Dizem-me os
mais especializados, que a Classe média quer ser protagonista, determinar os
rumos dessa nação, como grande pilar e responsável pela geração das riquezas
desse pais, que ela realmente é.
Mas, pergunto
eu, que protagonismo? As medidas tomadas e as que esse governo anuncia, são
todas em detrimento da classe média. Apenas os grandes empresários de setores
agroindustrial, educação, saúde e as instituições financeiras, serão
beneficiados. O grosso da indústria brasileira, onde estão empregados a grande
maioria dos executivos que compõem a classe média, será penalizado com essas
medidas, principalmente o congelamento de gastos públicos, que é o grande
alavancador da pequena e média indústria além de ser um dos principais, senão o
principal consumidor no ramo de serviços, onde se concentram outra grande
parcela dos componentes da classe média, os profissionais liberais. Com esse
teto fixado esse setor será, talvez, o mais prejudicado! Só se for o protagonismo de bancar o palhaço,
servir de massa de manobra para sustentar e manter as grandes fortunas e os
grandes conglomerados de comunicação nesse país.
O problema é
que os defensores (e principais beneficiados) costuram seus argumentos em cima
de teorias econômicas aplicadas a situações ideais, sem nenhum referencial na
realidade brasileira. Essa ladainha toda sendo cantada noite e dia nos
principais telejornais, acompanhadas de lindos sorrisos e caras ainda mais
bonitas e escritas em primeira página em jornais e revistas, acabam por
convencer aqueles que serão os mais prejudicados, que eles estão sendo os
beneficiários. Além de passarem a falsa ideia de que os governos anteriores são
os grandes culpados de tudo, e que agora tudo será um céu de brigadeiro, basta
apenas que o congresso aprove as medidas e que o povo (classe média), tal qual
um bando de carneiros, aplauda e sacramente! Mas, carneiro é para sacrifício, já
dizia o santo livro, não é mesmo?
Outrossim, me
dizem também que a classe média tem medo da ascensão da classe pobre. Só não
compreendo o porquê desse medo. Ele é absurdo, toda e qualquer elevação da
condição do pobre, vai diretamente e imediatamente refletir positivamente na
classe média. Isso é básico em qualquer teoria econômica. Um amigo me disse que
a Classe média tem sonhos de que é rica!
Pois é, ledo
engano, ela não é rica e quando faz o jogo dos ricos, condena parte de si mesma
a ser pobre. Não compreendo essa cegueira... Me pergunto diariamente o que é
que essas pessoas veem, enxergam, que tipo de representação elas fazem para
construir essa realidade delas? Culpam os pobres por elegerem maus políticos,
mas, são exatamente os representantes da classe média que sustentam as políticas
públicas e são esses mesmos políticos, em sua maioria, que apoiam medidas que
sempre resultam em cortes na carne da classe média e não na carne gorda e bem
cuidada dos ricos.
Além do que,
discordo totalmente de que os pobres sejam despolitizados, e nem são a maioria.
Não dentro da nossa divisão social. Eles se organizam, lutam por direitos, se
associam muito mais do que a classe média, e enfrentam fisicamente o aparato
estatal, visto que não têm escolhas. Eles compreendem sua condição e lutam para
sair dela. Também os miseráveis e os marginais se colocam dentro de suas
realidades.
Dessa forma, o
que parece, é que apenas a grande maioria do que chamamos classe média,
aliena-se e absorve os ideais dos mais ricos. Ela, exatamente a mais vulnerável
das classes, a única sem qualquer proteção quanto aos rumos tomados pela
economia, e que é justamente ela, a primeira a sofrer os efeitos de qualquer
crise, seja econômica, seja política, porque ela não percebe isso? Por que é
que são exatamente esses da classe média os que mais se distanciam do real e
apoiam seus algozes?
Vejamos o caso
da PEC 241, quem realmente vai perder com ela? O pobre? Não, o pobre não tem
acesso à educação, moradia, infraestrutura, está fora do espectro abrangido por
essas medidas, ele vai apenas permanecer onde está. A pobreza vai perder a
possibilidade de ascensão. Quem vai sofrer é a classe média hoje definida, e
talvez, nem sejam aqueles que ascenderam da pobreza, visto que diante da experiência
e consciência da situação, estarão preparados para enfrentar essas medidas. No
entanto, a classe média tradicional sofrerá com mais vigor e, certamente, boa
parte, descerá para a classe pobre, ou achatará sua condição atual, perdendo
privilégios que hoje detém. Eles não percebem isso? Como eles pensam a
sociedade e o sistema econômico que eles sustentam? Será que eles não percebem
que não foi a classe média que recuou e sim o pobre que avançou? E que se eles
compararem os resultados dessa ascensão de parte da pobreza à classe média, chegarão
a única conclusão lógica possível, ou seja, de que só trouxe benefícios ao
conjunto da sociedade?
Manoel N. Silva