sábado, 15 de junho de 2019

ESCURIDÃO


Eu compreendo o medo

E o desejo de ser o que não é

Sinto no rosto o hálito do chumbo

Na fumaça esquálida de um estampido

E se meu desejo de paz

Se perde entre os dentes trincados

Diante do desespero agonizante

De um jovem que parte sem cumprir

Nem mesmo sua sina

E a sua assassina mão, menos que menino,

Guiada pela contingência e não pela ação

Se faz discussão de culpa e punição

Meu pecado é a razão.

Eu não aceito o dedo divino

E nem o tribunal moral

Que encontra no ato puro

De um anjo sem asas e sem casa

A verdade indiscutível de um sentido

Para além do real, imortal delírio

De um Deus sem perdão e sem amor

Eu prefiro a mentira da compaixão

A crença ateia da inocência sem Deus

E a culpa velada de um povo ciente

De seu desejo e poder

Que transforma e distorce qualquer lei

Desde que lhe seja confortável.



Manoel N Silva