terça-feira, 1 de setembro de 2009

MANIFESTO AGNÓSTICO




Não posso compreender o desejo irracional de alguns, de impor uma doutrina, uma visão baseada em delírios particulares e visões mirabolantes de deuses, anjos e vozes de uma dimensão divina e celestial... Qual o prazer destes entes “iluminados” por uma luz espectral e imbuídos de um espírito fantástico e maravilhoso, em nos torturar com os relatos de suas taras masoquistas, com histórias de sofrimento e crueldade?
Qual a finalidade de nos expor a esses sentimentos tão repugnantes e nojentos de anulação e desprezo por si mesmo? Farrapos humanos que se arrastam como marionetes penduradas em cordões invisíveis, manipulados por um ser cruel e sem escrúpulos, que os obriga a renunciar ao seu próprio viver para servir, como escravos, servos passivos e passionais a este, que é (como o dizem) sem forma e sem fim?
Porque vocês, que vivem para rastejar as migalhas de um amor divino, não nos deixam em paz? Porque precisam impor este ser inacreditável a nós, que nos calamos em nossa ignorância?
Porque não vivem seu prazer doentio de louvação entre seus pares? Porque não se lambuzam com as promessas vãs de um paraíso, entre vocês? Poupem-nos desta orgia de sofrimento e alienação, não precisamos da guia deste ser de olhar frio e mãos sujas de sangue, forjado no mais fundo e mais escuro abismo da incompreensão humana.
Recolham-se a orgia hipnótica de seus templos, igrejas, sinagogas... Gritem, sofram e morram como imagens de seres humanos, que babam e vociferam, com olhos esbugalhados e mãos crispadas, num espetáculo de horror, que assusta até o mais experiente dos velhos, imaginem as crianças e jovens? Esses coitados que se quedam horrorizados e amedrontados, diante da transformação, da fúria destes que lhes afagam e beijam as faces... Quem são estes que agora os apontam o dedo em riste e acenam com castigos horrendos em um porão do mundo?
Envergonhem-se de assustar crianças, ameaçar com o fogo do inferno, com a desgraça eterna, esses indefesos seres que lhes pedem apenas a proteção e amor real, palpável de um pai e uma mãe... Parem de transformar seres humanos em loucos, fanáticos fundamentalistas, que se acham possuidores da força divina! Parem de imbecilizar seus filhos, negar-lhes as escolhas de seu destino, a construção de seu viver!  Deixe-os amar sem culpa, sentir o prazer sem ter medo do castigo.
Parem de pregar, doutrinar em espaços ecléticos, se nós, os agnósticos, céticos e ateus, descontentes e afins, fossem vomitar as agruras destes deuses injustos e cruéis, o nojo, a náusea, o enjôo que nos causa essa hipocrisia, essas falsas certezas, essas promessas fantásticas, esses milagres fabricados e essa justiça sem fundamento que é pregada nesses antros de lavagem cerebral, encheríamos as bibliotecas e estantes, inundaríamos as rádios e os canais de televisão, a internet e todos os espaços que vocês freqüentam... Respeitem nossos ouvidos.
Deixem-nos com a dúvida ou a certeza que temos, não precisamos de seus deuses... Não queremos a salvação da alma, deixem-nos viver a nossa incredulidade em paz.
Não posso entender a insistência dos religiosos e em impor suas crenças aos outros, enfiarem-nos goela abaixo seu deus cristão, vingativo e injusto...
E os fanáticos ateus por que não se limitam a debater aspectos filosóficos das religiões? Porque não deixam o que não tem prova a cargo da crença de cada um?
Se deus existe, ótimo para quem crer nisso, que “foda-se” quem não crê, se não existe ótimo para quem não acredita, que “foda-se” quem crer.
Existem os que não sabem ou que não podem comprovar. Aqueles em que a razão não deixa acreditar e a emoção não deixa desacreditar... Sim existimos, e somos nós que sofremos com os ataques de ambos os lados.
Quero o meu direito de ficar na dúvida, e quero respeitar o direito de quem toma partido... Porém que isso seja uma decisão pessoal e não uma imposição de um ou de outro, se um dia eu me tornar crente em deus, será por que descobri isso por mim e não porque um fanático religioso me mostrou isso, pois esses são tão cegos que nem seus próprios caminhos enxergam. Se, ao contrário, um dia me tornar ateu convicto, também não será por ouvir loucos céticos que em nada acreditam e que vivem a tentar provar o que não tem prova..
Quisera que houvesse uma sociedade onde o conhecimento fosse a base, a linha principal a ser seguida... Que as pessoas viessem debater idéias e construir conhecimento e não pregar ideologias e adorar ídolos, religiosos ou ideológicos...
Não tenho um conhecimento profundo ou vultoso, mas nasci com a vontade de conhecer, de aprender.
Esse enorme sentido de liberdade, não liberdade física (que não deixa de ser importante), mas a liberdade do pensar, do fazer seus próprios caminhos, de construir suas próprias prisões, sem a ajuda de mentores ou mestres...
Quando me defino um livre-pensador, não é simplesmente uma palavra, um clichê, e sim, uma condição, uma situação em que se encontra a minha mente, a minha percepção, elas não aceitam condicionamentos.


Manoel N Silva

2 comentários:

Luciene Felix disse...

Nooooossa Manoel, show esse seu protesto, rs. Mas, como diz a música: deixe que falem, que digam, que pensem.... bjs., lu.

Manoel disse...

Lú,foi só um desabafo que fiz naquele tempo que a FILOSOFIA estava permeada de pregadores...