram vista grossa aos traficantes que se formaram nos Estados Unidos...portanto o problema do consumo de drogas é Economico, ou melhor economia de estado.

O viciado, como o próprio nome diz, obedece a uma ordem do vício e não da sua consciência, não podemos imputar culpa em quem, por falta de ação ou conivência com o tráfico de drogas(governo), é exposto a essa realidade cruel ainda na mais tenra idade...não me passa pela cabeça culpar um garoto de 10 anos e imputar a ele a culpa por financiar o tráfico...isso é um completo absurdo. O narcotráfico é uma organização criminosa com ramificações em todas as esferas do poder...é esse poder organizado que precisa ser extirpado e não, como nos quer mostrar o filme TROPA DE ELITE, o usuário final, que é tão vítima ou mais, que o cidadão de bem que elege o traficante seu amigo e o recebe na sua casa e goza dos seus favores...Essa sim, omissão criminosa e condenação dos seus próprios filhos a essa realidade...depois se pergunta como isso pode acontecer?

O mercado consumidor é o alvo e uma vítima de uma estratégia organizada de homens de "negócios", Governos, e de alguns dessas áreas de "humanas" que colocam a droga como fator socializante.... E defendem sua legalização. Não devemos nos preocupar com o consumidor, devemos e atacar a raiz desse comércio, seus idealizadores (negociantes de bem) e seus gerentes operacionais (os traficantes)...

UM FATO...



Um fato...


Aconteceu um fato

Próximo a minha casa

Envolto em fralda descartável

Um bebê foi despojado

Em um lixão abandonado.


Uma criança que brincava

Confundiu com uma pipa

O macabro fardo.


Não sei o que me ateve

Nem porque o escrevo

Talvez o medo, pavor, desespero...

ONÍRICO


Onírico

Cuspi meus desgostos

E o gosto que ficou

Foi de tristeza, dor...

Desagüei minhas magoas

E a água se turvou...

Na manhã de sol

Sequei o sal das desilusões

E a ilusão se foi...

Caminhei...

Corri...


Abri meus braços

E abracei o horizonte,

Bebi na fonte de águas límpidas

E minha sede continuou...

Cansado, sentei na grama do jardim

E afaguei a terra.

Ouvi o murmúrio do vento

E o tremor das flores...

Soltei a voz num grito louco

Meu corpo, o momento reteve

Meu olho o fotografou...

Dormi,

Sonhei...

MULTIPLO


Múltiplo


Na sala o espelho me mostra

a face que minha vaidade cala

me procuro...e só me acho

na fotografia da ante-sala...


a hora que passa

me repassa uma história

memória sem tempo,

aprisionada no meu orgulho...


Quem sou eu?

O senhor do espelho?

O menino no diploma?

Ou o prisioneiro da memória?...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

A BUSCA DA FELICIDADE.




Ao longo da história, a humanidade segue caminhos, cada vez mais estreitos e tortuosos em busca da felicidade...esse desejo que habita o âmago do ser humano é a mola e o impulso que conduz a humanidade ao seu destino...essa busca infindável e improvável é a responsável, pela superação de obstáculos, limites e barreiras. Buscamos, ávidos e sedentos, este alimento e essa bebida inexistente.


Tudo que fazemos obedece exclusivamente a esse intento, ser feliz. Todas as religiões, seitas, filosofias, pensamentos, políticas são sempre motivadas para fazer a felicidade do ser humano. A ciência se debruça nas suas descobertas, sejam tecnológicas ou de qualquer natureza para que o homem possa atingir esse patamar superior da existência: A felicidade.

O homem inventou mitos e deuses, seres plenos de felicidade e realização de seus desejos, todos os feitos desses deuses e mitos direcionam-se ao mesmo ponto e objetivo: trazer ao homem a felicidade plena ou pelo menos parcial. Rezas, magias, drogas e medicamentos, conforto, facilidade, locomoção...todos os atos e artefatos que o homem produz tem somente este fim: ser feliz.

Quando o homem será feliz? alguém acredita na possibilidade de felicidade para o homem?

É a felicidade uma abstração ou pode ser real? Ela pode ser compartilhada entre todos ou é apenas uma conquista individual?

Afinal o que é que imaginamos ser a felicidade? É possível da uma forma verbalizada a esse desejo? Como seria a plenitude da felicidade alcançada pelo homem?

Essas perguntas sempre nos acompanharão..e nunca teremos as respostas para elas...