segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ONDE ESTÁ A MULHER QUE MINHA GERAÇÃO SONHOU?




A mulher realmente é mais valorizada hoje do que há 60 anos? Toda essa luta, toda essa emancipação realmente aconteceu para colocar a mulher no seu lugar devido? A natureza da fêmea, os apelos da espécie, o instinto materno são respeitados nessa sociedade moderna? A mulher tem seu espaço garantido, usa realmente sua liberdade como lhe convém?

Essas e outras muitas perguntas me passam pela cabeça ao assistir televisão, folhear revistas, jornais, ouvir rádio, musicas... Não consigo enxergar essa mulher independente, emancipada, feliz e ocupando seu espaço na sociedade. Talvez eu esteja sendo “machista” em minha avaliação, mas, não encontro a mulher que, em minha adolescência, as meninas de minha geração sonhavam e lutavam para compor neste futuro que hoje se faz presente. O que vejo é uma coisificação da mulher, um uso cada vez mais banal do corpo, do sexo... Uma liberdade artificial, de mentira. Pois, se hoje a mulher pode sair, trabalhar e disputar os mesmos cargos dos homens, é cada vez mais flagrante a escravidão estética dessa mulher.

A mulher com a qual eu pensava me encontrar nesta década, não era essa mulher-objeto que eu encontrei, e sim aquela mulher que a minha geração havia aprendido a desejar! Aquela mulher que nos preparamos para amar e respeitar, dividir o mesmo espaço, andar lado a lado, olhar de frente... Onde está essa mulher? Ainda é possível que a mulher que minha geração sonhou possa surgir desta sociedade em que o maior valor é a imagem?

Discordo de que a mulher tenha sido sonhada anteriormente objeto, muito pelo contrário, objeto ela se encontra agora, pois que antes a mulher tinha seu espaço, apesar de restrito aos domínios do lar, era soberana. Na década de 70 sonhávamos uma mulher parceira e não um objeto sexual, uma máquina de prazer, que é o que ela hoje se tornou. Os homens de hoje não tem o menor respeito pelas mulheres e muito menos elas mesmas, basta que vejamos os tipos que a televisão, a mídia em geral nos coloca como modelos de mulher: Mulher-melancia, mulher-melão... E vejam que esses modelos são decadentes, antes tínhamos feiticeiras, tiazinhas, que se comparadas as de hoje são muito superiores, tanto em comportamento como no biótipo. No âmbito do lar a mulher era tida como "rainha" e, sem dúvida nenhuma, a influência da mulher nos homens era marcante e decisiva. A mãe era uma imagem sagrada, venerada, respeitada. A maior desvantagem das mulheres de antigamente era com certeza no que se refere ao prazer ao sexo. Pois que sendo "sagradas", não lhes era permitido o profano, o mundano prazer.

Mas, para não ser injusto, devo dizer que uma ou duas gerações anteriores a minha geração pariu mulheres livres, emancipadas, felizes, fortes e conscientes, femininas, mães e profissionais. No cenário artístico, infelizmente, boa parte partiu cedo, ou vitimas dos sonhos ou da violência em si. Elis Regina, Clara Nunes, Nara Leão e a expressão maior dessa mulher, Leila Diniz... Ainda nos restam algumas, Rita Lee, Amelinha, Baby Consuelo...

No caso da contracepção e do mercado de trabalho, devo dizer-lhes que essas foram jogadas de mestre do machismo econômico, era necessária à economia a mão-de-obra dócil e barata das mulheres, e nada mais natural que eliminado fosse o principal obstáculo: a gravidez! E qual melhor maneira de convencer a mulher a deixar a comodidade do lar, do que lhe acenar com uma suposta liberdade, independência, controle do seu corpo e do seu prazer?

O que eu vejo é que a mulher sempre foi manipulada pelo desejo do homem e a necessidade econômica. Pelas religiões e culturas patriarcais, toda essa aparente liberdade não me parece existir... Na realidade o que vejo é a mulher cada vez mais se distanciando desse "ser no mundo", sua posição apesar de parecer livre, na verdade me parece falsa, artificial. Sua liberdade e independência não me convencem de que parte delas e sim que é uma concessão masculina, econômica, que ao contrário de lhes favorecer, favorece aos homens.

Eu não digo que a mulher se desvalorizou, eu digo que ela foi desvalorizada... O que coloco é que a mulher foi manipulada e continua sendo, pois persegue uma ilusão, já que ela busca não uma liberdade da mulher, e sim uma igualdade com os homens, coisa que já a coloca abaixo dos homens, quando na realidade não somos mais que as mulheres e não somos nós que devemos ser combatidos e sim as culturas machistas. A mulher tem que buscar seu espaço e não dividir o espaço masculino. Esse é no meu entender, o erro primordial da mulher, mas posso estar errado. Mas, tenho como certo que o mundo masculino não é o mundo feminino. Apesar de o espaço físico ser o mesmo a ocupação contraria a física. A mulher precisa ser mulher e buscar o espaço feminino ao lado do homem e não contra o homem, ela não precisa retirar o espaço do homem, o espaço dela está lá, vago, impossível de ser preenchido por nós!

O que estou tentando colocar é que a mulher só vai encontrar seu lugar, quando se fizer sujeito, com valores femininos, próprios de sua natureza constitutiva, biológica, emocional...

A mulher que vejo busca, não uma tomada de posição da mulher, e sim uma concessão masculina, um olhar complacente, generoso... Isso já é feito e o resultado é o que vemos... A mulher tem que se olhar como mulher e não como "um homem injustiçado"!

Será que só uma grande tragédia possa colocar a mulher e o homem no mesmo caminho, parceiros e companheiros...

Manoel Nogueira

3 comentários:

idade_da_pedra disse...

Como é que é na dialética? Tese, antítese, síntese. É isso não é?
Ora imagina que a primeira metade do sec XX, a sociedade conservadora é uma tese.
Nos anos 60, tudo foi posto em causa:
- é proibido proibir
- o amor é livre
- ninguém é de ninguém
- queimem-se os soutiens e deixem as mulheres de se depilar
- abaixo a instituição família
(não sei como é que foi aí no brasil, mas aqui com a revolução de abril de 74, adoptou-se esta maneira de pensar a 100%; era eu adolescente)
Será portanto a antítese, certo?
Depois aquela postura de exagero também deu buraco... e foi-se dando a síntese. Sínteses pode haver muitas e a que ocorreu talvez pudesse ter sido mais bonita.
A mulher actual, que se adapta à sociedade actual, baseada na imagem e no consumismo (pois, a sociedade foi-se transformando e a evolução da tecnologia deu nisto) nunca viveu essa imagem de mulher dos teus tempos.
A evolução foi ao contrário do que eu esperaria. Agora são os homens que se depilam e fazem tratamentos de beleza, etc, etc :):)
Na parte sexual não me parece que a evolução tenha sido tão negativa como apresentas. Antes era interdito às mulheres o prazer sexual.
O que me parece é que continua a haver uma visão machista da coisa. Homem que vá para a cama com várias mulheres continua a ser visto como um grande macho, inveja de outros homens. Mulher que vá para a cama com quem lhe apetecer é "oferecida", pega, etc, etc... Mas isso é um problema da mente machista que é muito difícil de mudar nesse aspecto.
A mulher continua a ser mulher, completamente diferente do homem, até porque o são em termos hormonais e de funcionamento cerebral.
Parece-me a mim que a tua desilusão com a mulher é igual à que eu tenho com os homens :) O problema não é tanto da mulher mas da sociedade em si, entendes?
Eu nasci em 61, fui e continuo a ser uma hippie :) Prefiro de longe a minha situação à da minha mãe, dona-de-casa :)
Ainda falta muito para acabar com a descriminação da mulher, mas parece-me que o caminho não tem sido completamente errado, tendo em conta a sociedade obsoleta em que vivemos.
Tenho dito!!! :):)

COMENTÁRIOS E CRÔNICAS DA LÚ disse...

Olá Sr desiludido,

Talvez o sr não tenha conhecido ou encontrado em seu caminho, uma mulher forte e decidida ou quem sabe tenha tentado ignorar,mas está claro que hoje só é objeto e fantoche dos homens a mulher que quer assumir esse papel;assim como muitos homens que vivem da sua beleza física, fazendo shows e até sexo por dinheiro. São tantas as conquistas da mulher principalmente no âmbito profissional, que seria hipocrisia negar sua ascenção mesmo em um país ainda machista como o Brasil. Mas quem sabe daqui uns anos chegaremos ao nível de igualdade entre gêneros da Suécia não é mesmo? Engraçado sou uma mulher bem parecida com a que o sr mensionou como "ideal". Mas o sortudo do meu marido já se casou comigo rs....
Passe bem... e não fique tentando jogar lama no ventilador da mulher brasileira; nós somos guerreiras sim e nossas conquistas são reais!!!

Manoel Noueira disse...

Desculpem não responder antes aos comentários, é que só hoje revendo postagens mais antigas cheguei a esses comentários.

Bem, ao contrário do que parece ter sido a impressão passado pelo meu texto, minha a intenção não foi a de denegrir a imagem da mulher e, muito menos da mulher brasileira. Quando escrevi tais palavras, tinha como intenção reviver o ideal dos anos 60 e 70,que visualizaram uma mulher livre, forte, independente da formatação machista que lhes era(e no meu ver, continua)imposta. Essa injeção de idealismo que busquei dar com a minha crítica, se deveu mais ao caráter estético que ganhou a "luta" feminina e a uma concepção pessoal do que é realmente uma mulher livre: Uma mulher que caminha lado a lado com o homem, que ocupa o lugar que a ela é reservado e não o lugar do homem, pois que mulher e homem não ocupam o mesmo lugar. A mulher tem seu lugar próprio e deve manter suas características, suas diferenças em relação aos homens. Não nego nenhuma conquista da mulher, mesmo porque não vejo como conquista e sim ocupação do que na realidade já era seu naturalmente. Não resta a menor dúvida do quanto a mulher avançou muito na conquista de seus direitos, mas, é também verdade, que ela se desviou, precisou ( não tenho certeza)buscar uma postura masculinizada( há exceções, é claro)e, a meu entender, não é este o caminho, a mulher para ser livre não precisa "ser homem", agir como homem, pensar como homem. É fundamentalmente neste ponto que concentro minha crítica. Eu vejo nessa postura estimulo ao comportamento machista do que libertação feminina.

Se prestarmos atenção ao comportamento dos jovens e adolescentes, veremos que se evidencia uma inversão de valores. Meninos cada vez mais se aproximam de um comportamento mais compreensivo e tolerante, enquanto as meninas cada vez mais são agressivas e preconceituosas em relação a este novo comportamento masculino que nasce. Mas, pode ser um engano meu, uma percepção errônea da realidade, aliás, espero sinceramente que seja.

Abraços!!!