O filosofar a realidade prática parece que não convém...
Cada vez que coloco uma questão ligada à realidade, ao solucionar de problemas reais, práticos e urgentes da humanidade, sempre me deparo com uma solidão enorme, salvo umas poucas mentes, às vezes talvez por simpatia, me vejo sem alternativas para o diálogo... me parece que o esforço filosófico se concentra em inventar uma realidade sem base prática e idealizar uma humanidade perfeita, divina que caiba nessa realidade produzida nas mentes brilhantes dos pensadores!
Porque, se é a filosofia a paixão dos que buscam o conhecer novo, as soluções para os males que nos afligem, me deparo sempre com essa parede, esse muro erguido entre o passado e o futuro? Entre o novo e o velho? O que afasta esses pensadores de suas realidades, suas vidas presentes, seus problemas diários? Porque temem tanto pensar em soluções?
Porque mergulham na mesmice do que já foi pensado, tentando de alguma forma entender, acatar, comprovar e não contestar, criar, solucionar? Abrirmos-nos ao debate da realidade como ela se apresenta e não como idealizamos que seja em nossas teorias... Ou das teorias mirabolantes e fora de época de outros filósofos. Partir para uma nova tomada de posição, levando em conta não a teoria passada, pois que todas as soluções antigas foram testadas, mas sim uma que leve a tecnologia, a comunicação, o imediatismo da informação, a comodidade, as ciências e o capital... Pois que eles estão aí não são personagens de livros...
Solucionar os problemas é compreender que a humanidade é imperfeita e que toda realidade sempre será imperfeita, o que devemos é procurar diminuir essas imperfeições, buscando um caminho menos egoísta, porém nunca poderemos "criar" uma sociedade perfeita, pois que isso não é humano!
Essa situação me provoca desejo... Uma vontade enorme de fazer o homem entender, que ele é seu predador, que não temos inimigos ocultos... que somos nós os nossos próprios carrascos...que a vida ...a existência é um exercício de luta, mas que podemos, se quisermos, respeitar nossos adversários, tratá-los com um pouco de dignidade, mesmo que seja para abatê-los e vê-los tombar de cabeça erguida..
Frijot Capra nos diz: "o que necessitamos, pois, é de uma redefinição da natureza tecnológica, uma mudança de sua direção e uma reavaliação do seu sistema subjacente de valores. Se a tecnologia for entendida na mais ampla acepção do termo - como a aplicação do conhecimento humano à solução de problemas práticos - torna-se evidente que nossa atenção foi excessivamente concentrada nas tecnologias pesadas, complexas e consumidoras de recursos; mas que devemos agora voltar-nos para tecnologias brandas que promovam a resolução de conflitos, os acordos sociais, a cooperação, a reciclagem"
Mas, isso a meu ver, não é uma solução é uma acomodação! Ele pede ao mesmo tempo que abarquemos a tecnologia, e mais a frente nega, abranda os usos delas, não dá! Se você tiver um celular que consome a bateria em duas horas e outro que consome em 24h, você vai optar pela "pesada" tecnologia... Ele quer limitar o uso da tecnologia, ele quer fazer o homem recuar diante da sua capacidade criativa, isso não combina com a competição natural. Precisaria de um freio antinatural, ou seja, lei, Estado, justiça ou religião, crença! É o pensar retroativo, buscando a solução atrás e não na frente. Temos que parar de construir o futuro igual ao passado, não podemos parar, tudo se movimenta, é dinâmico! Não dá para fotografar o passado e reproduzir no futuro, temos que construir soluções partindo do que já tem para o que vai vir, antecipar o futuro e não predizer, fatalizar..
Temos de um lado a miséria quase que absoluta e de outra a riqueza extrema. É exatamente essa distância que me proponho a pensar em diminuir, essa imagem precisa ser apagada! Não por que me dê medo, mas porque sou eu. É a minha improdutividade gera essa imagem e não ao contrário! Não é a fome que produz a minha geladeira cheia, é sim a minha geladeira, o excesso do que nela tem que produz a fome.
Não tenho medo da minha humanidade não, eu sei que sou isso, eu sei que sou capaz. Eu queria mesmo é que cada ser humano, conseguisse ver isso, conscientizar-se disso! Parar de dar nomes e formas externas aos seus próprios instintos. Quando o homem tiver a completa consciência de sua finitude, de sua inutilidade e de sua capacidade de destruir-se, ele poderá superar-se!!!
É nessa aceitação que nasce a vontade de mudar isso, é exatamente aceitando a morte que nos revoltaremos contra ela. Buscaremos a solução humana, cientifica tecnológica para fugirmos dela ou pelo menos adiá-la o quanto mais for possível! Quando nos agarramos a uma vida pós-morte, essa vontade desaba, nos conformamos com a morte, pois é apenas "passagem"...!
Se eu acredito que minha vida humana é apenas uma passagem, que eu sou o projeto de um algo além e sublime perfeito... Essa situação pouco me importa, na prática....porque me importaria, pois seu eu sei que esses miseráveis amanhã receberão a devida recompensa... Essas abstrações imbecis é que acabam por dificultar cada vez mais as soluções que poderiam acontecer... Ninguém ama por amar, ninguém doa por doar.. temos que esquecer essa utopia, somos realmente mamíferos que raciocinam, apenas isso..não somos projetos de nada e nem de ninguém...
Vejamos uma situação:
Eu tenho dez filhos, sou rico e tenho uma mansão maravilhosa, com todo o conforto, posso pagar-lhes as melhores escolas, terão tudo do bom e do melhor, viverão num paraíso. Reúno-os quando completam uma certa idade (imaginemos que são todos da mesma idade) e digo-lhes: olhe! Agora vocês serão mandados a viver, por um determinado tempo, em um lugar horrível, onde vocês serão responsáveis pelo seu próprio sustento e terão que trabalhar suar segundo a segundo, pelo seu viver... mas não se preocupem isso é apenas um aprendizado, um crescimento pelo sofrimento, agora tem um detalhe, se não apreenderem irão para um lugar pior do que este , irão sofrer as piores torturas.., porém se aprenderem direitinho e se comportarem bem, sem reclamar da vida e fazendo tudo que o papai disser, no final serão recompensados com uma vida maravilhosa de ócio e prazer nesse paraíso...
Será que algum desses meus filhos se importará com seus rivais? Fará algo para cuidar desse lugar imundo?
A solução começa por nos livrarmos dessas crenças, essas escoras... precisamos nos conscientizar que somos apenas mamíferos que pensam, finitos, e só temos essa casa, não existe uma mansão nos esperando e nem um pai bondoso zelando por nós...esse é o começo da mudança do homem, se ele se conscientizar dessa condição, passará a respeitar esse mundo... A dar valor a essa vida... Que é a única que ele tem!
4 comentários:
Ótimo texto Manoel... recheado de uma lucidez estonteante... e tudo isso sem perder a ternura...
Talvez seja essa a solução... escrever, falar e por que não sair por aí gritando ... aos berros, feito loucos, dentro da solidão... ...não sei se seremos ouvidos, mas dormiremos um pouco mais tranqüilos..
luz e paz
Dar valor à vida é reconhecer que ela vai além do ser mamífero. Somos capazes de doar sem interesses. Se fôssemos todos apenas mamíferos nós estaríamos numa incivilização completa. O raciocínio não nos diferencia muito dos animais. A consciência sensível sim. Tomar atitudes além de nossos instintos.
Para as pessoas é difícil pensar em soluções reais porque elas nem sequer aprendem a usar o pensamento.
Oh Manoel, venham elas, venham ideias que me façam sentir menos socialmente inútil...
Já disse no meu blog, que se eu achasse que era capaz de mudar o que quer que fosse, largava tudo para ir cumprir essa missão, nem que fosse 500 metros debaixo da terra (odeio grutas, note-se).
O que eu acho é que isto tem que ir devagarinho... mudando mentalidades... uma a uma...
Pois, se calhar isso leva muito tempo e há muita gente que morre de sede entretanto... mas não vejo outra solução.
E apesar de tudo eu sou optimista. Falavam vocês no post acima sobre uma imagem negra de cristo não ser nunca aceite...
Para mim, ver um negro como presidente dos EUA encheu-me de felicidade pelo simples facto de achar que isso denota mudança de mentalidades...
Faz-se é tudo devagarinho, irritantemente devagarinho...
Mas venham elas, as ideias, as discussões de como conseguir fazer com que conversas filosóficas consigam ser mais activas no mudar da sociedade
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