sábado, 9 de agosto de 2014

SOBRE EDUCAÇÃO, VIOLÊNCIA, PROFESSORES, ALUNOS E RELAÇÕES HUMANAS NESSE UNIVERSO ESCOLAR...


             Leio, vejo e escuto nas redes sociais, nos papos entre colegas, TVs, jornais, revistas, nas salas de professores, nos blogs, nos sites de vídeos, imagens e relatos de violência nas escolas, agressões a professores, alunos que são humilhados, vitimas de bulling, preconceitos, etc. Lamentos de colegas com relação a gestores que se colocam sem se preocupar em olhar ambos os lados, denúncias de posturas patriarcais, protecionistas, conveniência política. Relatos que dão conta de gestores que muitas vezes punem injustamente professores. Por outro lado, relatos de professores que também se revelam corporativistas, que se protegem e alinham-se com aqueles professores que realmente estão errados, mesmo em detrimento do aluno.
        
               Igualmente, existem aqueles professores, mais radicais que defendem uma disciplina rígida e inflexível para os alunos. Alguns professores dizem que devemos enfrentar e impor a disciplina. É verdade que necessitamos de medidas disciplinares mais rigorosas e de parâmetros que definam as relações professor-aluno, de forma a tornar viável o processo de educação neste país. Mas, eu, particularmente, não aconselho a enfrentar esses alunos problemáticos e em risco potencial de abraçarem a marginalidade como caminho a seguir em suas vidas. Proponho uma ampla discussão e a adesão de Estado, Escola e Família, a um Pacto pela Educação que vise unificar as regras e os parâmetros disciplinares, visando proteger ambos, profissionais da educação, professores e alunos. Pensar e aplicar uma politica educacional que integre aluno-escola- comunidade, construindo assim, um vinculo de responsabilidade com as famílias e a comunidade em geral. Direcionar o processo de Ensino e aprendizagem, para as necessidades profissionais e aptidões dessas comunidades.
            
              De preferência uma Escola em tempo integral que mescle a formação profissional, cultural e a educação regular. Professores realmente preparados para lecionarem as suas disciplinas e não improvisados em disciplinas que desconhecem. Formação continua e gratuita desses profissionais. Salas de aulas com no máximo 30 alunos. Valorização e reconhecimento do professor... E por aí vai!
Devemos entender que gestores são também educadores e professores, não é um confronto interno, uma caça aos culpados que vai melhorar as condições do professor dentro da sala de aula, na escola e na própria comunidade. Gestores, profissionais técnicos, professores e alunos devem formar uma comunidade escolar coesa e afinada com os objetivos almejados.

            Tenho como principio que discussões e conversas, troca de ideias e propostas, não são inúteis. Tenho como certo que é assim que surgem soluções para a grande maioria dos problemas e são nesses confrontos ideológicos que nascem as ações concretas que muitas vezes desaguam em soluções ou, pelo menos, caminhos que se abrem para elas. Existe ainda, uma parcela de profissionais da educação que querem criminalizar adolescentes, culpá-los por todas as mazelas, pela violência geral e trancá-los em celas, sem chance de recuperação. Sem falar na postura do Estado, que toma para si a tutela das crianças e adolescentes, mas não coloca para isso uma estrutura capaz de amparar essas crianças, sobrecarregando a Escola com responsabilidades que não condizem com seus objetivos.
     
         Infelizmente, posições radicais, declaradamente corporativistas, penso que não sejam as corretas e, certamente não agregam nenhum avanço na questão geral, e olhe lá se não representar um retrocesso, pois, me parecem posturas de conflito e enfrentamento meramente classistas. Não que eu seja contra a união e o fortalecimento da classe dos professores, muito pelo contrário, uma classe unida e uma representação forte e identificada com a classe e suas necessidades e anseios é um dos pontos fundamentais para construir uma solução para a educação.

           Fica evidente, diante do exposto, que há um enorme descompasso entre os interesses dos alunos, dos professores e do Estado (que se reflete na gestão), Mas é exatamente por isso que devemos privilegiar o debate e o embate de ideias e propostas, avançar nos diálogos e negociações, buscar com esses meios um conjunto de propostas que possam fazer a intercessão dos interesses conflitantes desses citados.

          A Educação, não é uma classe e nem poderia ser unânime em interesses, visto que a própria sociedade vive esse conflito de interesses em todas as suas relações. O que precisamos é buscar nos interesses alheios aqueles que também podem ser os nossos, compreender as nuances conflitantes da nossa realidade e encará-las sem idealismos.

          Sou completamente contra posturas meramente protecionistas. Evidente que, casos acontecem em que gestores se colocam de forma paternalista diante de acontecimentos que ensejariam uma postura de justiça e imparcialidade. Gestões assim não se pautam em princípios democráticos. A postura desses gestores deveria ser a do dialogo e da busca de soluções para o problema e não a busca de um culpado, já que por tudo que sabemos e vivemos, temos a certeza absoluta de que não há "um" culpado nesses problemas, isso faz parte de uma conjuntura maior e mais complexa, onde não cabem indivíduos como culpados. Além disso, é necessário que lembremos sempre que o aluno, infelizmente é sempre uma vitima, queiramos ou não. Fugir disso é ignorar a realidade social em que vivemos. Todo dia, só na nossa cidade, pelo menos um jovem menor de 18 anos é assassinado. Não é trancafiando crianças e promovendo a bandidos as vitimas ou exterminando-os que vamos gerar a paz que tanto se almeja.
 
              Escuto e vejo também, em programas de TV, telejornais, jornais e revistas, reportagens sobre heróis da Educação por esse Brasil sem fim, histórias de talentos especiais, professores que mudaram a forma de educar, principalmente em áreas remotas, onde o Estado não consegue exercer seu poder homogeneizador e impor seus parâmetros educacionais e nem sequer chega a ser sentido como algo real. Enfim, acho louvável e admiro muito esses talentos e heróis. Mas, a história nos mostra que sempre existirão em condições extremas de necessidade, seja na Educação ou em qualquer outra instância das relações humanas.

           Portanto, em se tratando da Educação, não acredito em soluções pontuais, em gênios ou projetos isolados, baseados em talentos individuais. A solução para a Educação, no meu entender, deve envolver ações e projetos federais, estaduais e municipais, integrados com a sociedade e com o contexto socioeconômico dos diferentes estados e regiões.
  
          Por outro lado, também não penso como muitos dos meus colegas de profissão, que seja retrocedendo para práticas tradicionais que vamos solucionar os problemas da Educação. O que precisamos é rever esses métodos ultrapassados de ensino e aprendizagem e compreender que não podemos mais ter esse professor que ensina e um aluno que escuta. O dinamismo da nossa realidade não comporta mais esse modelo. Precisamos nos adaptar as tecnologias e utiliza-las para interagir com os alunos. Celulares ( o grande vilão e terror dos professores), tabletes e outros dispositivos que tanto ocupam a atenção dos alunos não devem ser combatidos e banidos, devem ser explorados e utilizados em favor da Educação..

        O processo de aprendizagem e ensino precisa ser modificado, renovado e os professores reciclados em suas didáticas. Os parâmetros curriculares, as diretrizes e as orientações que fundamentam a Educação no Brasil, o novo modelo de avaliação do EM, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) exigem um novo processo de aprendizagem e ensino, pois primam pelas habilidades e competências e não pelas disciplinas e conteúdos. Tenho comigo que um grande problema para a maioria dos envolvidos diretamente na educação é não entenderem esse processo, não saberem como esse novo modelo de avaliação realmente deve funcionar, inclusive as próprias Secretárias de Educação, não sei se por falta de estrutura ou por mero descaso dos governos, ou ambos.

            Sei também, que esse descompasso entre o que está escrito na lei e o que realmente é colocado em prática, não é um problema exclusivo da Educação, esse estado de coisas se repete em todas as instâncias da nossa sociedade. É fruto de um desencontro de objetivos, dentro das próprias estruturas do Governo e, que o problema da Educação é complexo e exige dialogo e mudanças de comportamentos e métodos de todos os envolvidos!

              Por isso reitero aqui a minha posição de que caçar culpados, fincar trincheiras corporativistas e defender modelos arcaicos de educação e moral, não vai resolver os problemas conflitantes e as dicotomias dentro do universo escolar. O que realmente precisamos é ampliar o diálogo e as discussões em todas as instâncias da sociedade para diminuir os descompassos entre as necessidades dos professores, dos alunos e do Governo. Assim quem sabe, possamos em curto prazo, dar inicio as mudanças que já deveriam ter começado pelo menos, há trinta ou quarenta anos atrás!


Manoel N Silva