sábado, 18 de abril de 2020

A educação e a ausência do desejo revolucionário no mundo atual.



O mundo vive um momento de completa falta de impulsos revolucionários. A juventude parece, com raras exceções, sem imaginação política, sem interesse em mudanças, completamente dominada pelo desejo de riqueza e conforto. Porque será que não existem mais revolucionários e idealistas no nosso mundo?

Bem, o mundo pós guerra fria, o fim das ditaduras na maioria das Nações, o avanço das religiões e uma visão voltada para o desenvolvimento e enriquecimento mundial, a meu ver, gerou uma hegemonia de comportamentos individualistas e, de certa forma, alienantes da capacidade de empatia que sempre acompanhou as massas e as grandes coletividades, na história da humanidade. Penso que a grande responsável, foi a educação e os rumos que ela tomou. 

A educação começou a ser vista como formação profissional e o aspecto humano deixa de ter como foco a humanidade e passa a ser o indivíduo, o sujeito. Ou seja, o antropocentrismo iluminista que fundamentou as revoluções dos séc. XVIII e XIX, e criou uma mentalidade revolucionária e humanista, perdeu esse sentido universal e passou a fundamentar o egoísmo pessoal.

A educação que se desenvolveu até a década de 1930, mantinha ainda esse amor ao erudito e valorizava a obra humana, a arte, a literatura, a ciência e o conhecimento e cultura, como valores universais e o fim do ser humano, enquanto indivíduo. Mesmo após as duas grandes guerras, ainda se ensaiou no mundo uma educação humanista.

No entanto,
o avanço do capitalismo, as ditaduras na América Latina e África e, mesmo o fim destas e da guerra fria, com a queda da URSS no final dos anos 1980, mudaram os paradigmas da educação e os seus objetivos, em um mundo em reconstrução e desenvolvimento. As políticas de educação deixaram de focar no humanismo iluminista e se voltaram para a formação técnica e científica. A erudição e a cultura passaram a ser encarados como supérfluos, no mundo desenvolvimentista da metade final do séc XX. As Nações em desenvolvimento precisavam de engenheiros, trabalhadores técnicos, cientistas e pesquisadores na área de química e medicina, robótica e comunicação, biologia e matemática... enfim, era preciso formar para a práxis e não para o ócio.

Assim como no séc XIX, os EUA definiram políticas de desenvolvimento e liberdade econômica, fugindo ao modelo europeu, que mesmo com as revoluções e avanço do capitalismo, não conseguiram acabar com o pensamento e a tradição humanista, no final do séc. XX América Latina, África e Ásia, focaram no desenvolvimento industrial e econômico, fugindo também dessa herança humanista de seus colonizadores e se voltaram para novas correntes e modelos econômicos.

Na Ásia, os chamados tigres asiáticos, juntamente com o Japão, investiram maciçamente nesse novo modelo educacional e deram um salto tecnológico e econômico. Rapidamente se tornaram a maior força tecnológica do mundo. A China e a Korea do Norte, apesar de seus regimes autoritários, também investiram nesse modelo econômico e educacional. Na América, Brasil, Argentina e Chile, viveram ditaduras alinhadas com o modelo americano de desenvolvimento e educação. Na Europa, os estragos causados pela Segunda Guerra Mundial, obrigaram as nações arrasadas e destruídas economicamente a também mudarem suas visões e adotarem novos paradigmas econômicos, políticos e educacionais, diluindo e eliminando os restos de uma cultura iluminista e direcionando-se para uma posição alavancadas no pragmatismo filosófico e  nas ideias econômicas mais liberais e desenvolvimentistas.

Pronto, estava armado o cenário e tomadas as decisões, para que hoje, cerca de 50 anos depois, encontremos o mundo assim, sem ideologias revolucionárias, pouca consciência política e um individualismo que beira o egocentrismo. As pessoas só pensam em si e em ganhar dinheiro. A liberdade não é mais o bem supremo do ser humano, como na época de Danton e Robespierre,  Infelizmente os ideiais de Voltaire e Rousseau, deram lugar a segurança econômica. A liberdade é nada, diante de uma gorda conta bancária e uma mansão em um bairro nobre!

MNS

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