quinta-feira, 12 de maio de 2016

12 de maio de 2016, o dia em que a esperança tombou, face a farsa de um impeachment sem crime.



                                                           "Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente. Esta farsa  jurídica da qual estou sendo alvo, é que nunca aceitei chantagem de qualquer natureza. Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada por ter feito justamente tudo que a lei me autorizava fazer", 
Dilma Rousseff

É com profunda tristeza que, nesta manhã, recebo a notícia da abertura de processo de impeachment contra a Presidente Dilma.  Aliado a esse sentimento de tristeza, está a revolta e a indignação de constatar, que após 31 anos do término da Ditadura Militar, e 27 anos da promulgação da Constituição Cidadã, vejo meu país mergulhar em um caminho incerto e nebuloso, um governo que nasce de parto prematuro, gestado em uma barriga que já deu à luz a tantas falcatruas. Um governo sem ideal, sem ideologia, sem programa e sem partido, e pautado somente em interesses corporativos e particulares.
Não sou um ferrenho defensor do governo Dilma, mas, sou um ferrenho defensor dos avanços sociais indiscutivelmente feitos por este e pelo governo anterior. Meu medo e minha revolta é porque quando olho para os padrinhos deste "bebê", reconheço neles o neoliberalismo, a privatização, o descaso com a educação, o viés conservador e fundamentalista, o corporativismo, o elitismo econômico e regional, o preconceito contra as minorias e a total falta de apreço as reivindicações trabalhistas.
Eu não vejo a possibilidade de alianças positivas do PMDB com PSDB e DEM, e com os outros partidos de aluguel. Infelizmente vejo tempos negros para a educação regular e para o ensino superior. Vão priorizar o profissionalizante e sucatear as escolas públicas, aliás, sucatear não, destruir, as universidades públicas e assim, promoverem a privatização, como ocorreu nos anos 80 e 90, quando houve um aumento significativo de escolas particulares no ensino fundamental e médio, relegando a Escola Pública aquilo que hoje ela é.
Já vimos os cortes na Educação pública que foram exigências do parlamento para dar um mínimo de andamento aos projetos e medidas enviadas ao congresso. Uma tentativa de o Governo Dilma barrar as famosas pautas bombas promovidas pelo sr. Cunha. Não acreditemos nos argumentos falaciosos   dos deputados e senadores em seus discursos públicos, que dizem que a crise e os cortes são por culpa das pedaladas e dos créditos suplementares. Essa política foi adotada em virtude da paralisação imposta ao governo pelo parlamento no primeiro ano desse governo. Portanto o que nos espera será um sufoco enorme para as classes mais baixas, o pequeno e microempresário e o trabalhador autônomo!
Espero que o PT tenha a humildade de reconhecer os erros cometidos, reavaliar suas metas e seus princípios, alinhar-se a esquerda e talvez unidos (as esquerdas) possam frustrar os planos dessa elite que novamente se arvora do poder no Brasil de forma ilegítima e covarde, nas eleições de 2018. Brizola tinha toda razão quando pregava a união das esquerdas e combatia ferozmente o monopólio da comunicação no Brasil, principalmente as organizações Globo. E não se enganem aqueles que pensam que tiveram algum peso nas decisões quando foram as ruas gritar Fora Dilma, ou Fica Dilma. Essa jogada foi decidida nos gabinetes, nos escritórios, nas altas esferas do poder político e econômico desse país, locais onde o povo jamais teve ou terá acesso. Além do que, não se muda um jogo mudando apenas as peças do tabuleiro. É preciso mudar os jogadores e mudar as regras do jogo. Na realidade o que aconteceu foi o descarte do PT e dos aliados mais à esquerda, detentores de um discurso voltado para minorias e políticas sociais de inclusão.
Muitos dos críticos dos governos petistas (tanto opositores quanto apoiadores) se ancoram na falta de "pulso" dos governantes, quando na realidade o que aconteceu neles foi o excesso de democracia (eu não acho ruim, quanto mais democrático melhor), uma posição sempre de negociar e fazer acordo e concessões. Isso assustou aquela classe conservadora, acostumada a impor suas decisões e desejos, por isso a união dessas forças conservadoras, possibilitou esse impedimento imoral, usando exatamente esses peões que polarizam nas ruas e nos ambientes em que deveria haver consenso, visto que os interesses são os mesmos.
A tática desses grupos dominantes é a de construir barreiras onde deveriam existir pontes. Dividir as pessoas com interesses sociais, econômicos e políticos comuns, dando ênfase nos interesses particulares de cada um deles ou de pequenos grupos. Por outro lado, universalizam o particular para gerar uma falsa união, como por exemplos as questões éticas e morais, religiosas. Dando a entender que quem não comunga daqueles preceitos é inimigo.
Não que a política seja um lugar de verdades pétreas. Não, os discursos não podem ser socráticos, ideais, são sofistas, eles dão conta do real nas relações humanas, e estas estão permeadas de verdades, verdades diversas, humanas e opositoras na sua grande maioria. Um discurso político é uma tentativa de conciliar verdades opostas, humanas e não divinas, onde as relações são pautadas pela perfeição. A política é da "cidade dos homens" e não da "cidade de deus", como nos diz Agostinho... e nos joga na cara Maquiavel.
Acreditar que existe a possibilidade de unificar os discursos políticos e tornarem homogêneas as verdades humanas é acreditar em milagres. Quando nos excluímos do jogo político, acreditamos que estamos isentos e imunes, puros. Tolo engano. Nessa nossa pretensa isenção e superioridade tornamo-nos peões, tolos úteis e descartáveis que possibilitam os movimentos dos cavalos e bispos, torres, rainhas e reis. Por isso a cegueira de grande parte da população. Não enxergam a contradição que é dizer-se contra a corrupção e apoiar esse estado de coisas que possibilitou o parto político de um governo Temer.
Para o bem ou para o mal, nos resta agora cuidar da arte da política, promover o debate de ideias e tentativas de compreensão da realidade que nos cerca. Discutir o momento em que vivemos e os fatos e atos que se desenrolam, ajudar a solidificar as posições ideológicas, os princípios e revigorar os desejos de mudança e lutas por melhores dias, e consequentemente, reforçar a participação consciente nos movimentos em que nos engajamos com vistas a isso. Por outro lado, não podemos caçar culpados personas. Não existem culpados no âmbito do pessoal, individual, a culpa é de um sistema, de uma conjuntura mundial, que expurga da esfera das decisões aqueles que mais sofrem as consequências dela.
Na minha visão política o que deve nos guiar é o discurso, a conversação, a discussão e o entendimento entre as partes conflitantes. O que eu critico é exatamente essa polaridade que é colocada e que grande parte compra na vã esperança de que a solução dos problemas seja a eliminação do contrário, do opositor, quando na realidade em um sistema democrático, isso não é possível, e o que sustenta a democracia são os acordos e não os conflitos.
No entanto, apesar de todas as incertezas e das sombras que ocultam os caminhos, vejo aí uma oportunidade para que finalmente as esquerdas escutem o antigo conselho de Brizola, unam-se e finalmente formem um bloco coeso e forte, capaz de enfrentar essa corja de criminosos reacionários e fundamentalistas que agora tomam de assalto o poder no Brasil.

Manoel N Silva.

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