quarta-feira, 1 de maio de 2019

CRÔNICA DE UM (DES)GOVERNO




Hoje, acometido de uma gripe forte, impossibilitado de ir leciona, sento-me à frente do computador e busco articular uma analise positiva da atual conjuntura brasileira, penso, repenso leio as noticias e me debruço  sobre as ações, as repercussões e as reações nacionais e internacionais, nas áreas politicas e econômicas, nas relações de trabalho e no âmbito do social. Tento vislumbrar uma luz, um fio condutor que nos aponte uma saída para a segurança, por exemplo.  Tem o tal pacote anticrime que se coloca como solução contra a violência e a impunidade. Que promete acabar com a criminalidade, mas que na realidade, analisando friamente, a luz da realidade e não sob as  lanternas ideológicas e corporativas, encontramos apenas uma tentativa de aumentar o poder dos juízes e legalizar a violência policial. Tais medidas, isoladas e sem articulação com as áreas de educação, saúde e acadêmica e sem politicas de criação de emprego e distribuição de renda, seriam, na melhor das hipóteses nulas e, na pior, aumentariam a violência policial e numero de mortes de policiais, como já nos mostram índices de criminalidade divulgados nesses três meses de governo Bolsonaro.
Se, a menina dos olhos da campanha de Bolsonaro, a bandeira que o elegeu e a centenas de políticos e alguns governadores, não decola, o que seria então que sustentará seu governo?
Na área de educação é uma sucessão de bobagens, atitudes e ações descoordenadas e descabidas, meras retaliações politicas e ideológicas, sem nenhum impacto positivo, já tivemos dois ministros e dezenas de exonerações no  inep e mec. Cortes nas verbas para as universidades na monta de 30%, o que significa uma precarização do ensino superior e certamente uma redução significativa nas pesquisas cientificas, tão caras para a independência tecnológica da nação. Promete-se ainda, corte na área de pós-graduação, que teria como resultado, uma queda no nível científico e tecnológico, a médio e longo prazo.
Já no ambiente rural, o desencontro não é menor. Mais medidas pirotécnicas, destituídas de valor real, promessas absurdas e fantasiosas, que comprometem até mesmo a integridade dos envolvidos, como é o caso da legitima defesa do patrimônio, onde o dono de terras teria o direito de atirar em quem invadisse suas terras, colocando a propriedade acima da vida humana. Sem contar com as demissões por ideologia politica e as nomeações sem critério técnico, baseados apenas em posições politico ideológicas.
A questão dos direitos humanos e da mulher está sob as ordens de uma demente, fanática religiosa que defende a sujeição da mulher de acordo com os ideários do patriarcado cristão, ignorando os índices alarmantemente crescentes de feminícidios no nosso país.  Além da decisão completamente absurda de colocar a FUNAI nas mãos de Damares Alves, que como disse antes, comunga fanaticamente com os ideários cristãos, que pregam a conversão e a suposta civilização dos indígenas, em detrimento de suas crenças e costumes. Enfim, o que pode sair de positivo dessa pasta se  coloca-se um titular que se fundamenta em ideais que vão de encontro com os interesses dos que dela dependem, em termos de politicas públicas?
Mas, continuemos nossa jornada em busca de positividade neste (des)governo. E a tão propalada reforma da previdência? O governo, em geral, parece colocar todas as suas expectativas nessa tal reforma. Paulo Guedes, seu idealizador, demonstra não ter o conhecimento, a confiança e a segurança argumentativa para convencer o parlamento e o povo de que essa é a solução para os problemas do Brasil. Não entrarei em detalhes, visto que certamente, esse projeto, como está não chegaria a ser votado. Certamente muitas modificações acontecerão até que venha a ser votada em plenário e encaminhada ao Senado, onde certamente gerará emendas e se aprovadas, atrasarão a entrada em vigor, já que deverá voltar a câmara para ser novamente discutida e votada. Mas, o que importa é que, se esse governo não conseguir mostrar ao que veio essa reforma, como todas as outras que já foram enviadas ao congresso, sairá capenga e sem efeito real.
No meio disso tudo, o  judiciário se cala e sofre as consequências de suas atitudes anteriores, despidas de imparcialidade, e que provocaram a desconfiança da população, que já não se sente segura da capacidade do STF, como supremo  guardião da Constituição Federal e do Estado de Direito.
A politica externa é comandada por um tresloucado que não acredita na globalização, adora Tramp e odeia o marxismo, e mete os pés pelas mãos no trato com parceiros comerciais significativos como China e o mundo árabe.
O presidente e seus filhos se comportam como adolescentes mimados e diariamente provocam o riso e  a galhofa daqueles que navegam pelas redes sociais. Dia após dia protagonizam vexames e se expõem ao ridículo com afirmações e publicações das mais absurdas e vexatórias. Publicam vídeos com teor pornográfico, fazem alusão a turismo sexual, acusações puramente ideológicas, enfim, essas coisas sem nexo que adolescente e pré-adolescente fazem nas redes sociais.
Além disso tudo, existem as coisas sérias, a proximidade da família Bolsonaro com as milícias, a questão do Queiroz e os funcionários fantasmas, o laranjal do PSL, a falta de articulação e até  limitação da oralidade do presidente, não transmite confiança, segurança nos seus discursos, parece mais um estudante apresentando um seminário, inseguro, gaguejante, soletrante, claramente decorado, sem nenhum conhecimento profundo do que diz. E a as declarações impensadas, que provocam o vai-e-vem do mercado financeiro?
Para fechar tudo isso, ao buscarmos as fundamentações ideológicas e as referencias intelectuais da maioria desses citados, inclusive o chefe supremo da nação e nos deparamos com uma figura patética, do ponto de vista acadêmico e cientifico, um astrólogo, que contesta Einstein e a maioria dos pensadores e cientistas renomados e respaldados na comunidade cientifica mundial, que não concluiu sequer uma faculdade. Acredita em teorias conspiratórias e auto se denomina professor de filosofia, mora no exterior e se diz o maior pensador do Brasil. um senhor chamado Olavo de Carvalho. Além dessa referencia, o Presidente é fã de conhecidos ditadores e em especial de um torturador brasileiro acusado por suas vitimas de atrocidades sem igual, principalmente contra mulheres, chegando a introduzir ratos em suas vaginas e deixar crianças assistirem sessões de torturas de seus pais.
Pelo andar da carruagem acredito que, se eu continuar esta análise terminarei por escrever um ensaio intitulado “como não governar uma nação”. Como não é isso que pretendo, encerro essa minha tentativa frustrado e deveras preocupado com o futuro desse meu pais, já tão maltratado, pisoteado e usado ao longo dos séculos, por exploradores, príncipes, reis, imperadores, militares e demagogos.

Manoel N Silva

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