Não
creio em deuses, mas, compreendo que o homem, perdido nesse mundo sem sentido,
entregue a absurdez de uma existência sem propósitos, mergulhe em sonhos e
buscas que lhe justifique o viver.
O
homem, nessa sua ânsia de sentido, fantasia e cria ilusões de determinação,
parindo deuses e neles termina por acreditar e, assim, já preso aos seus
delírios, começa a criar conceitos e atribuir a esses o status de verdades
absolutas e inquestionáveis.
No
entanto, me intriga e espanta a força que essas ilusões ganharam e o quanto se
tornaram firmes os conceitos irracionais que tentam justificar a existência de
um Deus que pensa e carece de adoração, que se enfurece e destrói sem pena e
sem dó, sua criação.
Aceito
essa atitude no ser humano, mas, não compreendo como a grande maioria das
pessoas, que possuem as mesmas capacidades, os mesmos aparatos cognitivos que
eu e, que não raro, são muitíssimos mais capazes e eficientes em apreender e
processar informações e impressões que eu, aceitam e se satisfazem com essas
fantasias.
Tenho
alguns amigos que se tivesse de submetê-los a uma análise comparativa entre a
minha capacidade de compreensão do mundo e a deles, certamente as deles seriam
infinitamente superiores à minha. No entanto, em se tratando de coisas místicas
e religiosas, eles simplesmente ignoram as perspectivas do ponto de vista
lógico e racional, para se atirarem irracionalmente as crenças insustentáveis,
quando o sensato seria, pelo menos, suspenderem qualquer juízo, se colocarem
numa postura coerente de ignorância e incapacidade de apreensão diante de tão
frágeis construções intelectuais.
No
meu entender, essas atitudes são tentativas de significação, provocadas pelo
medo da indeterminação, o desespero e a angustia diante da constatação da
pequenez do homem, da completa solidão existencial. Órfão de criadores, o
homem, nega sua cognição e seus sentidos e se entrega a doce ilusão de um Deus
que lhe guia e ampara.
Eu
não consigo conceber-me determinado, fruto de um criador e preso a um destino,
um proposito preconcebido, por isso esse meu completo atordoamento, quando me
confronto com essa esmagadora maioria da humanidade, que crer, de alguma forma
em algum ser fantástico que lhe concebeu a vida e que por tal, exige dedicação,
adoração e sacrifício sem nenhuma contestação ou dúvida.
Não.
Infelizmente não posso ir contra a lógica, a racionalidade e a história,
principalmente esta última, que me mostra que a trajetória humana no mundo,
nega qualquer determinação ou destino. Não existem vestígios sólidos,
evidencias concretas, ou sequer, uma teoria consistente que nos aponte para uma
entidade criadora, de um ser que esteja além do acaso que possa nos ter dado a
vida.
A
própria vida é uma incógnita! Não existem parâmetros para que o homem possa assegurar
com toda certeza, o que é vida e o que não é. Quem poderá afirmar que o
inorgânico não é vida? Afinal, o orgânico nada mais é que elementos inorgânicos
que se combinam a partir do elemento carbono, então seria o carbono o criador
do homem, da vida? Honestamente, só posso afirmar que não sei.
Diante
disso, eu deixo tudo em aberto. Não me concebo nada mais do que me apreendo
pelos meus próprios sentidos e pela minha própria capacidade cognitiva de
processar essas apreensões, sem ressignificá-las ou submetê-las aos meus
desejos e anseios de sentido. Ou seja,
sou um ser sem sentido e sem determinação, incapaz de compreender a concepção
de criador e/ou me definir criatura, criação.
Manoel N Silva.