Copérnico lança os fundamentos ptolomeicos e aristotélicos da antiguidade clássica no vórtice do furacão heliocêntrico que inaugura a chama da modernidade, atiçada de vez por Galilei. Por outro lado, Bacon e Descartes lançam os fundamentos de uma nova ciência cujos métodos seriam certos e indubitáveis, pois se sustentariam nos princípios matemáticos. Pois, como disse Galileu: “a matemática é a linguagem de deus”, portanto, essa nova ciência se propõe a desvendar a natureza e o universo. Descartes decreta a cisão fundamental que necessitava a ciência para correr livremente, o corpo e alma não são “uno”. O corpo não passa de um instrumento do qual a alma se utiliza para movimentar-se. Enfim, o corpo é instrumento da alma. Estão lançadas e fincadas as pedras e as estacas fundamentais da Ciência Moderna!
Pascal, Newton, Kepler... O mundo gira, a terra gira, e o universo não se resume ao Sistema Solar, a ciência avança e promete um mundo onde o homem será seu deus. O homem moderno não precisa de nada além da sua razão para dominar a natureza e a tudo reproduzir com esse conhecimento infinito que a ciência lhe oferece! Mas nem tudo são flores no caminho da razão... Kant lhe golpeia fortemente, quando lhe impõe certos limites, principalmente no campo do conhecimento! Apesar de todos os ataques e críticas, a razão avança firme implantando seu império científico.
Acendem-se as luzes no mundo e a razão continua soberana e firme, comandando o progresso da humanidade, lhe permitindo criar tecnologias que lhe vão tornando cada vez mais forte e capaz de dominar o ambiente natural, modifica-lo e até recriá-lo ao seu bem prazer. O iluminismo aponta para a razão como a deusa da liberdade e da paz. A Ciência é humana! A religião se recolhe aos templos, divorcia-se do Estado, recorta-se, reparte-se, busca os novos mundos, enfraquecem politicamente e perdem força moral. “Se Deus está morto, tudo nos é permitido!” dirá, anos mais tarde, Dostoievski, na voz de seu personagem Ivan. Depois dele, Nietzsche se tornará o arauto do humano pós-moderno, na figura impar de Zaratustra, o anticristo moral. A Humanidade avançará na tecnologia e apodrecerá em seus valores morais e suas atitudes niilistas.
Napoleão “liberta” a Europa definitivamente de seu sono metafisico e avança a revolução industrial, as colônias do Novo Mundo, acalantam seus sonhos de liberdade com os hinos iluministas que soam na Europa e tornam-se nações livres e independentes! O Século XVII se deixa cair em luzes no Século XVIII, que por sua vez, faz brilhar ainda mais a deusa razão e sua mais reluzente filha: A ciência!
O século XIX cai sombrio sobre o iluminado século passado... A Revolução Industrial reconfigurou o mundo e as sociedades, as cidades, as pessoas, derrubou os valores, os costumes e destruiu os modelos sociais fazendo surgir outros. O indivíduo está agora só, apartado dos outros. Uma nova concepção de homem surge, arcabouçado de novas categorias, operário, trabalhador, privado, público... A filha da razão dá a luz às novas filhas que o mundo moderno exige: Sociologia, Psicologia, engenharias diversas e o homem se torna peça de uma grande máquina industrial, mera engrenagem cujo único fim é mantê-la funcionando!
Disso tudo padece o nosso querido século XIX, e o que ele lega para o século XX, além de aviões, tanques e navios de guerra, é um mundo doente, doente de medo, que perdeu a fé e o rumo. Que não faz sentido e nem tem sentido. O homem que vive nesse mundo é tão sem sentido quanto ele, a sociedade está dividida em duas classes antagônicas e interdependentes, a Europa apodrecida e decadente se perde em conflitos e explode a Primeira Grande Guerra Mundial, uma Guerra sem porque e sem pra onde. Na Europa Oriental os operários aproveitam-se da insatisfação popular e tomam o poder, dividindo o mundo em dois blocos distintos e multiplicando o medo por mil! No Oriente o medo se chama fundamentalismo, no Ocidente ele pode se chamar Capitalismo ou Comunismo, Liberalismo ou Socialismo, mas seja lá, seja cá, ele tem a mesma face e seus frutos são os mesmos em todos os lugares, morte, guerra e violência.
Mas, em meio a isso tudo, a ciência floresce e cresce rápida e faceira, cada vez mais brilhante. O medo é um terreno fértil para o crescimento das telecomunicações e a eletrônica... Mal se tem tempo de limpar os destroços causados pela Primeira Guerra e explode a Segunda, o mundo vai descobrir que o medo não tem limites e que seu rosto pode ser o rosto de qualquer um, seu vizinho, seu pai, sua mãe, seu irmão... Se Deus esta morto, o homem é seu próprio demônio!
A Europa se despedaça enquanto o mundo treme diante das modernas bombas e mísseis alemães, estarrecidos os homens assistem ao extermínio em massa de judeus, negros, deficientes, prostitutas... Quando nada mais de desgraça podemos imaginar que possa nos acometer, eis que acontece o pior, o homem finalmente virou deus, ele adquiriu o poder de destruir o mundo. O cogumelo maldito floresce em Hiroshima e Nagasaki. O medo assume a forma mais hedionda que o mundo jamais viu.
A semideusa ciência chegou ao seu ápice. O mundo sem rumo e sem esperança se volta contra a mãe razão, ela já não faz sentido, já não é capaz de prover de esperança o homem. O medo é o novo governante da humanidade, colocamos todas as nossas fichas na ciência, vamos conquistar o espaço sideral, se este lar está ameaçado, precisamos buscar novos mundos, precisamos assegurar a sobrevivência humana, a primogênita da razão nos levará lá! Os jovens fazem amor e rasgam os sutiãs, cantam rock e vestem sarongs, queimam incenso e fumam haxixe e ópio, visitam o Nepal e morrem de overdose de sonhos! E ainda acreditam que as flores vencem os canhões e que e melhor fazer amor do que a guerra!
Hitler ressuscitou Deus e o povo judeu ganha seu pedaço de chão. O mundo se divide ainda mais, as ditaduras, os regimes totalitários, os líderes sanguinários se multiplicam pelo mundo afora. Lá no velho oriente as coisas pioram. O medo agora atende por terrorismo e se veste com o manto sagrado do fundamentalismo. Aqui do lado Ocidental, ele se chama guerra fria e se esconde atrás de cortinas de ferro e se veste de Imperialismo! Mas, o Século XX, não é um só, ele se multiplica, não cabe em cem anos, ele vai fazer mais. O computador se popularizou com a criação do computador individual e a internet ligou o mundo em redes sociais. O homem em busca das estrelas, leva junto a guerra, colocou olhos no espaço, pisamos o solo lunar e fizemos a guerra nas estrelas, construímos estações no espaço e, aqui embaixo o muro caiu, o Papa saiu de carro e rodou o mundo, Mandela foi preso. Enquanto isso o papa peregrino levou um tiro na praça e mundo rezou! Se Hitler ressuscitou Deus, Karol Wojtyla o popularizou.
Na Iugoslávia, o sangue correu sem que o mundo se importasse. Lá no golfo pérsico, Irã e Iraque fizeram mais uma guerrinha, Saddam invade o Kuwait e Israel bombardeou a Faixa de Gaza, depois de atentados palestinos a soldados judeus. Mera rotina... Assim acaba o século XX. Fechamos o segundo milênio do cristianismo não mais com medo da guerra fria ou buscando estrelas, mas sim, legando ao novo milênio o maior dos feitos do homem moderno: Dolly, a ovelha clonada!
O século XXI parecia ser o século da paz, onde a preocupação do homem se voltaria para as discussões morais e éticas, finalmente poderíamos ter a paz que tanto almeja a humanidade... Mas, uma vez mais o homem é surpreendido pelo medo irracional e sem sentido, o templo maior do capitalismo ocidental é ferido de morte e o mundo estarrecido assiste ao vivo e em cores as Torres Gêmeas do World Trade Center, sucumbirem sob um ataque terrorista em que dois aviões foram arremessados contra elas, deixando um saldo de mais de 5000 mortos... Bin Laden é o responsável... O Iraque é invadido e finalmente Bush filho concretiza a vingança americana enforcando Saddam. O Iraque não possuía armas químicas!
No país em que o racismo sempre foi um problema sério e o capitalismo tem seu mais forte pilar, um negro é eleito presidente e o sistema financeiro entra em colapso... Na Líbia, a revolução passa pela rede e Kadafi é deposto e morto, israelenses e palestinos continuam trocando tiros em Gaza...
Manoel Nogueira da Silva.
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