“A
Crise da Educação”, artigo sobre a crise na educação na América, tratada por
Hanna Arendt, bem poderia ser “a crise na educação brasileira” dada a
semelhança com que os problemas nacionais são refletidos nesse artigo escrito a
mais de meio século.
Mas, essa atualidade que encontramos nesse artigo, só comprova uma afirmação feita por Hanna, neste mesmo artigo, de que a crise na educação na América não teria características exclusivas aos EUA, e nada impediria que em um futuro previsível, ela acontecesse em qualquer outro país ou continente.
Mas, essa atualidade que encontramos nesse artigo, só comprova uma afirmação feita por Hanna, neste mesmo artigo, de que a crise na educação na América não teria características exclusivas aos EUA, e nada impediria que em um futuro previsível, ela acontecesse em qualquer outro país ou continente.
Em
um primeiro momento, Hanna Arendt nos diz que a crise na educação tem como
essência o nascimento. Ou seja, o nascimento de seres humanos que aportam diariamente
no mundo. Geração após geração, esses pequenos seres precisam ser apresentados
e inseridos nesse mundo, para que possam nele viverem. Essa mediação tem como
protagonistas, os adultos. São eles que precisam assumir essa condução, através
de ações educadoras e protetoras, pais, professores e autoridades, precisam ensinarem
e protegerem esses pequeninos, conduzindo-os por esse mundo antigo e quase
sempre fora dos “gonzos”, para que esses possam modifica-lo e recolocarem-no no
caminho devido.
Diante
desse desafio, a Educação, pilar fundamental na formação dessas crianças e
jovens, se encontra em crise e, como antes mencionado, não é uma crise ligada simplesmente
a uma questão territorial, com características intrínsecas a um país. Essa
crise na educação tem raízes universais, fincadas nos aspectos fundamentais da
modernidade.
No
que diz respeito aos fundamentos modernos, os principais consequentes da crise
na educação se referem aos aspectos da privacidade e perda de autoridade, fenômenos
que perpassam nosso mundo moderno. Essa imersão do privado no público, fez com
que adultos e crianças perdessem o que antes era o seu porto seguro, aquela
fortaleza entre quatro paredes, onde nos protegíamos e as nossas crianças dos
olhos do público. As guerras e as transformações sociais e políticas, a
reorganização mundial e todos os problemas que daí advém, atingem a educação em
todo o mundo e a crise se manifesta em diferentes nuances em cada nação.
Na
América, essa crise se torna política, avança e se manifesta em cada cidadão
leigo, visto que, na América, essa dimensão está intrinsecamente ligada a
educação. A educação desempenha aqui um papel importantíssimo. Sendo a América
um país de imigrantes, só a educação dos filhos dos imigrantes, já que na visão
de Arendt, não é possível educar adultos, pode fundir as diversas culturas e
etnias, não completamente, porém numa contínua jornada.
Não
é também uma questão de imaturidade da Nação americana, haja visto que é nesse país
que as pedagogias mais modernas foram acriticamente e imediatamente implantadas,
portanto, no que diz respeito a educação é na América que temos o de mais atual
e moderno em matéria de procedimentos pedagogos. Dados esses aspectos gerais e
particulares da crise americana da educação, Hanna Arendt vai nos fazer
mergulhar nela, e descortinar as grandes medidas adotadas Na Educação que,
segundo ela, são as principais causas da crise:
A
primeira delas é a ideia de um mundo da criança, uma sociedade das crianças,
até certo ponto autônoma e, consequentemente, podendo se auto gerir. Nessa
perspectiva, o adulto se torna um mero expectador do desenvolvimento da
criança. Dentro dessa ideia outro ponto é que a criança não é tomada
individualmente e fica à mercê do grupo das crianças, enquanto que os adultos
estão à parte, impossibilitados de intervir. No grupo a criança está pior do
antes, pois está subjugado a autoridade de um grupo e um grupo de crianças, por
assim ser, não pode dialogar exatamente por serem crianças, os adultos,
separados, destituídos da autoridade, só podem observar e torcer para que não
aconteça o pior. Libertada da autoridade do adulto a criança se encontra agora
sob a tirania da maioria.
A
segunda é a ideia basilar é diretamente ligada ao ensino. As psicologias modernas
e as doutrinas pragmáticas tornaram a pedagogia uma ciência do ensino geral, ou
seja, um professor não é mais aquele que domina uma disciplina, que detém
autoridade intelectual sobre o que ensina. Ele agora é um “monitor” que sabe um
pouquinho de tudo, ou seja, não domina um conhecimento específico, uma área. Dessa
maneira, a formação dos professores foi negligenciada em seus aspectos específicos,
frequentemente ele sabe pouco mais que seus alunos, principalmente no EM. Em
função disso o aluno está entregue aos seus próprios meios e o professor perdeu
a sua autoridade intelectual, o que ele tinha de mais legitimo.
A
terceira ideia-base vem justamente da aplicação prática de uma moderna teoria
da aprendizagem, que nada mais é do que a base substancial da modernidade e do
pragmatismo: a ideia de que não se pode compreender e saber senão aquilo que se
faz por si mesmo, dessas duas ideias anteriores. Na realidade esse é um princípio primitivo,
que é substituir o aprender pelo fazer. Este é um argumento muito usado pelos
pais que querem que seus filhos parem de estudar para trabalhar, por exemplo.
Dessa forma, pouco importa se o professor domina sua disciplina, já que seu
papel é de mero “instrutor”, ele não vai transmitir conhecimentos e sim técnicas
de aprendizagem, habilidades. A ideia não é passar um saber, mas, condicionar
um "saber-fazer".
Hanna
concluiu dizendo que a crise atual na América, é fruto da consciência da natureza
destrutiva desses três eixos bases e da tentativa de mudar totalmente esse
sistema, mas, segundo ela, o que está se fazendo é restaurar a autoridade e
retornar ao aprendizado, substituindo o fazer pelo aprender e o jogar pelo trabalhar.
Por
isso, no início desse texto, disse que poderia hoje, ser republicado com o
título de “A Crise na Educação Brasileira”. O que vejo aqui não é uma crise
americana dos anos 50, o que enxergo nesse artigo é a realidade brasileira, a
história se repetindo, os mesmos erros sendo cometidos e cada vez mais, o “Joãozinho
não sabe ler”.
Manoel N Silva