Leio, vejo e escuto nas redes sociais, nos papos entre colegas, TVs,
jornais, revistas, nas salas de professores, nos blogs, nos sites de
vídeos, imagens e relatos de violência nas escolas, agressões a
professores, alunos que são humilhados, vitimas de bulling,
preconceitos, etc. Lamentos de colegas com relação a gestores que se
colocam sem se preocupar em olhar ambos os lados, denúncias de posturas
patriarcais, protecionistas, conveniência política. Relatos que dão
conta de gestores que muitas vezes punem injustamente professores. Por
outro lado, relatos de professores que também se revelam
corporativistas, que se protegem e alinham-se com aqueles professores
que realmente estão errados, mesmo em detrimento do aluno.
Igualmente, existem aqueles professores, mais radicais que defendem uma
disciplina rígida e inflexível para os alunos. Alguns professores dizem
que devemos enfrentar e impor a disciplina. É verdade que
necessitamos de medidas disciplinares mais rigorosas e de parâmetros que
definam as relações professor-aluno, de forma a tornar viável o
processo de educação neste país. Mas, eu, particularmente, não aconselho
a enfrentar esses alunos problemáticos e em risco potencial de
abraçarem a marginalidade como caminho a seguir em suas vidas. Proponho
uma ampla discussão e a adesão de Estado, Escola e Família, a um Pacto
pela Educação que vise unificar as regras e os parâmetros disciplinares,
visando proteger ambos, profissionais da educação, professores e
alunos. Pensar e aplicar uma politica educacional que integre
aluno-escola- comunidade, construindo assim, um vinculo de
responsabilidade com as famílias e a comunidade em geral. Direcionar o
processo de Ensino e aprendizagem, para as necessidades profissionais e
aptidões dessas comunidades.
De preferência uma Escola em tempo integral que mescle a formação profissional, cultural e a educação regular. Professores realmente preparados para lecionarem as suas disciplinas e não improvisados em disciplinas que desconhecem. Formação continua e gratuita desses profissionais. Salas de aulas com no máximo 30 alunos. Valorização e reconhecimento do professor... E por aí vai!
Devemos entender que gestores são também educadores e professores, não é
um confronto interno, uma caça aos culpados que vai melhorar as
condições do professor dentro da sala de aula, na escola e na própria
comunidade. Gestores, profissionais técnicos, professores e alunos devem
formar uma comunidade escolar coesa e afinada com os objetivos
almejados.
Tenho como principio que discussões e conversas, troca
de ideias e propostas, não são inúteis. Tenho como certo que é assim
que surgem soluções para a grande maioria dos problemas e são nesses
confrontos ideológicos que nascem as ações concretas que muitas vezes
desaguam em soluções ou, pelo menos, caminhos que se abrem para elas.
Existe ainda, uma parcela de profissionais da educação que querem
criminalizar adolescentes, culpá-los por todas as mazelas, pela
violência geral e trancá-los em celas, sem chance de recuperação. Sem
falar na postura do Estado, que toma para si a tutela das crianças e
adolescentes, mas não coloca para isso uma estrutura capaz de amparar
essas crianças, sobrecarregando a Escola com responsabilidades que não
condizem com seus objetivos.
Infelizmente, posições radicais, declaradamente corporativistas, penso que não sejam as corretas e, certamente não agregam nenhum avanço na questão geral, e olhe lá se não representar um retrocesso, pois, me parecem posturas de conflito e enfrentamento meramente classistas. Não que eu seja contra a união e o fortalecimento da classe dos professores, muito pelo contrário, uma classe unida e uma representação forte e identificada com a classe e suas necessidades e anseios é um dos pontos fundamentais para construir uma solução para a educação.
Fica evidente, diante do exposto, que há um enorme descompasso entre os interesses dos alunos, dos professores e do Estado (que se reflete na gestão), Mas é exatamente por isso que devemos privilegiar o debate e o embate de ideias e propostas, avançar nos diálogos e negociações, buscar com esses meios um conjunto de propostas que possam fazer a intercessão dos interesses conflitantes desses citados.
A Educação, não é uma classe e nem poderia ser
unânime em interesses, visto que a própria sociedade vive esse conflito
de interesses em todas as suas relações. O que precisamos é buscar nos
interesses alheios aqueles que também podem ser os nossos, compreender
as nuances conflitantes da nossa realidade e encará-las sem idealismos.
Sou completamente contra posturas meramente protecionistas. Evidente que, casos acontecem em que gestores se colocam de forma paternalista diante de acontecimentos que ensejariam uma postura de justiça e imparcialidade. Gestões assim não se pautam em princípios democráticos. A postura desses gestores deveria ser a do dialogo e da busca de soluções para o problema e não a busca de um culpado, já que por tudo que sabemos e vivemos, temos a certeza absoluta de que não há "um" culpado nesses problemas, isso faz parte de uma conjuntura maior e mais complexa, onde não cabem indivíduos como culpados. Além disso, é necessário que lembremos sempre que o aluno, infelizmente é sempre uma vitima, queiramos ou não. Fugir disso é ignorar a realidade social em que vivemos. Todo dia, só na nossa cidade, pelo menos um jovem menor de 18 anos é assassinado. Não é trancafiando crianças e promovendo a bandidos as vitimas ou exterminando-os que vamos gerar a paz que tanto se almeja.
Escuto e vejo também, em programas de TV, telejornais,
jornais e revistas, reportagens sobre heróis da Educação por esse
Brasil sem fim, histórias de talentos especiais, professores que mudaram
a forma de educar, principalmente em áreas remotas, onde o Estado não
consegue exercer seu poder homogeneizador e impor seus parâmetros
educacionais e nem sequer chega a ser sentido como algo real. Enfim,
acho louvável e admiro muito esses talentos e heróis. Mas, a história
nos mostra que sempre existirão em condições extremas de necessidade,
seja na Educação ou em qualquer outra instância das relações humanas.
Portanto, em se tratando da Educação, não acredito em soluções pontuais, em gênios ou projetos isolados, baseados em talentos individuais. A solução para a Educação, no meu entender, deve envolver ações e projetos federais, estaduais e municipais, integrados com a sociedade e com o contexto socioeconômico dos diferentes estados e regiões.
Por outro lado, também não penso como muitos dos meus
colegas de profissão, que seja retrocedendo para práticas tradicionais
que vamos solucionar os problemas da Educação. O que precisamos é rever
esses métodos ultrapassados de ensino e aprendizagem e compreender que
não podemos mais ter esse professor que ensina e um aluno que escuta. O
dinamismo da nossa realidade não comporta mais esse modelo. Precisamos
nos adaptar as tecnologias e utiliza-las para interagir com os alunos.
Celulares ( o grande vilão e terror dos professores), tabletes e outros
dispositivos que tanto ocupam a atenção dos alunos não devem ser
combatidos e banidos, devem ser explorados e utilizados em favor da
Educação..
O processo de aprendizagem e ensino precisa ser
modificado, renovado e os professores reciclados em suas didáticas. Os
parâmetros curriculares, as diretrizes e as orientações que fundamentam a
Educação no Brasil, o novo modelo de avaliação do EM, o ENEM (Exame
Nacional do Ensino Médio) exigem um novo processo de aprendizagem e
ensino, pois primam pelas habilidades e competências e não pelas
disciplinas e conteúdos. Tenho comigo que um grande problema para a
maioria dos envolvidos diretamente na educação é não entenderem esse
processo, não saberem como esse novo modelo de avaliação realmente deve
funcionar, inclusive as próprias Secretárias de Educação, não sei se por
falta de estrutura ou por mero descaso dos governos, ou ambos.
Sei também, que esse descompasso entre o que está escrito na lei e o que
realmente é colocado em prática, não é um problema exclusivo da
Educação, esse estado de coisas se repete em todas as instâncias da
nossa sociedade. É fruto de um desencontro de objetivos, dentro das
próprias estruturas do Governo e, que o problema da Educação é complexo e
exige dialogo e mudanças de comportamentos e métodos de todos os
envolvidos!
Por isso reitero aqui a minha posição de que caçar
culpados, fincar trincheiras corporativistas e defender modelos arcaicos
de educação e moral, não vai resolver os problemas conflitantes e as
dicotomias dentro do universo escolar. O que realmente precisamos é
ampliar o diálogo e as discussões em todas as instâncias da sociedade
para diminuir os descompassos entre as necessidades dos professores, dos
alunos e do Governo. Assim quem sabe, possamos em curto prazo, dar
inicio as mudanças que já deveriam ter começado pelo menos, há trinta ou
quarenta anos atrás!
Manoel N Silva