Para os utilitaristas, os únicos princípios éticos que regem o agir do homem são a fuga da dor e a busca do prazer. Segundo Jeremy Bentham, devemos agir conforme o cálculo da felicidade, uma formula quantitativa que apuraria o prazer e a dor causada por uma ação. Segundo essa ótica utilitarista, o que vale para dizer se uma ação é boa ou má é quantidade de prazer ou dor que ela causa, portanto ela é totalmente empírica. Ao contrário da ética Kantiana, totalmente interiorizada com seus imperativos hipotéticos e categóricos, a ética utilitarista, na sua forma pura, não leva em consideração a intenção, e sim o resultado.
Essa é mais ou menos a interpretação que a maioria faz do utilitarismo, a meu ver, errônea e usada convenientemente para justificar os extremos do capitalismo para tentar justificar a miséria de uma parte da sociedade em função do beneficio da maioria.
Eu particularmente adoto uma ética baseada no utilitarismo Milliano, que propõe uma ética utilitarista e faz um cálculo qualitativo da felicidade, apesar de basear-se também no mesmo principio: fuga da dor e busca do prazer.
Procurei sempre guiar minhas ações no sentido de promover o melhor resultado. Minhas ações são pensadas de modo que menos consequências desagradáveis ela me traga e aos outros. Isso não quer dizer que eu vá agir em função do outro, ajo sempre em função ou de mim, ou do "nós", o outro é sempre a última opção e, só escolhida se trouxer algo ao "nós" o que, indiretamente, beneficia o "eu".
E por mais que essa ética se mostre egoísta, egocêntrica esse meu comportamento tem como principal ação o respeito ao outro, pois é o outro igual a mim.
Portanto, respeitando-me, respeito-o, pois não vou ferir-me e consequentemente não vou ferir o outro que é meu igual, e companheiro de jornada, além de sermos dependentes um do outro para sobreviver.
Essa ética a qual condiciono esse meu agir é perfeitamente humana, empírica e baseada em ser feliz e promover a felicidade de todos.
Alguns sempre me dizem, não podemos agir somente com a razão, precisamos levar em conta as emoções. Você age friamente, pensando só no melhor resultado de sua ação...
Sim, contra argumento, agir movido por emoções todos nós agimos, agora essa emoção não é e, nem pode ser já ato, ela precisa passar pela razão, para poder ser interpretada e externada em forma de ação, de modo que não nos traga dor, ou pelo menos que nos traga a menor dor possível.
Que outro instrumento de compreensão e elaboração de conceitos e preceitos poderia adotar, para raciocinar, senão a razão? Ou será que podemos agir totalmente por instinto? Não! Aqueles que agem totalmente por instinto são animais irracionais, desprovidos de consciência, de vontade, determinados.
Mas, a razão é apenas instrumento, somos seres emocionais, somos movidos por sentimentos e, no meu entender, sentimento é uma emoção elaborada, uma tentativa de compreensão e expressão da emoção, um conceito acerca dessa emoção.
Portanto, passa necessariamente pelo crivo da razão, o que me leva a concluir, que tudo passa pela razão, até mesmo aquelas sensações (emoções) que não conseguimos conceituar, apenas sentir e que provocam ações imediatas (por instinto), essas(as ações) sim, sem controle racional. Como, por exemplo, alguém joga um punhado de areia em meu rosto e, imediatamente fecho os olhos, o ato é imediato, instintivo, mas é o conhecimento anterior da emoção (no caso aqui a dor que a areia provoca nos meus olhos), me "despertou" o instinto. Portanto essa emoção (a dor) já foi anteriormente experimentada e devidamente analisada e registrada pela razão.
Mas, aí alguém me pergunta, é possível extrair quantitativamente a priori o grau de êxito ou "felicidade" de uma ação, desconhecendo os seus resultados?
Não, repoderei, por isso a ética que se baseia nesse principio, é empírica, ela se baseia na consequência, não existem regras a priori, é a experiência que vai nos dizer se a nossa ação é boa ou não. Essa não é uma ética intimista. É uma ética prática que se realiza na ação e tem seu valor definido na consequência.
Por isso me afasto um pouco de Bentham e tenho mais afinidade com a proposta Milliana, de um cálculo qualitativo da felicidade. Ou seja, não é quantidade de felicidade que importa para dizer se uma ação é boa ou má, mas sim a qualidade da felicidade.
No entanto, dizem os críticos de Stuart Mill que ele se afasta do utilitarismo, pois seriam adotados valores abstratos nesse cálculo, eu discordo, já que essa qualidade é definida pela experiência e não aprioristicamente.
Manoel N. Silva