“Nada que acontecerá lá
em cima hoje irá me afetar. Tenho minha profissão, meus filhos e minha vida que
praticamente independem de presidentes do Brasil, da câmara ou do senado.”
Essa
frase deve ter sido proferida por um daqueles perfeitos bobos que pensam que
são realmente ricos o suficiente para não dependerem de políticas públicas, do
Estado, das leis, etc.... enfim, alguém digno de pena e nada mais.
A
diferença entre pessoas assim e a maioria de nós, é que apesar de não sabermos
exatamente o que vai acontecer, temos noção do que pode vir a acontecer, e o
que é mais importante, pensamos não em nós simplesmente, e sim nas gerações
futuras, filhos, netos, etc. E mesmo no o entregador de água, no empregado do
mercadinho, no garçom que nos serve na churrascaria da esquina...é isso!!
O
governante brasileiro foi eleito na realidade, um governo sem maioria (como
aconteceu com todos depois da ditadura), dessa forma precisa compor uma base
parlamentar no Congresso. Até aí, tudo bem, não importa muito, é normal e assim
deve ser. Porém, o Congresso é espúrio e está permeado de egoístas,
parlamentares de legendas de aluguel, partidos nanicos, que barganham apoio em
troca de favores pessoais e propinas.
Quem
se interessa por política e relações econômicas e sociais, sabe que este estado
de coisas não tem nenhuma relação com a competência ou incompetência da
presidente e, sim, com a conjuntura política que obriga o governo a fazer alianças,
coalizões para garantir a governabilidade. Em outras palavras, o sistema
eleitoral possibilita que um governo seja eleito com uma minoria no Congresso,
obrigando-o a fazer conchavos. O que precisa mudar não é a presidente é o
processo eleitoral. Não confundamos parlamentarismo com presidencialismo. Não
se pode ter “recall” em regimes presidencialistas. Se quisermos verdadeira
mudança devemos ir para as ruas pedir reforma política profunda e não Impeachment!
Não
existe ninguém puro em política, principalmente em uma política como a nossa,
com vícios milenares e corrupção enraizada nas mais diversas camadas do serviço
público. Por isso mesmo é que quero mudanças reais e não simples troca de
pessoas. Eu também não estou satisfeito com as políticas do atual governo, mas,
nenhum outro partido se me apresenta com propostas melhores. O grupo de
políticos que se ajuntam em torno dessa proposta de impedimento da presidente,
envergonha até certos criminosos, imaginem o nojo que causam na sociedade
brasileira!
Dessa
forma, não discuto pessoas. Se prestarmos atenção constataremos que não são
pessoas, indivíduos que provocam situações como essas. Tolo é quem acredita que
exista um culpado. Acreditar que o problema é de indivíduos, que basta eleger
um culpado e tudo bem, é um raciocínio infantil, que visa apenas a mascarar a
realidade da política brasileira e de suas relações com empresários e imprensa.
Não
quero trocar de presidente, quero apenas cumprir o que a nossa legislação e
constituição determina. Constituição essa que eu aderi, que aceito como guia
dos meus atos perante a sociedade brasileira. Não é porque elegemos mal um
governo que devemos jogar fora as leis que elegemos para ser a nossa guia
legal, para pautar nossa convivência.
O
que estão chamando de exercitar a democracia, nada mais é que o contrário
disso. Desejam-se, por motivos que não são reais, suposições, suspeitas, depor
um governo legitimamente eleito dentro das regras do jogo político e eleitoral
vigentes. Isso sim é ferir a democracia, ir contra a Constituição e as leis
vigentes. Isso é um exercício de excesso, de extrapolação da legalidade e não de
democracia.
Eu
sou antes de tudo, um cidadão consciente. Portanto, não me sujeito a sistemas,
busco-os modificar ou extinguir. Aprendi
desde muito cedo que não existem inocentes e nem culpados, na sua forma
individual, no âmbito do pessoal e particular. Qualquer sistema para funcionar
necessita de um apoio coletivo, mesmo que esse apoio seja conseguido de forma
enganosa, manipulando e deturpando. Para mudar não é simplesmente mudando as
pessoas lá de cima, é preciso mudar as pessoas aqui na base, conscientizar a
sociedade que nada é gratuito e que nenhum político vai ser o salvador, nenhum
juiz, nenhum partido, nenhuma corte ou instituição. Só se muda quando o povo
muda.
Manoel Nogueira.
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