A IDEIA DE HOMEM
"As ideologias são
inegavelmente fruto de condições históricas, sociais, econômicas, etc. As
ideias não conduzem o mundo; muitas vezes, porém, elas o fazem girar num ou
noutro sentido. Pois elas se justificam, se fazem aceitar e, por conseguinte,
compartilhar, por meio de outras ideias, entre as quais a ideia do homem é uma
das mais poderosas." Francis Wolff
A
ideia do homem é nova. A ideia de "cidadão" ou como disse Aristóteles,
"zoon politikón" é, no meu entender, muito mais poderosa! Essa ideia
de homem, adubada no medievo e nascida na modernidade, exclui o mundo e o
outro, diferentemente da ideia de cidadão que interlaça e interliga o homem ao
seu meio, tornando-o parte de um processo coletivo de existência.
Mas,
concordo plenamente com a mudança de configuração, e por isso mesmo, discordo
do poder dessa nova ideia. Ela ainda engatinha e se debate nas malhas do
determinismo medieval e está à mercê das correntes do positivismo moderno.
A
ideia de homem é ainda um mero rascunho, carece ainda de traços fortes e cores
mais nítidas para se fazer valer e superar as dicotomias. Ainda penso que
chegaremos a uma versão da ideia de homem que possa inserir o outro e o mundo,
sem determinar o eu, rejeitando assim, a pretensão cartesiana: o homem (eu
pensante) como principio e fim... E nessa pretensão o homem, como ideia, perde
força e se perde na alteridade e no mundo.
O
homem na concepção essencialista é determinado. Por isso nos atrai. A segurança
da essência nos conforta e nos da um sentido. O homem moderno é órfão, como
diria Pascal, está abandonado. Já na concepção existencialista estamos
"condenados a ser livres", indeterminados, sem sentido. Absurdamente
livres!
Mas,
indeterminação e liberdade não são sinônimas. Liberdade não significa
necessariamente indeterminação. Somos determinados, na medida de nossa condição
orgânica e biológica, química... Isso não significa que não somos livres.
Liberdade é, no meu entender, a possibilidade dela mesma e não ela em si mesma.
Assim posso ser determinado a viver, mas escolho viver ou não...
Mas,
penso que Sartre seja muito radical na sua concepção de indeterminação,
materialista demais para a condição humana. Tendo mais para a concepção Camusiana
do que para Sartre...Não somos determinados intelectualmente, mas fazemos parte
do universo, não estamos aqui alheios ao mundo e a tudo. Não há um criador, mas
somos criação.
Desde
Kierkegaard, Heidegger, Dostoievski, Nietzsche...o homem e suas angustias,
desesperos, absurdos e a incompreensível liberdade! O pior é que não há um
"não ser"... Essa é a determinação que gera a absurdez da existência
humana.
Costumo
dizer que o homem (enquanto ser racional) é uma criança, está no máximo, na
pré-adolescência da razão. Quero crer que amadureceremos como seres que pensam
e chegaremos a nos compreender e compreender o que é ser humano!
Manoel N Silva
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