Começo
essa reflexão entre percepções confusas, apreensões difusas, irracionais. Quisera
a lucidez das certezas políticas e econômicas que sempre tive em tempos
anteriores. Quisera, mesmo que no crivo dos censores e diante das amarras da
ditadura, a clara visão do inimigo, o conhecimento de seus objetivos, a consciência
de suas armas e suas ambições. Ou, em tempos de liberdade, as tendências e
interesses no tabuleiro do jogo político, onde cada peça tem seus movimentos
declarados, cada jogador tem seu objetivo definido e as regras são do
conhecimento e alcance de todos. Hoje me sinto Alice no tabuleiro da Rainha de
Copas, as regras são quebradas sem punição e os jogadores adversários são meras
cartas de um baralho viciado, cujo dono ninguém sabe, ninguém viu!
Olho ao redor na tentativa de entender quem manda! Quem
decide os destinos de mais de duzentos milhões de brasileiros? A quem
entregamos nossas vidas e nossos desejos de nação? Como fomos tão ingênuos e
tão tolos?
As perguntas aqui formuladas, na realidade são mera retórica,
sabemos que não há culpados e nem inocentes, não somos tolos e nem ingênuos, nossa
sociedade é isso que hoje nos governa. Não houve enganos! Em cada cidadão de
bem, em cada pai de família, em cada crente, reside um Bolsonaro, ou parte
dele. Essa incerteza é fruto da diversidade de sentimentos e desejos que
levaram esse protótipo de ditador,
fantoche ou mero espelho social, ao cargo de presidente.
Até aí, tudo bem! Mas, o que me intriga e me desespera é
que ele não se definiu governante e nem definiu quem governa! Ele é uma incógnita,
uma fábrica de contradições e ações desencontradas. Seus aliados batem cabeça,
se desculpam e desculpam-se, desdizem-se e não se definem. Não sabemos quem
governa e, me parece, nem eles. O governo
reflete em sua constituição a mesma disparidade de seus eleitores, de um lado
temos o grupo militar que até agora não disseram a que vieram, se são a espinha
dorsal desse governo ou se meros acessórios; de outro lado temos o núcleo político
que se equilibram entre os processos e
investigações e o trânsito no parlamento; já os super ministros da Justiça e da
Economia estão de mãos atadas e reféns das suas histórias, calados, cabisbaixos
e sem força real; se não bastasse, temos ainda o núcleo psicodélico, surreal, pirotécnico
que só falam e fazem besteiras e asneiras.
No
âmbito do legislativo a coisa se repete, se de um lado temos no congresso uma
maioria conservadora e afeita a pautas liberais, o partido de Bolsonaro e
outros mais a direita, trouxeram um punhado de apolíticos, parlamentares que
não aceitam o jogo dos discursos e das alianças, dos acordos e dos conchavos,
acreditam eles que na politica tenha que prevalecer o “certo”, não entendem que
a política é o campo das disputas verbais e que nem sempre vence quem tem a
verdade e sim quem tem a palavra, o verbo.
No
campo do Judiciário, a campanha politica, os privilégios e os erros da
Lava-jato, colocaram os juízes e os tribunais de calça curta, reféns de seus atos
impróprios e nada éticos, embora legais, não tem a força moral para ganhar a
confiança do brasileiro. O STF virou piada e a Lava-Jato sinônimo de abuso de
poder.
No
lado social e corporativo, temos as mesmas incertezas, centrais sindicais não
se definem enquanto oposição ou situação, setores organizados da sociedade não
se colocam claramente diante da situação. OAB, CNBB, FIESP se fazem de
mortas...
Apear
de tudo que aqui expus, infelizmente não consegui chegar a uma conclusão clara,
definitiva, que pudesse satisfazer minha mente e acalmar a inquietude do meu
ser. Termino essa reflexão sem respostas e com a sensação de que continuo na
história de Lewis Carrol, e que não sei se o presidente do meu país é um rei de
copas, um chapeleiro maluco ou um sapo-lacaio, e que eu não terei a sorte de uma irmã me acordar para
um chá da tarde...
Manoel
N Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário