Não cultuo a personalidade, muito pelo contrário. O problema é que nesse
nosso país dos "salvadores da pátria", dos heróis de momento, dos
personagens quixotescos, ainda precisamos de "personas" para iniciar
processos desmistificadores, despersonalizantes, por mais paradoxal que lhes
pareça. Quero a Dilma de volta, não porque ela seja o melhor para o Brasil, mas
porque é o melhor que pode acontecer para o Brasil. Sem ela de volta, não
haverá reforma nenhuma, voltaremos à estaca zero, e correremos o risco de um
"Salvador da Pátria" em 2018, eleger-se. Imaginem um Bolsonaro no
poder, por exemplo?
O PT e seus governos, podem não ter mudado o Brasil, mas, deram uma bela
mexida na sociedade brasileira, quebrando tabus, e dando início a políticas de
resgate cultural e valorização das classes mais baixas, oportunizando acesso à
educação superior e tecnológica. Se não avançamos economicamente, culturalmente
demos passos largos e, socialmente, também tivemos avanços significativos. O
Brasil do PT, é bem mais plural, bem mais tolerante e humanista. Isso eu não
posso negar!
Faço também inúmeras críticas ao PT. Por exemplo, o apoio as instituições
financeiras, a corrupção que andou solta, a política de alianças que
descaracterizou o programa partidário, a incapacidade de fazer andar as
reformas necessárias e urgentes, principalmente a reforma política, o adiamento
das medidas de ajuste econômico, antes das eleições, e sobretudo, esse segundo
mandato da Dilma, que ideologicamente falando, é uma aberração. Pois, juntar no
mesmo ministério, esses nomes e partidos que ela juntou, é um aborto político/ideológico.
Mas, a volta da Dilma, seria o empurrão necessário para que se fizessem as
reformas que tanto clama o povo brasileiro. Certamente o parlamento teria que
aprovar medidas e dar andamento as reformas, possibilitar a governabilidade e
ficar atento a sociedade e seus anseios. O povo brasileiro está realmente dividido,
isso não podemos negar, mas, não é uma divisão física como quiseram ressaltar alguns,
não é um confronto capaz de fazer nascer o ódio que se incentivou por parte
daqueles que desejam o caos, é uma divisão meramente ideológica, e mais ainda, o
povo tem um ponto de interseção fortíssimo, capaz de uni-los e fazê-los esquecer
essas diferenças ideológicas: o desejo de mudanças e o repudio aos políticos e
a corrupção por eles promovida e sustentada.
Portanto, a volta da Dilma é o único fator capaz de proporcionar tudo
isso, pois ficou claro para todo o povo brasileiro que o governo montado pelo
Vice Michel Temer, não tem pretensões de mudar nada, muito pelo contrário, se
mostrou um governo retrógrado e conservador ao extremo, suas ações políticas
foram todas no sentido de manter um Estado nada republicano. Por trás do suposto
viés liberal, aparece a alma oligárquica e o corporativismo.
Basta que vejamos os antecedentes dos seus ministros e principais
colaboradores e apoiadores. Não é de se admirar que a rejeição a esse governo
ultrapasse a rejeição ao governo da Dilma nos últimos meses que antecederam ao
seu afastamento.
A questão é simples, o povo não engoliu o blefe dos jogadores do impeachment,
eles não tinham uma mão capaz de vencer a partida, eles jogaram alto no seu
blefe e o povo está percebendo isso. Eles
tentaram uma cartada alta, apostaram no apoio das ruas, baseados nas
manifestações e no apoio ao impeachment, mas, não tinham cartas na manga, o
resultado esperado pelo povo não se concretizou nas ações do governo. O povo
está percebendo que foi usado como base para destituir um governo eleito democraticamente
e pôr no seu lugar um que não representa o povo e sim interesses menores e
corporativos, que tem como patrocinadores, aquelas mesmas velhas figuras que
sempre controlaram os jogos de poder nesse nosso grande país.
Manoel N Silva.