A mulher realmente é mais valorizada hoje do que há 60 anos? Toda essa luta, toda essa emancipação realmente aconteceu para colocar a mulher no seu lugar devido? A natureza da fêmea, os apelos da espécie, o instinto materno são respeitados nessa sociedade moderna? A mulher tem seu espaço garantido, usa realmente sua liberdade como lhe convém?
Essas e outras muitas perguntas me passam pela cabeça ao assistir televisão, folhear revistas, jornais, ouvir rádio, musicas... Não consigo enxergar essa mulher independente, emancipada, feliz e ocupando seu espaço na sociedade. Talvez eu esteja sendo “machista” em minha avaliação, mas, não encontro a mulher que, em minha adolescência, as meninas de minha geração sonhavam e lutavam para compor neste futuro que hoje se faz presente. O que vejo é uma coisificação da mulher, um uso cada vez mais banal do corpo, do sexo... Uma liberdade artificial, de mentira. Pois, se hoje a mulher pode sair, trabalhar e disputar os mesmos cargos dos homens, é cada vez mais flagrante a escravidão estética dessa mulher.
A mulher com a qual eu pensava me encontrar nesta década, não era essa mulher-objeto que eu encontrei, e sim aquela mulher que a minha geração havia aprendido a desejar! Aquela mulher que nos preparamos para amar e respeitar, dividir o mesmo espaço, andar lado a lado, olhar de frente... Onde está essa mulher? Ainda é possível que a mulher que minha geração sonhou possa surgir desta sociedade em que o maior valor é a imagem?
Discordo de que a mulher tenha sido sonhada anteriormente objeto, muito pelo contrário, objeto ela se encontra agora, pois que antes a mulher tinha seu espaço, apesar de restrito aos domínios do lar, era soberana. Na década de 70 sonhávamos uma mulher parceira e não um objeto sexual, uma máquina de prazer, que é o que ela hoje se tornou. Os homens de hoje não tem o menor respeito pelas mulheres e muito menos elas mesmas, basta que vejamos os tipos que a televisão, a mídia em geral nos coloca como modelos de mulher: Mulher-melancia, mulher-melão... E vejam que esses modelos são decadentes, antes tínhamos feiticeiras, tiazinhas, que se comparadas as de hoje são muito superiores, tanto em comportamento como no biótipo. No âmbito do lar a mulher era tida como "rainha" e, sem dúvida nenhuma, a influência da mulher nos homens era marcante e decisiva. A mãe era uma imagem sagrada, venerada, respeitada. A maior desvantagem das mulheres de antigamente era com certeza no que se refere ao prazer ao sexo. Pois que sendo "sagradas", não lhes era permitido o profano, o mundano prazer.
Mas, para não ser injusto, devo dizer que uma ou duas gerações anteriores a minha geração pariu mulheres livres, emancipadas, felizes, fortes e conscientes, femininas, mães e profissionais. No cenário artístico, infelizmente, boa parte partiu cedo, ou vitimas dos sonhos ou da violência em si. Elis Regina, Clara Nunes, Nara Leão e a expressão maior dessa mulher, Leila Diniz... Ainda nos restam algumas, Rita Lee, Amelinha, Baby Consuelo...
No caso da contracepção e do mercado de trabalho, devo dizer-lhes que essas foram jogadas de mestre do machismo econômico, era necessária à economia a mão-de-obra dócil e barata das mulheres, e nada mais natural que eliminado fosse o principal obstáculo: a gravidez! E qual melhor maneira de convencer a mulher a deixar a comodidade do lar, do que lhe acenar com uma suposta liberdade, independência, controle do seu corpo e do seu prazer?
O que eu vejo é que a mulher sempre foi manipulada pelo desejo do homem e a necessidade econômica. Pelas religiões e culturas patriarcais, toda essa aparente liberdade não me parece existir... Na realidade o que vejo é a mulher cada vez mais se distanciando desse "ser no mundo", sua posição apesar de parecer livre, na verdade me parece falsa, artificial. Sua liberdade e independência não me convencem de que parte delas e sim que é uma concessão masculina, econômica, que ao contrário de lhes favorecer, favorece aos homens.
Eu não digo que a mulher se desvalorizou, eu digo que ela foi desvalorizada... O que coloco é que a mulher foi manipulada e continua sendo, pois persegue uma ilusão, já que ela busca não uma liberdade da mulher, e sim uma igualdade com os homens, coisa que já a coloca abaixo dos homens, quando na realidade não somos mais que as mulheres e não somos nós que devemos ser combatidos e sim as culturas machistas. A mulher tem que buscar seu espaço e não dividir o espaço masculino. Esse é no meu entender, o erro primordial da mulher, mas posso estar errado. Mas, tenho como certo que o mundo masculino não é o mundo feminino. Apesar de o espaço físico ser o mesmo a ocupação contraria a física. A mulher precisa ser mulher e buscar o espaço feminino ao lado do homem e não contra o homem, ela não precisa retirar o espaço do homem, o espaço dela está lá, vago, impossível de ser preenchido por nós!
O que estou tentando colocar é que a mulher só vai encontrar seu lugar, quando se fizer sujeito, com valores femininos, próprios de sua natureza constitutiva, biológica, emocional...
A mulher que vejo busca, não uma tomada de posição da mulher, e sim uma concessão masculina, um olhar complacente, generoso... Isso já é feito e o resultado é o que vemos... A mulher tem que se olhar como mulher e não como "um homem injustiçado"!
Será que só uma grande tragédia possa colocar a mulher e o homem no mesmo caminho, parceiros e companheiros...
Manoel Nogueira