terça-feira, 24 de maio de 2011

VALORES HUMANOS


Grande parte das perguntas da filosofia é destinada ao campo da ética, da moral, dos valores que definem nosso agir no mundo, na sociedade, com o outro e conosco mesmo.
Na Grécia antiga, antes do período clássico, o homem se organiza e age baseado em princípios míticos, e acredita que sua vida é comandada por deuses, no alvorecer da filosofia, lá pelos sécs. VII e VI a.C, filósofos como Tales de Mileto, começam a fundar valores baseados na observação da natureza, ou seja, buscam nas leis da natureza, os fundamentos da moral. A harmonia da natureza deve ser seguida pelo homem no seu agir no mundo.  
Mas, com Sócrates, no séc. IV a.C., o homem começa a ser o centro dos valores morais, ainda não é o individuo como conhecemos hoje, mas, é a primeira noção de individualidade. Foi com os sofistas que a moral começou a se deslocar do âmbito da natureza, da organização natural, representada politicamente pela polis e a ideia de cidadão, e passou a ser uma “medida do homem” (Protágoras e Górgias), aqui já se vislumbra claramente o individuo separado do todo, tanto da natureza, quanto do conceito de polis, cidade-estado, grego.
Na idade média o cristianismo exacerbou essa centralidade do homem e transferiu-o de vez para o centro de qualquer valor a ser desenvolvido, quando definiu  que o homem era  a imagem e semelhança de Deus, e apoiado na teoria platônica das formas. Platão, que dizia ser o conhecimento uma reminiscência da alma, trazida do mundo das formas,  foi resgatado por Sto. Agostinho, através do neoplatônico Plotino, e foi a base de toda a Patrística, corrente de  pensamento que predominou do séc. III até o séc. XII.  
No entanto, com isso fez uma cisão entre corpo e alma e os valores antes centrados na polis, no cidadão,  tomaram uma direção mais individual, pessoal, era uma questão de seguir as regras do cristianismo, o exemplo de deus. Houve uma significativa mudança quando Sto. Tomaz de Aquino resgatou Aristóteles e consolidou a Escolástica que perdurou até o séc. XIV, ele buscou conciliar esta cisão entre deus e homem, alma e corpo, através da razão.
 No fim da Idade média, lá pela primeira metade do séc. XVII Descartes inaugura o pensamento instrumental, racionalista, que separa definitivamente corpo e razão (alma). Deus está afastado do mundo, ele não mais intervém na natureza, não determina os caminhos do homem, ele agora é livre, na esfera do mundo, dessa forma, novamente os valores humanos sofrem modificações, o corpo já não é sagrado, é tratado como simples instrumento, a razão é centro, a “coisa que pensa” é tudo que resta, a única certeza da existência humana, o único elo com deus, o corpo é reles matéria, falho, fraco, impreciso, máquina biológica que serve a toda poderosa razão humana.
Esse pensamento perdura e se fortalece. O homem cada vez mais busca tomar posse do que é seu. Não mais por dadiva divina, mas, por que a sua superioridade racional exige isso, o homem é o senhor da natureza. Ele pode e deve mapeá-la, a razão pode destruí-la e construí-la, basta que a apreenda, compreenda. A razão é senhora absoluta do universo.  
Copérnico, Newton, Galileu acendem as luzes a Europa se levanta iluminada pelo humanismo exacerbado, a revolução industrial projeta esse homem separado da terra, da natureza, capaz de a tudo criar ou recriar. Nasce o homem moderno e seus valores egoístas e mecanicistas, mas, somente até que as bombas atômicas da segunda guerra mundial sobre Hiroshima e Nagasaki, o massacre de judeus, os massacres na África pós-guerra, Coreia, Vietnam, o aquecimento global, a camada de ozônio, a crise do petróleo, a guerra-fria, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Bósnia, Chechênia, Guerras do Golfo...  vieram nos dizer do contrário.
É a crise dos valores, a pós-modernidade, a ressaca tecnológica... O sec XX é marcado pela negação da modernidade, a ciência é colocada em cheque, a tecnologia é fútil, belicosa,  direcionada a economia e não ao homem. Em vez de libertar o homem da servidão, aliviar sua carga de trabalho, cada vez mais o acorrenta, aumenta suas necessidades e o obriga a trabalhar mais e mais, diminuindo seu tempo de lazer, de convívio familiar e social.
A violência explode gratuita, sem sentido e sem direção, preconceitos, racismo, etnocentrismo, intolerância... Não há mais um conjunto de valores capazes de guiar a humanidade, o mundo ouve a palavra globalização, acenam com uma ideia de aldeia global, palavras como ecologia, tolerância, dialogo, preservação passeiam nas telas de TV, nas paginas de jornais e nas ondas de rádio... Nações se organizam em blocos MERCOSUL, UE, ALCA, OTAN, numa tentativa de garantir segurança e barrar a violência irracional que permeia o nosso mundo atual.
Herdamos um mundo carente de valores básicos. Segundo Habermas, o utilitarismo é o que move a nossa ação hoje, o que justifica a ação humana é utilidade: o certo é o que se busca a felicidade, que contribui para a obtenção da felicidade. Ou seja, como nos diz o utilitarismo, felicidade é a ausência de sofrimento. Essa herança pós-moderna é cruel com a criança, com o jovem, visto que o coloca sozinho no mundo, a mercê de “babas eletrônicas” e valores virtuais, abstratos, irreais. O contato humano é mínimo, não existem vínculos reais, a comunicação é intensa, no entanto, virtual e impessoal. Se por um lado temos o conforto dos aparelhos e a segurança dos condomínios, por outro perdemos a capacidade de nos emocionar com o outro, de chorar e sorrir, de sonhar. Não há mais respeito e nem tolerância, pois não nos tocamos, não nos sentimos. Observamos através das telas, captamos através das câmaras. Ouvimos e lemos, não convivemos! Aliás, sequer vivemos...
Eu, particularmente reconceituei o respeito e fiz dele o principal valor para basear meu agir com o outro. Nessa minha conceituação, respeito significa ver o ser humano como igual, seja ele de que cor, raça, sexo, cultura, nacionalidade, posição social, econômica, politica, intelectual. Enfim, qualquer ser humano deve ser olhado de frente e no mesmo nível.

Manoel N Silva.

sábado, 7 de maio de 2011

PERCEPÇÃO EM HEGEL




A certeza sensível é superada e a consciência alcança a percepção quando na  sua experiência os objetos são  apreendidos como verdade na condição de “a coisa de muitas propriedades”. Hegel define esse processo como suprassumir, e ele assim define tal processo:
“O suprassumir apresenta essa dupla significação verdadeira que vimos no negativo: é ao mesmo tempo um negar e um conservar. O nada, como nada disto, conserva a imediatez e é, ele próprio, sensível; porém é uma imediatez universal” (FE, p. 84, §113).

Assim a percepção se dispõe a refletir o ser apreendido imediatamente pelos sentidos. No entanto, já é consciente a certeza de que para que não se desfaça no desvanecer das particularidades, precisa apreendê-lo em sua universalidade. Compreende que ao dizer cadeira está tomando como ser o que permanece de todas as cadeiras particulares, ou seja, a cadeira formal, universal.
Porém nesse novo momento, ainda se revela a imediatez da apreensão desse ser. A essencialidade do universal é somente em relação ao que permanece frente      permanece mediante o que desaparece dos entes singulares. Dessa forma estão colocados indiferentes para a universalidade, ou seja, frente à equivalência enquanto ser. O que há de ser se conserva no universal. Entretanto, é necessário que se estabeleçam diferenças essenciais entre eles, pois se assim não ocorresse, não haveria desvanecimento dos singulares.
Quer dizer, é necessário que no universal sejam guardados tanto a indiferença, que s emantem quando do processo de desvanecimento dos singulares, quanto a diferença  efetiva entre os seres e pela qual inicia o processo contraditório  anterior, onde a certeza sensível não dava conta d as diferenças entre os seres, pois o alcance do seu saber era a imediatez da existência.
Neste momento, se revela outro aspecto já ai presumido, ou seja, a apreensão imediata revela não somente o ser enquanto permanência, mas também a sua diferença, aquilo que lhe distingue de todo o resto. Necessariamente o ser precisa reter em si essa duplicidade, mas, essa relação contraditória ainda é dada imediatamente.  O universal é ao mesmo tempo o permanente e o impermanente. Dessa forma ambas encontram nele sua identidade e simultaneamente se excluem.

Mas, nesse processo contraditório, a consciência se dá conta de um que de inverdade. A consciência  tem ciência  da ilusão, dessa forma, nos diz Hegel, seu critério de verdade é a igualdade-consigo-mesmo, e seu procedimento é apreender o que é igual a si mesmo. Como ao mesmo tempo o diverso é para ela, a consciência é um correlacionar dos diversos momentos de seu apreender. Mas se nesse confronto surge uma desigualdade, não é assim uma inverdade do objeto “pois ele é igual a si mesmo, mas [inverdade] do perceber” (FE, p.86, §116).
Após esse processo a percepção se torna dona de um saber condizente com essa nova conceituação de objeto. O desenvolvimento  de sua experiência se fundará na sua tentativa de manter o objeto idêntico a si mesmo, mediante um artifício qualquer para subtrair deste o elemento que lhe faculta essa oposição interior.

Manoel N Silva


Bibliografia

G.W.F. HEGELFENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO, Tradução Paulo Meneses com a colaboração de José Nogueira Machado, 2ª edição, Ed. Vozes,  Petrópolis-RJ - 1992

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sobre os "mistérios" acerca da morte de Bin Laden e a destinação dada ao corpo.



Disseram o mesmo de Che quando ele foi morto na selva... Uma coisa é certa, podem acreditar, o homem está morto!
Não é uma comparação! Jamais iria comparar Laden com Che... Foi apenas uma observação quanto ao modus operandi de forças governamentais quando se trata da morte de pessoas que podem despertar ondas de protestos e violência, essa não visualização do corpo gera impotência entre os seguidores, ficam com a impressão de que não aconteceu e isso paralisa, inviabiliza qualquer ação mais violenta, pois fica sem sentido, não há objeto real(o corpo).
Depende agora da humanidade fazer dele um defunto ou uma lenda! Acredito que muitos idiotas vão aparecer inventando lendas e histórias mirabolantes. Bush não matou Bin Laden porque era essa busca, esse medo de novos ataques, que garantia os recursos para manter a invasão iraquiana e sustentava seu governo. Obama viu agora que seria exatamente essa morte que poderia lhe gerar dividendos políticos, fez, simples! nada sobrenatural e nem misterioso, simples política, jogo de interesses, conveniência!
Essa onda de especulações e suposições ajuda a manter essa imobilidade, gera dúvida entre aqueles que realmente podem agir e causar violência. Pior do que qualquer duvida ou especulação é dar ao inimigo motivos materiais para que ele se agarre e com isso possa realizar, objetivar sua dor, sua revolta. Imaginem a comoção que seria, uma imagem de Bin Laden, indiscutivelmente clara em rede mundial? o que isso provocaria nos países em que os fundamentalistas muçulmanos detém o poder?
Só idiotas podem cogitar que fossem mostrados, o corpo ou qualquer outra prova material, como fotos e vídeos!
Portanto, senhores se contentem como o que foi dito e divulgado pelo governo americano, que já foi muito, na realidade se Obama não precisasse tranquilizar os americanos e principalmente do apoio politico, ele talvez nem tivesse divulgado tal morte, seria o mais coerente, bastava que os seus seguidores mais próximos e o governo americano e seus aliados soubessem disso.
Não há motivo para que a massa saiba de tais fatos, ela costuma ser bondosa com os mortos, tendem a perdoar e minimizar seus atos enquanto vivo!
Eu nunca acreditei nos EUA, que fique claro, ou em qualquer outra fonte, eu simplesmente analiso fatos e situações, momentos históricos, contingências, contextos e daí reflito e elaboro minhas análises e concluo sobre  a questão que foi colocada. Nesse caso, não resta a menor dúvida de que o homem está morto.
Agora vocês podem  elaborar seus contos de fadas e fazerem suas estorinhas, garanto para vocês que não serão  as única e, nem as mais complexas, haverá pessoas de muito mais talento e projeção que farão bem mais complexas e melhores que vocês...

Manoel N Silva

terça-feira, 3 de maio de 2011

A Certeza Sensível em Hegel



É o primeiro momento da consciência natural, aqui o sujeito ainda não tem consciência de si, o conhecimento está fora, é algo exterior, independente, embora haja já uma gradativa relação que leva a consciência do objeto (Em-si) ao seu próprio saber (Para-si), que irá resultar na anulação da “coisa em si” de Kant, chegando à consciência ao reconhecimento de si mesma no objeto de seu conhecimento.
Nesse momento inicial a consciência é somente percebida separadamente, sujeito do objeto e certeza da verdade, pois ainda não há uma consciência de si mesma.  A consciência não concebe ainda seu saber e a verdade, imagina ser igual, uma relação sem mediação, uma apreensão imediata do objeto. Mas aí já há um indicio de mediação, essa separação sujeito/objeto, é, como coloca Hegel, a "diferença capital".
Nesse primeiro movimento da consciência natural, a certeza sensível tem convicção de que seu saber é rico, pois é imediato, se dá sem nenhuma mediação, ela se acha capaz de apreender qualquer coisa no espaço (isto) e no tempo (agora). No entanto, é um saber pobre para “nós” (os filósofos) que estamos reconstruindo o caminho da consciência natural, pois ao buscar a concretude, o material, ela perde-se na universalidade e se vê diante de uma diversidade onde apreendia apenas a singularidade.
Na tentativa de viabilizar seu saber, a certeza sensível primeiramente, encontra no objeto a essencialidade, é onde está o saber imediato.  Desse modo, na dimensão do tempo, facilmente se refuta a afirmativa da certeza sensível de que o agora, por exemplo, é noite, visto da impermanência de tal estado, noutro momento o agora é dia, é tarde... Assim também, acontece em relação ao espaço, há uma mudança, assim, o "isto é uma árvore", não é mais ao deslocarmo-nos e depararmo-nos com o "isto é uma casa". Portanto, na tentativa de apreender o agora e o aqui, essa consciência primária, esbarra em todos os agoras, e se encontra diante de todos os aquis. Assim dizendo, nesse primeiro momento, essa consciência natural, se vê impossibilitada de conhecer o objeto singular, pois visa a imediaticidade, o permanente, a imobilidade alegada por Parmênides e Zenão, e essa procura a leva a indeterminação, ao universal.
Contrariada neste movimento, impossibilitada de conhecer o objeto em sua essência, a consciência natural, numa ação reflexiva, volta a si mesma, ao sujeito, e acredita ser ele o essencial. No entanto, esse retorno ao “Eu”, não é ainda o momento de síntese, é apenas uma transferência, uma mera mudança de lugar, ainda é o imediato o que mede o saber. A verdade agora não está no objeto e sim em mim mesmo, no meu saber interior sobre o objeto, não há mais um tempo e espaço fora de mim, não há mais “aquilo em si”, mais sim “aquilo para mim”. Nesse segundo momento, quando é o sujeito, na sua experiência sensível, o permanente, numa clara referência a Protágoras e aos sofistas em geral, é o “sujeito como medida de todas as coisas”. É a tese do relativismo, onde apesar da contradição entre elas, as opiniões são verdadeiras. Portanto, esse movimento só leva a certeza sensível até um Eu universal, sem chegar ao singular de qualquer saber. Essa singularidade do Eu, que é a busca da certeza sensível, é anulada pelos outros  Eus, no tempo.
Ao se chegar a esse terceiro movimento, a essa síntese da identidade, onde tanto o  repouso quanto  o movimento fazem parte do Ser,  a consciência descarta essa certeza sensível, visto que nela não há uma mediação, uma relação na apreensão do imediato. Então, sem possibilidades de dar conta do singular, pois em ambos os movimentos, seja no objeto, seja no Eu, só consegue chegar à pluralidade, a indeterminação, a universalidade, ela se dirige para essa síntese, porém, ainda se agarra a imediatez da verdade, só que agora ela vai está na relação entre sujeito e objeto.   Já não há um agora imediato, ele é algo que se mantém no ser e no outro, o aqui e o agora se fundam nesse movimento em que o aparente, o falso também é.
No entanto, nesse ceticismo de Hegel não há uma negação absoluta, onde nada existe, esse nada tem determinação. O que nos remete a Fichte na sua proposição de que o “eu é determinado pelo não-eu é o não-eu é determinado pelo eu” . Também no âmbito do espaço o aqui não permanece, multiplica-se no ser/outro, já que ao apontarmos um aqui, nele estão, ao mesmo tempo, inúmeros aquis. Ao se referir a "pluralidade simples de agora”, "multiplicidade simples de aqui", revela essa relação entre opostos, e isto a certeza sensível não apreende e então é superada por si mesma.
No entanto, refazendo este caminho da certeza sensível, percebemos “nós” (filósofos), que há uma impossibilidade entre a apreensão do imediato e a experiência da certeza sensível, assim ao dizer do imediato, do singular, apenas diz do universal e destrói qualquer concretude de seu saber, visto que este se revela indeterminado, abstrato. Dessa forma, esse terceiro movimento dialético nos leva a um novo momento, suprassumida a certeza sensível, compreendida a impossibilidade de um saber imediato, a consciência se volta para a figura da percepção.
 Manoel N Silva
Bibliografia

G.W.F. HEGELFENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO, Tradução Paulo Meneses com a colaboração de José Nogueira Machado, 2ª edição, Ed. Vozes,  Petrópolis-RJ - 1992