quarta-feira, 12 de outubro de 2016

SERIA A CLASSE MÉDIA UM MONSTRO ANENCÉFALO?




Dizem-me os mais especializados, que a Classe média quer ser protagonista, determinar os rumos dessa nação, como grande pilar e responsável pela geração das riquezas desse pais, que ela realmente é.
Mas, pergunto eu, que protagonismo? As medidas tomadas e as que esse governo anuncia, são todas em detrimento da classe média. Apenas os grandes empresários de setores agroindustrial, educação, saúde e as instituições financeiras, serão beneficiados. O grosso da indústria brasileira, onde estão empregados a grande maioria dos executivos que compõem a classe média, será penalizado com essas medidas, principalmente o congelamento de gastos públicos, que é o grande alavancador da pequena e média indústria além de ser um dos principais, senão o principal consumidor no ramo de serviços, onde se concentram outra grande parcela dos componentes da classe média, os profissionais liberais. Com esse teto fixado esse setor será, talvez, o mais prejudicado!  Só se for o protagonismo de bancar o palhaço, servir de massa de manobra para sustentar e manter as grandes fortunas e os grandes conglomerados de comunicação nesse país.
O problema é que os defensores (e principais beneficiados) costuram seus argumentos em cima de teorias econômicas aplicadas a situações ideais, sem nenhum referencial na realidade brasileira. Essa ladainha toda sendo cantada noite e dia nos principais telejornais, acompanhadas de lindos sorrisos e caras ainda mais bonitas e escritas em primeira página em jornais e revistas, acabam por convencer aqueles que serão os mais prejudicados, que eles estão sendo os beneficiários. Além de passarem a falsa ideia de que os governos anteriores são os grandes culpados de tudo, e que agora tudo será um céu de brigadeiro, basta apenas que o congresso aprove as medidas e que o povo (classe média), tal qual um bando de carneiros, aplauda e sacramente! Mas, carneiro é para sacrifício, já dizia o santo livro, não é mesmo?
Outrossim, me dizem também que a classe média tem medo da ascensão da classe pobre. Só não compreendo o porquê desse medo. Ele é absurdo, toda e qualquer elevação da condição do pobre, vai diretamente e imediatamente refletir positivamente na classe média. Isso é básico em qualquer teoria econômica. Um amigo me disse que a Classe média tem sonhos de que é rica!
Pois é, ledo engano, ela não é rica e quando faz o jogo dos ricos, condena parte de si mesma a ser pobre. Não compreendo essa cegueira... Me pergunto diariamente o que é que essas pessoas veem, enxergam, que tipo de representação elas fazem para construir essa realidade delas? Culpam os pobres por elegerem maus políticos, mas, são exatamente os representantes da classe média que sustentam as políticas públicas e são esses mesmos políticos, em sua maioria, que apoiam medidas que sempre resultam em cortes na carne da classe média e não na carne gorda e bem cuidada dos ricos.
Além do que, discordo totalmente de que os pobres sejam despolitizados, e nem são a maioria. Não dentro da nossa divisão social. Eles se organizam, lutam por direitos, se associam muito mais do que a classe média, e enfrentam fisicamente o aparato estatal, visto que não têm escolhas. Eles compreendem sua condição e lutam para sair dela. Também os miseráveis e os marginais se colocam dentro de suas realidades.
Dessa forma, o que parece, é que apenas a grande maioria do que chamamos classe média, aliena-se e absorve os ideais dos mais ricos. Ela, exatamente a mais vulnerável das classes, a única sem qualquer proteção quanto aos rumos tomados pela economia, e que é justamente ela, a primeira a sofrer os efeitos de qualquer crise, seja econômica, seja política, porque ela não percebe isso? Por que é que são exatamente esses da classe média os que mais se distanciam do real e apoiam seus algozes?
Vejamos o caso da PEC 241, quem realmente vai perder com ela? O pobre? Não, o pobre não tem acesso à educação, moradia, infraestrutura, está fora do espectro abrangido por essas medidas, ele vai apenas permanecer onde está. A pobreza vai perder a possibilidade de ascensão. Quem vai sofrer é a classe média hoje definida, e talvez, nem sejam aqueles que ascenderam da pobreza, visto que diante da experiência e consciência da situação, estarão preparados para enfrentar essas medidas. No entanto, a classe média tradicional sofrerá com mais vigor e, certamente, boa parte, descerá para a classe pobre, ou achatará sua condição atual, perdendo privilégios que hoje detém. Eles não percebem isso? Como eles pensam a sociedade e o sistema econômico que eles sustentam? Será que eles não percebem que não foi a classe média que recuou e sim o pobre que avançou? E que se eles compararem os resultados dessa ascensão de parte da pobreza à classe média, chegarão a única conclusão lógica possível, ou seja, de que só trouxe benefícios ao conjunto da sociedade?

Manoel N. Silva

domingo, 7 de agosto de 2016

POR QUE DEFENDO A VOLTA DA DILMA




Não cultuo a personalidade, muito pelo contrário. O problema é que nesse nosso país dos "salvadores da pátria", dos heróis de momento, dos personagens quixotescos, ainda precisamos de "personas" para iniciar processos desmistificadores, despersonalizantes, por mais paradoxal que lhes pareça. Quero a Dilma de volta, não porque ela seja o melhor para o Brasil, mas porque é o melhor que pode acontecer para o Brasil. Sem ela de volta, não haverá reforma nenhuma, voltaremos à estaca zero, e correremos o risco de um "Salvador da Pátria" em 2018, eleger-se. Imaginem um Bolsonaro no poder, por exemplo?
O PT e seus governos, podem não ter mudado o Brasil, mas, deram uma bela mexida na sociedade brasileira, quebrando tabus, e dando início a políticas de resgate cultural e valorização das classes mais baixas, oportunizando acesso à educação superior e tecnológica. Se não avançamos economicamente, culturalmente demos passos largos e, socialmente, também tivemos avanços significativos. O Brasil do PT, é bem mais plural, bem mais tolerante e humanista. Isso eu não posso negar!
Faço também inúmeras críticas ao PT. Por exemplo, o apoio as instituições financeiras, a corrupção que andou solta, a política de alianças que descaracterizou o programa partidário, a incapacidade de fazer andar as reformas necessárias e urgentes, principalmente a reforma política, o adiamento das medidas de ajuste econômico, antes das eleições, e sobretudo, esse segundo mandato da Dilma, que ideologicamente falando, é uma aberração. Pois, juntar no mesmo ministério, esses nomes e partidos que ela juntou, é um aborto político/ideológico.
Mas, a volta da Dilma, seria o empurrão necessário para que se fizessem as reformas que tanto clama o povo brasileiro. Certamente o parlamento teria que aprovar medidas e dar andamento as reformas, possibilitar a governabilidade e ficar atento a sociedade e seus anseios. O povo brasileiro está realmente dividido, isso não podemos negar, mas, não é uma divisão física como quiseram ressaltar alguns, não é um confronto capaz de fazer nascer o ódio que se incentivou por parte daqueles que desejam o caos, é uma divisão meramente ideológica, e mais ainda, o povo tem um ponto de interseção fortíssimo, capaz de uni-los e fazê-los esquecer essas diferenças ideológicas: o desejo de mudanças e o repudio aos políticos e a corrupção por eles promovida e sustentada.
Portanto, a volta da Dilma é o único fator capaz de proporcionar tudo isso, pois ficou claro para todo o povo brasileiro que o governo montado pelo Vice Michel Temer, não tem pretensões de mudar nada, muito pelo contrário, se mostrou um governo retrógrado e conservador ao extremo, suas ações políticas foram todas no sentido de manter um Estado nada republicano. Por trás do suposto viés liberal, aparece a alma oligárquica e o corporativismo.
Basta que vejamos os antecedentes dos seus ministros e principais colaboradores e apoiadores. Não é de se admirar que a rejeição a esse governo ultrapasse a rejeição ao governo da Dilma nos últimos meses que antecederam ao seu afastamento.
A questão é simples, o povo não engoliu o blefe dos jogadores do impeachment, eles não tinham uma mão capaz de vencer a partida, eles jogaram alto no seu blefe e o povo está percebendo isso.  Eles tentaram uma cartada alta, apostaram no apoio das ruas, baseados nas manifestações e no apoio ao impeachment, mas, não tinham cartas na manga, o resultado esperado pelo povo não se concretizou nas ações do governo. O povo está percebendo que foi usado como base para destituir um governo eleito democraticamente e pôr no seu lugar um que não representa o povo e sim interesses menores e corporativos, que tem como patrocinadores, aquelas mesmas velhas figuras que sempre controlaram os jogos de poder nesse nosso grande país.

Manoel N Silva.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

SOBRE A ATUAÇÃO DOS FILÓSOFOS NO ATUAL MOMENTO POLÍTICO DO PAÍS.






Eu não consigo entender e pensar a Filosofia sem uma atuação intensa e significativa no ambiente acadêmico e fora dele. A Filosofia quando vem a cabeça das pessoas não vem como introspecção e sim como reflexão. E, como tal, não pode dissociar-se do debate, da discussão e do confronto dialético das ideias.
Não é uma questão de política, é que é da "natureza" da Filosofia, desde os pré-socráticos, essa atuação, esse protagonismo do filósofo. O filósofo é o interprete da realidade, aquele que dissipa a fumaça da ignorância e vai a Ágora, mostrar com seu discurso, essa realidade, tal qual Sócrates. Ou quebra as amarras e saí da Caverna e se encontra com o real e o apreende, voltando para libertar sua gente, cumprindo a sua missão platônica.
A Filosofia só se recolheu no período helenístico, quando surgiram as filosofias introspectivas, pessoais e distanciadas da polis, como o caso do epicurismo, em todos os outros períodos históricos da filosofia, em todas as suas correntes, ela se dá no discurso, na atuação, no debate público, na busca mediada dos problemas gerais da humanidade.
Não é o debate político que se cobra do filosofo, é o debate simplesmente. O debate como a práxis filosófica. E isso, necessariamente não é filosofia política, mas, não há como separá-las, a política é base fundamental nas relações humanas, portanto, sendo a filosofia a base da compreensão humana da realidade, elas se irmanam simbioticamente em suas atuações.
Tudo bem, toda atuação profissional é sim política e, é ato, ação, práxis. Mas no caso especifico do filósofo, ele não é um simples profissional, um técnico que vai contribuir com a sua ação apenas se dedicando ao estudo dessa ou daquela área da filosofia, a práxis filosófica é o discurso, o debate das ideias. A problematização e a resposta a esses problemas. É isso que se espera de um filósofo, seja qual for a sua área de estudo. Essa é a visão do povo do que seja um filósofo e é isso que ele espera dele. Ou seja, que ele pelo menos vá ao corredor, ao jardim, ao pátio... Ele tem que sair da sala, da biblioteca, do quarto de estudos!!!
Não é que eu defenda necessariamente uma atuação política do filosofo e nem muito menos coloco o ser humano como necessariamente um ser político. O que coloco na minha "tese" é simplesmente uma atuação do filosofo na sociedade em que ele se insere, e como tal, essa atuação não é necessariamente na área política, apesar de que, fatalmente, ela será um ato político.
Portanto, os problemas mais urgentes e não efêmeros, só podem ser pensados com uma práxis filosófica, e assim se dando, necessariamente o filosofo terá uma ação política. Em um momento de crise como este em que vivemos, a sociedade clama pela atuação da filosofia. Nesse momento é que o filosofo tem que atuar politicamente, ele precisa sair da caverna e ferir os olhos com a luz da realidade...
Porque é que os alunos cobram tanto a atuação política do filosofo e, provavelmente isso se refira mais especificamente aos professores? A meu ver, a maioria dos professores de filosofia, não atua fora da sala, no âmbito dos corredores, do pátio, da cantina, etc...Eles restringem a sua atuação a eventos formais, onde os alunos, sedentos de debates e ação, não podem livremente colocar suas ideias. Os professores acreditam que não precisam ir além dos seus deveres curriculares, suas palestras e seus eventos formais. E até concordo que estão certos sob seus pontos de visão.
No entanto, a imagem que os alunos têm da filosofia não é esta. A filosofia no mundo dos alunos é aquela que se mostram nos manuais de filosofia do ensino médio. Romântica, idealista e a mãe de todas as ciências.
A história da filosofia que é contada no EM está repleta desse idealismo e desse protagonismo político,  Montesquieu foi conselheiro do parlamento de sua cidade... Aristóteles foi conselheiro de Alexandre, além de o seu próprio modo de ensinar já atenda a reivindicação dos alunos de hoje; Maquiavel nem precisa falar, Locke foi ministro de William III de Orange...etc. Mas, não é uma questão de militância  política simplesmente, é uma questão de viver a realidade e usar essas ferramentas que são bem mais "afiadas", nas mãos dos filósofos. Tal como nos fala a crítica platônica ao sofismo, o filosofo tem a capacidade de esclarecer sem enganar, sem precisar sofismar.
Não que eu seja contra os Sofistas, muito pelo contrário, apenas uso a teoria a minha disposição para fazer-me entender em minhas colocações. Eu não vejo os sofistas como os viu Platão ou Aristóteles. Na minha visão e análise do que me chegou deles, eles eram esses filósofos que os alunos desejam.
Concluo esse pequeno desabafo dizendo que não quero lhes convencer a mudar e nem impor minhas convicções, apenas debato essas ideias que constroem meu arcabouço intelectual, no interesse do conhecimento que posso adquirir. Nada me impede que amanhã eu mude de posição e reveja esses conceitos, e quem sabe pode até ser uma frase qualquer, uma colocação trivial que alguém me faça, a causa dessa mudança. Como livre pensador que sou, estou sempre aberto!
Mas, me estenderei um pouco mais para dizer que uma coisa é certa, a situação está feia por aqui, temos que agir e reagir. O discurso da tolerância, da isenção, da conciliação serve, nesses casos, apenas para mascarar as reais intenções daqueles que desejam, à custa de uma suposta liberdade de expressão, disseminar o preconceito, o racismo, a opressão das minorias e sufocar os gritos dos injustiçados. Precisamos sim, sair desse marasmo político, atuar concretamente nas ruas, nas escolas, nas fabricas e ambientes públicos. Precisamos nos contrapor a onda reacionária que ensaia se tornar maremoto.
Por isso digo a esses alunos que anseiam por uma filosofia que seja o grito dos sem voz e vez: Estamos tentando, mas a resistência é grande, afinal são mais de trinta anos que a Filosofia ficou acorrentada no âmbito da academia, presa as pesquisas, aos estudos solitários, longe da praça pública, no máximo ia ao auditório...demora mostrar que a Filosofia é sinônimo de autonomia, liberdade, abertura de horizontes, pluralidade de ideias.

Manoel Nogueira da Silva