sábado, 21 de dezembro de 2019
A RATAZANA E OS RATOS...
Bolsonaro afende e desmoraliza a imprensa, lança sobre jornalistas seu furor verbal acampanhado de sua vasta gama de preconceitos. Desde a ditadura militar que não se via mandatários tão arrogantes e estúpidos, no seu tratar com a imprensa. Até aí é razoável a postura de Bolsonaro, afinal ele se espelha nos regimes autoritarios e tem como ídolos torturadores e ditadores sanguinários, como Ulstra e Pinochet. O problema é que não estamos em um regime de exceção, a imprensa é livre e essa liberdade se faz garantida na constituição brasileira. Então, por que Bolsonaro age impunemente? Por que a imprensa não reage a altura? Simples senhores e senhoras, não é Bolsonaro o fator principal dessa situação, e sim a própria imprensa, que ao longo dos anos veio perdendo a sua autonomia, forjando realidades, invertendo fatos, manipulando e direcionando suas ações, não para a busca da verdade, esclarecimento efetivo dos fatos, mas, para consolidar intereses, destruir reputações e biografias em nome desses interesses. Essa postura da imprensa foi minando o respeito e a credibilidade que o povo tradicionalmente deposita no jornalismo e chegamos em 2019, com uma desconfiança enorme do jornalismo brasileiro, vinda de uma grande parte da população. Portanto, senhores e senhoras, se hoje, esse que ocupa a presidência do país, derrama sobre os jornalistas a truculência e a ignorância impunemente, é simplesmente porque a nossa grande imprensa tem seu rabo, suas mãos e seus tentáculos presos ao grande pacto não oficial, que levou ao cargo esse ser insignificante e incompetente, que hoje cospe seguro no prato que comeu!
MNS
MILITÂNCIA ENTORPECIDA
Ficou claro, diante das reformas aprovadas no Congresso, que a classe política não teme mais o povo. Eles testaram a capacidade de reação e ação popular e constataram a inércia e apatia da população. Compreenderam que a sociedade brasileira perdeu o ânimo e a capacidade de se indignar. As esquerdas brasileiras, durante os governos petistas, se acomodaram, perderam a capacidade de mobilização. Os sindicatos, as associações e os movimentos sociais de grande expressão e força, as centrais sindicais e a militância dos partidos de esquerda, abandoram a luta por melhores salários e condições de trabalho, deixaram de lado as grandes pautas ideológicas, refrearam os desejos de mudança e sentaram-se nos sofás das salas de espera das estatais, dos ministérios. Saíram do sol e da chuva e se abrigaram nos pátios palacianos por todo o Brasil. Jogaram suas sandálias franscicanas de bater pernas nas ruas e portões de fabricas, em passeatas e greves, calçaram os sapatos de couro fino e foram passear nos corredores do planalto central, em busca de cargos e migalhas. Os líderes sindicais calaram-se, sumiram dos noticiários, nunca mais soube do Vicentinho, do Stédile, não vi a Força Sindical e nem escutei os gritos da CUT e CGT. Não ouvi, nesses "anos dourados do PT", a voz da UNE, nem vislumbrei as bandeiras do MST tremularem nas ocupações, nem o Movimento dos sem Teto invadindo prédios e terenos abandonados... Foram 12 anos que provocaram o desmonte da sociedade civil organizada. Voltamos a um nivel de dispersão social semelhante aos anos 30 e início dos anos 40, quando tinhamos uma sociedade sob a tutela do Estado, os sindicatos e as organizações comandadas por governistas.Diante desse cenário, as forças conservadoras mais moderadas se viram sufocadas e perderam espaço durante esse tempo. Políticos tradicionais, grandes lideranças regionais, sujeitos políticos de grande poder de consenso, de repente, estavam destruídos politicamente. Uma geração de jovens apolíticos, filhos de uma elite econômica neoliberal, rentista e radicalmente conservadora, fortemente apoiada no evangelismo neopentecostal e políticos de origem militar e ruralista, organizaram-se e, diante da paralisia extasiante das forças mais progressistas, conseguiram mobilizar a classe média alta, pequenos empresários e a imprensa, em torno da luta contra a corrupção, forjando heróis e bandidos, minando as forças políticas tradicionais e enfraquecendo as esquerdas e os progressistas. O resultado foi uma Presidente deposta e esse governo sem pauta e sem programa. Àqueles que como eu, ainda acreditam que é possível uma sociedade mais justa, igualitária e digna, só resta-nos aproveitar esses tempos difíceis e forjar loderanças e ideais fortes, capazes de despertar essa massa adormecida, anestesiada e levantar a poeira das ruas com seus pés calejados, suas mãos ásperas e fazer doer os ouvidos moucos dos homens de bem com nossos gritos de esperança!
MNS.
domingo, 17 de novembro de 2019
O GÊNIO
Um dia nasceu, no meio dos incautos,
uma criança amaldiçoada. Pelo brilho em seus olhos, já se podia apreender o
sofrimento de sua existência e a tristeza de seu viver. Era incrivelmente feio,
quase assustador, a sua aparência era quase um acinte, entre os lindos e
medíocres habitantes desse lugar privilegiado pela ignorância e beleza. Seus
olhos tinham a avidez da descoberta e suas pequeninas mãos buscavam o mundo e a
natureza como se elas fossem a fonte da vida e da felicidade. Desejava muito
mais que a bela borboleta cheia de cores ou a luz do espelho, no seu rosto
disforme.
Na
sua primeira infância, descobriu os buracos, as sombras, Revirou as coisas,
buscou os “embaixo”, virou as pedras, descobriu os vermes e as larvas,
escandalizou seus pais, sujou-se, lambuzou-se na lama e andou descalço na
areia, como se fosse normal ser anormal. Engatinhava fora do berço e ralava-se
no cimento cru da área de serviço, onde Wanda, aquela que não falava e nem
existia além da cozinha e da lavanderia, reinava. Wanda, que na sua imaginação
era a guerreira negra, a rainha dos soldados da água, do gás que se erguiam
altivos em suas fardas grossas, azuis ou verdes, e suas mãos fortes, como se
fossem mini guindastes, a levantarem e
conduzirem, juntamente com os nobres cavaleiros do açougue e do supermercado,
os elementos básicos que mantinham acesa
a essência da vida.
E
quem poderá dizer que ele estava errado?... Todos. Era unânime a sentença
escrita nos olhos opacos dos cidadãos, embora a voz doce e colorida deles
soasse tão leve e refrescante quanto um sorvete de baunilha numa tarde de
verão. Nem a mãe e nem o pai, nem mesmo a menina, aquela que lhe olhava às
vezes, com olhos de lamparina. Nem mesmo Joana, filha de Wanda, que era a
companheira das injurias investidas, era capaz de lhe ser vidro. Nem Valdo, seu
amigo imaginário, seu fiel companheiro, poderia negar-lhe a estranha condição.
Sentia-se entre estranhos ou percebia-se estranho entre iguais.
E
assim crescia Josiano, menino sem freios, sempre querendo saber o porquê do quê,
não tinha qualquer importância, apenas queria entender, por exemplo, porque
nascia o dia e se não morria a noite. Se existia luz além da cegueira e se era
o mundo a lixeira de Deus. Quem se atrevia a responder-lhe tamanhas asneiras e
disparates? Quem sabe Valdo, ou mesmo Wanda... Ou, quem sabe Joana? Talvez ela,
na sua inocência velada, sem saber de nada, eloquência se fizesse e lhe
dissesse do outro lado. Daquele lado da rua, onde se vestia de preto e se
cobria os olhos, com as vendas e os bonés, com as algemas e com as esmolas?
Quem sabe... Ninguém dirá!
Moleque,
menino birrento, desobediente, inconsequente, nunca se fazia consenso, sempre
resvalando opiniões e se opondo ao inevitável... Teimosia pura, pura agonia,
pulando muros, desafiando cercas, enfrentando cata-ventos com os ventos
contrários. Fugia da escola e aprendia na biblioteca. Cantava a música dos
pássaros e falava o idioma dos animais selvagens, ninguém lhe entendia, mas,
sabiam do que ele falava. Não o compreendiam, mas entendiam a sua cara de
raiva, estranhavam seus dentes expostos, mas sabiam da necessidade de sua
raiva. Ninguém lhe enfrentava.
Josiano
adolescente, era quase bicho, calava, estrebuchava, desejava e trancava-se no
quarto, descobrindo-se em seus anseios, vestindo medos e ejaculando revolta, no
prazer solitário de se conhecer. Às vezes pensava em Joana, outras, na menina
de cabelos dourados do outro lado da sua rua que nunca lhe enxergava. Mas quase
sempre era ele quem se satisfazia, na solidão da sua condição. O prazer é
sempre solitário, mesmo quando compartilhado em outras camas e corpos. Isso ele
iria descobrir nos anos que se seguiram, e nas inúmeras camas que dormiria, com
Joanas e Joãos.
É
tempo de sofrer. É tempo de ser muito mais do que sentir. Antes, era pássaro
sem ninho, menino solto no mundo, sem
compromisso e sem fim. Mas, seu rosto se tornou áspero, cheio de pelos
indesejáveis e sua mente, essa demente, queria mais, muito mais que lhe podia
ser possível e o impossível que lhe atravessava as noites e os sonhos, lhe
parecia está ali, além da sua visão, da sua casa, sua rua... Ele foi!
Por
muito tempo ninguém ouviu falar dele, todos ficaram felizes e aliviados,
viveram suas vidas medíocres e sem escalas, cada qual na sua sala, perdido em
seu quintal, preso em seu olhar. Até que um dia, como retro realidade, numa
tela plana de não sei quantas polegadas, aquele rosto magro, esquálido e sem
graça, sua cara de tacho e seu corpo indesejável, se fez espada, faca, raiva,
medo, saudade. Cada ser naquele lugar se viu traspassado, atingido, violado,
despertado, incomodado! Aquele ser sem mesura reativara cada sentido,
relativizara cada mentira, cada palavra dita ou ouvida era assim como uma tapa,
um beijo, uma caricia sonhada ou um assassinato pensado, programado, desejado...
Josiano,
cercado de policiais em seus uniformes azuis e seus óculos escuros, jazia sem
vida, esfaqueado sem motivo algum, segundo
o jovem apresentador, com sua cara de anjo e seu sorriso branco, ele, ilustre
desconhecido, nunca antes por ali visto, como dissera um velho amarrotado e de
olhos de corvo, que morava no prédio do outro lado da praça, ali chegara por
volta da meia noite, deitara e dormira num banco de na praça, numa cidade
distante, de um estado do sul e jamais acordara. Alguns garotos, desses com a
sua cara, que perambulavam pelas esquinas e cheiravam a ratos, com suas
garrafas, seus sonhos e seus cachimbos de lata, resolveram que não queriam um
espelho!
Manoel N Silva
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
OLIVIA
Para minha neta, nascida em 08/11/2019
Faísca, poeira, quase nada...
Desejos que se encontram,
Liquefeitos e esquálidos
Sonhos dispersos, inversos
No universo disperso do prazer
Dois pontos equidistantes,
Que por instantes, se adentram
Na dimensão do amor
A dor que se faz sana
O medo que se torna esperança
A luz nos olhos dos envolvidos
Que se transforma na certeza
Dos que rodeiam
O gesto, o corpo, o tempo
Presença concreta, sentimento abstrato
Fato que transcende e emana
Ensina e acalma a alma cansada
E a mente descrente
Ente que se alastra, rasga, adentra
Se faz muito mais que espaço
Se torna necessidade
Vai além do querer
É ser antes de existir
E quando é, se faz completude
Não é apenas amor
É essência sua, agonia e alegria
Não se explica a conexão
Senão na abstração
Se torna parte e não sujeito
Dessa explosão de vida
Atrevida e real
Que vai além do querer
E se torna imanência
Consciência da idade
A verdade do tempo
No momento que explode
E me sacode, refaz minha visão
Me deixa sem graça e sem ação
Nina, menina, a mulher no meu sonho
Que vai mudar o mundo
E salvar a humanidade!
Desejos que se encontram,
Liquefeitos e esquálidos
Sonhos dispersos, inversos
No universo disperso do prazer
Dois pontos equidistantes,
Que por instantes, se adentram
Na dimensão do amor
A dor que se faz sana
O medo que se torna esperança
A luz nos olhos dos envolvidos
Que se transforma na certeza
Dos que rodeiam
O gesto, o corpo, o tempo
Presença concreta, sentimento abstrato
Fato que transcende e emana
Ensina e acalma a alma cansada
E a mente descrente
Ente que se alastra, rasga, adentra
Se faz muito mais que espaço
Se torna necessidade
Vai além do querer
É ser antes de existir
E quando é, se faz completude
Não é apenas amor
É essência sua, agonia e alegria
Não se explica a conexão
Senão na abstração
Se torna parte e não sujeito
Dessa explosão de vida
Atrevida e real
Que vai além do querer
E se torna imanência
Consciência da idade
A verdade do tempo
No momento que explode
E me sacode, refaz minha visão
Me deixa sem graça e sem ação
Nina, menina, a mulher no meu sonho
Que vai mudar o mundo
E salvar a humanidade!
Manoel N Silva
Fortaleza, 17:30h de 09/11/2019)
Fortaleza, 17:30h de 09/11/2019)
domingo, 29 de setembro de 2019
O CHEIRO
Ali,
parado na calçada, olhando para o sinal vermelho, indiferente a vida que
fervilha ao redor, preso hipnoticamente àquela luz e ao relógio de pulso. A
única preocupação é a urgência, a pressa de chegar ao objetivo. Ao lado, um
jovem olha o celular, uma garota mexe nos cabelos e joga a cabeça num gesto
quase sensual. Os carros à frente passam rápidos e dentro deles pessoas cinzas
e inexpressivas, fitam seus destinos sem
se darem conta da inutilidade e mediocridade de suas vidas. Um velho arrastando
sua bengala segue rua acima, sem forças para levar seu corpo e sem a coragem de
se livrar do resto de vida que teima em lhe doer. Mais a frente, um cachorro
sem dono e com fome demais, exibe suas costelas e seus dentes ao homem que
passa ao lado do lixo que lhe mantém nesse quase viver. Duas senhoras com
sacolas cheias de inúteis roupas, compradas para vestirem suas mazelas de cores
alegres e fantasiarem seus corpos decadentes, estriados e disformes, vítimas do
tempo e da conformação, conversam sobre coisas sem importância como se fosse a
ultima revolução humana. Logo atrás delas, impacientam-se os dois rapazes de
mãos dadas e rostos maquiados, exibindo as marcas dos preconceitos nos seus
olhos assustados que esquadrinham ao redor.
Além, do outro lado da calçada, uma porta se abre e dela
sai um senhor de meia idade, de corpo roliço e roupa cara, sorriso malvado e
sincero, chuta um gato na calçada, que dispara assustado esbarrando nas pernas
de um garoto franzino, vestido de Batman que pula de lado, tropeça numa pedra
solta e cai de cara na calçada, tingido de rubro o cimento sujo e provocando o
grito desesperado de uma mãe distraída, que olhava extasiada o peito quase nu
do rapaz na oposta calçada... A luz fica verde e liberta-o de sua prisão
hipnótica, olha ao redor, como se visse um mundo estranho, como se estivesse em
uma dimensão distinta, percebe tudo como imagens pálidas, desbotadas pelo
tempo, enfumaçadas, esvaindo-se no ar. Dá um passo largo em direção à luz e
outro e mais outro, quase corre, alcança a calçada em mais uma dúzia de passos
e segue em frente, desvia do pequeno Batman sangrando e da mãe desesperada, que
xinga o gordo cínico de sapato envernizado e segue o gato apressado, que foge
sem olhar para trás.
Sua
mente é só um pensamento. Acaricia o volume em seu bolso, quase sorri, quem o
vê, não poderia imaginar que atrás daquele rosto jovem, másculo e simétrico,
com olhos e cabelos claros, levemente ondulados, a boca fina e bem feita, um
corpo bem torneado, ombros largos e braços musculosos, pernas igualmente sadias e bem tratadas, enfim,
noventa quilos distribuídos de forma bem simétrica no seu metro e oitenta de
altura e vinte e cinco anos vividos, e que a maioria das mulheres certamente
dispensariam muito mais do que um simples olhar, se esconde um rapaz perdido,
assombrado pelo medo e pela dor. Ninguém poderia imaginar a raiva contida, o
desejo de sangue, sempre reprimido, pulsando, latejando na sua mente,
transformando seu riso em fogo e seu olhar em lâmina.
A cada passo Jorge sente-se mais confiante, gotas de suor
lhe escorrem pela face e também lhe encharcam as axilas, um odor masculino lhe
chega às narinas, e ele cerra os dentes, aperta o metal no bolso e solta o ar
pelo nariz, levanta a cabeça, fixa o olhar
e pensa na sua cama velha, no seu colchão rasgado e na sua mãe bêbada, seu pai drogado, corpos nus,
suados daquela luta frenética permeada de gemidos e palavrões, de soluços e
rangidos de uma cama quebrada. Ele encolhido, assustado, sem saber o que fazer,
debaixo do seu lençol remendado, ouvindo e sofrendo, imaginando e morrendo... É
o mesmo cheiro que sentia, quando cansada, sua mãe vinha olhar se ele dormia.
Crescera
odiando aquele cheiro, era o cheiro do seu pai, depois da luta e do prazer com
sua mãe. Mesmo em meio ao álcool e ao sangue, ao sêmen e a urina, ele estava lá,
fosse quando acordava nas camas de motéis, nos braços das prostitutas nos bordeis
da periferia ou nos becos onde se drogava, nos banheiros públicos, aquele
cheiro se sobressaía como um perfume maldito, que entranhara-se em seu nariz,
sufocando-o, obrigando-o a libertar, a cessar o sofrimento daquelas almas
condenadas. Ele sabia que não podia parar, ele tinha que continuar na sua
missão!
Ainda
adolescente, quase um menino, ao lado do corpo de sua mãe, que sangrava no
centro da casa, um corte na garganta, cabelos ensopados, a boca aberta em um
ronco gutural, nua, exposta a sua vergonha e aos olhos curiosos dos vizinhos,
ele sentia o cheiro, além do barulho e das sirenes, dos homens de branco e do
pinho sol, ele estava por todo canto, pairava por toda casa, enchia a rua! Mais
tarde, já homem feito, sentira aquele cheiro na sua forma mais pura, exalada
diretamente do corpo daquele que lhe dera
a vida, caído, esparramado numa viela escura, sangrando e tossindo
engasgado nos próprios fluidos que jorravam de sua boca e dos inúmeros furos em
seu abdômen, mesmo após a ambulância sair e o rabecão leva-lo em uma caixa
metálica, aquele resto de carne, que um dia fora seu pai, o cheiro continuou no
seu nariz dias e dias...
Manoel N Silva
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
BROTO MALDITO
Passo os olhos nos feeds de noticias
E não acredito que o que leio
É o que realmente está escrito
Sinto-me arrebatado no tempo
Jogado ao passado,
Num transe esquisito.
Eu grito ao infinito
Eu fito o presente e não enxergo o agora
A hora aparece em preto e branco
Na nevoa da minha memória
E revela a história
Travestida na notícia atual!
A palavra fria
Descreve uma guerra antiga
Perdida na lembrança branca
De uma pomba qualquer
Que pousa, cansada, no aço que voa.
Um rei sem coroa
Uma frase sem rumo
Um mundo sem paz
Um rapaz que olha a janela
Uma menina que se descabela
Não. Não é descalabro, nem ilusão,
É um dedo apontado
É novamente aquele botão vermelho
Que pisca na sala fechada
Sempre ameaça velada
De uma pesada mão
Guiada por uma mente insana.
É aquela flor sem perfume
Aquele espetáculo sublime
Que se avermelha no horizonte
Uma angústia distante
Que se faz agonia
À luz que nos guia
Não é mais brilhante
Desfaz-se em poeira,
Cinza atômica que aduba
A árvore da morte.
Manoel N Silva
terça-feira, 30 de julho de 2019
UM JORNALISMO ENVERGONHADO
O que vemos hoje nos noticiários das principais emissoras de televisão são jornalistas constrangidos, sem graça, noticiando o que repudiam, enquanto jornalistas e seres humanos, em rede nacional. É um festival de caras amarradas, sorrisos artificiais. Impossível não deixarem escapar suas reais ( com exceção de alguns poucos) emoções. Os olhos que antes brilhavam ao noticiar impeachment de Dilma, ou delações premiadas que implicavam o PT, que mostravam uma felicidade incontida e descarada ao anunciarem indiciamentos e julgamentos de Lula e outros petistas, hoje quedam-se envergonhados, cabisbaixos ao serem obrigados a exaltar a mediocridade em pessoa. Ao se verem obrigados a amenizar absurdos e manipular dados econômicos para garantir um mínimo de lógica no caos econômico que esse ministro instalou. Figuras como William Bonner e Rachel Sherazade (essa parece que vai sair do sufoco), transparentes como cristal, são as que mais sofrem com essa situação. Coitados! não conseguem sequer fingir um sorriso... William só se alivia um pouco na hora de chamar a moça do tempo, abre um sorriso meio sem graça, mas sincero. E nos programas de auditório, nas entrevistas, Serginho, Silvio, Bial, Fátima Bernardes, Faustão, Luciano, não raro, se veem de calças curtas, sendo desmentidos e expostos por seus convidados.
É triste ver o todo poderoso jornalismo da Rede Globo, repercutindo noticias, catando migalhas jornalísticas, sendo obrigado a remendar suas colocações. Seus âncoras, sempre tão corretos e altivos, se retratando por erros crassos, infantis, que revelam a secundariedade das notícias e fontes.
Mas como diria minha avó, aqui se faz aqui se paga, A Globo, a mais prejudicada por sua própria campanha anti-petista, por seu apoio incondicional a escalada divisionária que culminou na eleição de Bolsonaro, pelo confronto e ódio que separa regiões e brasileiros, pela construção da narrativa que coloca a politica como um mal, criminalizando toda a classe política, denegrindo o serviço publico, marginalizando os movimentos sociais, as associações de classe e sindicatos, e fomentando o ideal neoliberal, hoje se vê excluída dos projetos políticos desse governo, jogada de lado, preterida em favor do SBT e Record. Vez ou outra ensaia uma debandada, rumo a uma independência editorial, mas, sempre volta agarrada ainda ao seu projeto de salvador, herói justiceiro que ela forjou e alimentou, vestiu e endeusou de honestidade e protagonismo judicial. Tenta, de todas as formas, salvar o super-herói de brinquedo da Lava-jato, para que venha a ser o próximo Presidente e assim, reconduzi-la ao topo do poder politico, que sempre ocupou nos últimos sessenta anos!
Manoel N Silva
domingo, 28 de julho de 2019
UM PAÍS IDIOTIZADO
Hoje vou me abster de julgar,
Vou apenas construir uma narrativa, restrita aos fatos, sem acrescentar juízos ou comentários, opiniões ou sequer insinuações.
Nosso dia-a-dia político descrito sem qualquer tendência, apenas relatado.
Me reservei o direito de enunciar, para que não haja dúvidas que nada a seguir fuja, um milímetro que seja, dos fatos e acontecimentoso amplamente divulgados e comprovados. Não se trata de uma crítica e sim de uma mera exposição da realidade política vigente em nosso país.
Começo contando do caso, em que o ministro nomeado para a pasta da educação, o primeiro, o estrangeiro, sequer sabia falar corretamente, o português. Não, não é brincadeira, ele até disse que brasileiro, no exterior, gostava de afanar as coisas dos hotéis... O atual ministro da educação, em férias, almoçando com a família em um local público, é confrontado por índios e dispara: "vocês roubaram o Brasil!"... Sim, é verdade!
A ministra da família, sim, aquela da goiabeira, dispensa qualquer comentário, de tão sem noção que são suas observações, só não a ignoro, porque suas ações, à frente do ministério, são catastróficas, sua visão vitoriana causa-nos, no mínimo, receio. Sua última façanha, foi na Ilha de Marajó, diante de constatação de estupros, ela em vez de propor medidas de segurança e jurídicas, propôs resolver o pronlema com uma fabrica de calcinhas... Por outro lado, a família Bolsonaro, seus filhos, seu guru inculto e reacionário, o pai, com uma tara por ditaduras e torturadores, seu filho Eduardo e o tal do Banon. Carlucho, aquele que não larga do twitter, disparando sua metralhadora e causando saias justas entre os aliados. Flávio e o Queiroz, as rachadinhas e as laranjas... Já Bolsonaro, em live, diz que a indicação de Eduardo não é nepotismo e afirma que vai beneficiar o filho sim, se puder vai dar filé mignon...sim, na mesma live.
Moro, o ministro da portaria n° 666, se enrolou muito mais com a prisão dos hackers de Araraquara, e agora, o que era ilícito virou lícito pela apreensão da PF, numa investigação legal, ou não? Vou nem falar nada do hacker que usa Windows...
O astronauta, que parecia, apesar de ausente e inepto, um cientista, duvida das pesquisas do INEP sobre desmatamento, ou seja, ministro da ciência e tecnologia que não acredita em pesquisa científica...
Diante de tudo isso, assistimos aos jornais televisivos nos dizendo de normalidade, que o país vai andando, que a inflação esta diminuindo, que o emprego cresce, modestamente, mas cresce. Não há no congreso uma indignação por parte dos aliados desse governo, um bando de deputados completamente alienados da realidade, fomentando ódio e propondo leis absurdasz bancado retrocessos, eliminando direitos adquiridos, um verdadeiro show de horrores...
E o povo calado, assistindo abismado, idiotizado hipnotizado por uma besta quadrada, mistificada e alçada, a custa de fakes news e facada, ao mais alto cargo desse país!
Manoel N Silva.
sexta-feira, 19 de julho de 2019
CIRCO BRASIL
Encontro-me completamente perplexo diante do que acontece no Brasil. Não é mais uma questão ideológica e nem partidária, trata-se realmente de um completo caos politico, econômico e social. Estamos diante de um governo apopletico, desarticulado e sem comando. Seus componentes são desconexos e beiram ao ridículo em suas ações e diretrizes. O chefe da nação e seus ministros mais parecem uma trupe circense do século passado. Atores canastrões e caricatos, encenando um pastelão dos anos trinta. Os seis meses de governo Bolsonaro, poderiam ser comparados, sem nenhum exagero, a uma chanchada da Atlântida, estrelada por Mazzaropi, sem querer desmerecer, o grande artista que ele foi.
Rodrigo Maia, apoiado pela grande Midia, se fez o condutor da famigerada Reforma da Previdência, protagonizando assim, a única ação política coerente desse semestre. A mediocridade administrativa do governo é comparável a de uma gestão de uma mercearia numa cidadezinha do interior, no início do século XX!
Seus filhos protagonizam escândalos e disparam bobagens e insultos, principalmente o Carlos, aos aliados, criando situações constrangedoras e resultando até em troca de ministros e demissões sem justificativa racional. O ministro do Meio Ambiente é contra a preservação e conservação das áreas de reserva, o da Educação, é contra o ensino superior gratuito e toma medidas que só prejudicam as universidades públicas federais, a ministra Damaris, essa nem se fala, ela pensa a família e a mulher com os valores morais do séc XIX. O ministro das Relações Exteriores, acredita que a terra é plana...
Bolsonaro e seus filhos têm uma verdadeira adoração aos EUA e Eduardo Bolsonaro será indicado para embaixada brasileira em Washington! Sem falar em milicias, laranjas e Queiroz...
Enfim, fica no ar a pergunta:
Se a Reforma da Previdência, única medida do governo, segundo ele e os seus apoiadores no congresso, para tirar o país da estagnação econômica em que se encontra, não for aprovada? Ou, mesmo que seja, certamente não trará efeitos a curto e médio prazo, o que acontecerá com o nosso país? Já que plano de governo, o governo não têm, quem governará o Brasil?
Manoel N Silva.
quarta-feira, 17 de julho de 2019
O SONHADOR
Ele sempre sonhava. Sonhos quase reais, complexos, cheios de detalhes e, quase sempre, aterrorizantes. Eram sonhos que nunca acabavam, pesadelos que varavam-lhe as noites e o deixavam intrigado e cansado. Aqueles sonhos eram como seriados televisivos. Eram como se fossem uma segunda vida. Bastava um cochilo no ônibus, uma soneca ao meio-dia, após a refeição, e ele mergulhava naquele mundo sombrio, onde as coisas eram sempre opacas, moles, escorregadias e movediças. Nunca encontrava alguém, estava só naquele mundo imenso, mares e lagos, rios caudalosos e dunas que nunca acabavam, entremeados de pântanos e estranha vegetação aquática seca, sem cor. Nem sabia se realmente eram plantas ou simplesmente fósseis petrificados...
Os caminhos sempre cheios de subidas e descidas infindáveis, trilhas cheias de pedras escorregadias e cavernas escuras, úmidas e vazias.Era um mundo sem vida, sem brilho, sem luz. Nesse mundo, estava sempre apressado, querendo chegar a algum lugar, atravessar um rio, escalar uma duna, caminhar por um pântano ou sair de uma caverna, tinha que chegar em algum lugar, mas eram sempre infindáveis os caminhos, era uma jornada inútil, mas, absolutamente necessária e urgente! Nos sonhos era imprescindível seguir, ele sequer sabia aonde ir, mas a angústia e desejo de seguir em frente, lhe moviam e o impulsionava nessa empreitada sem sentido e sem finalidade. Acordava e já não sabia da realidade, seu mundo cinza, sua esposa esquálida e seus filhos franzinos, feios, com sorrisos amarelos, sempre a fazerem trejeitos ridículos.
Sai de casa cedo da manhã, pega o transporte coletivo, as mesmas pessoas, os mesmos rostos marcados pela mediocridade, os mesmos sorrisos falsos, as mesmas palavras, os mesmos lamentos: a filha que engravidou do namorado, o filho que se envolveu com drogas, o outro que assumiu sua sexualidade, a vizinha que dá mole e ele ali, calado, suando, enojado, com vontade de gritar que se calem, que se fechem em seus armários, que desapareçam da sua vida! Desce do ônibus e o sol lhe fere os olhos, o rosto, a pele, essa maldita claridade, essa luz cortante, esse turbilhão de cores e vozes, pessoas que vêm e que vão, surssuros, suores, odores nauseantes, cores berrantes, que ferem os olhos e o gosto, moças saltitantes, transbordando sexualidade, moços de olhares gulosos, meninos, senhoras, senhores, enfim, pessoas que vagam sem rumo e sem sentido, perdidos em seus desejos de metais, em seus passeios matinais, preocupados com seu colesterol e sua pressão alta, seu bigode e sua barriga, suas estrias, seus seios caidos e seus sulcos faciais...
Ele chega ao escritório, senta na sua cadeira, olha em volta, seu emprego medíocre, com tarefas iguais, seu chefe gordo e rico sempre sorrindo, uma alegria sebenta, oleosa, que fedia no seu nariz, como a gordura saturada no tacho do pasteleiro da esquina. Seus colegas de trabalho, sempre atentos, satisfeitos em suas medianas vidas, engajados nas suas tarefas diárias, tal qual ele, nos seus sonhos, em seguir em frente.. O peito doi, sorri sem graça, fecha os olhos e dorme, dorme e sonha... Não acordará jamais.
Manoel N Silva.
O Pântano
Naquela noite ele deitara cedo. Antes, a partir do meio-dia,
havia bebido umas cervejas, ouvido música, sentado na varanda observando transeuntes pela calçada, que lhe pareciam mulambos humanos a tremular, sob o efeito ótico causado pelos raios
solares, refletidos no asfalto em brasa, no início da tarde.
As crianças correndo e gritando sem razão, cachorros que zanzavam em buscas de restos, senhoras apressadas e senhores despreoucupados, nos seus passos largos, certos do almoço que lhes esperavam em casa. La adiante, um menino empurra um carro de reciclagem, e, em cada lixeira, mergulha metade do corpo em busca de garrafas vazias, latinhas de cerveja e refrigerante, joga-lhe as suas latinhas vazias e recebe um sorriso sem dentes, rasgado numa carinha sofrida e bronzeada em excesso...
Gatos perseguem pássaros distraídos na busca por migalhas no canteiro central.
A tarde vai caminhando lenta ao sabor amargo da cerveja e no ritmo da música triste que embala sua melancolia, o alcool na corrente sanguínea, vai chegando ao cérebro e fazendo seus mimos, transformando o medo em piada e o tédio em riso, vestindo de alegria a solidão, enchendo de desejos o vazio que domina sua existência. Mas, a euforia dos primeiros momentos, cede ao desânimo e ao peso da saturação etílica no cérebro e o que era diversão e riso se transforma em tristeza e choro...hora de dormir, afogar-se no mar do sono, fugir desse mundo em busca das sombrias paragens dos seus sonhos.
Desta vez, ele se depara no meio de um pântano, uma semi-escuridão, água escura, pesada, uma vegetação curta, chegando, no máximo, a metade do seu corpo, não escuta qualquer ruído, qualquer som que denuncie, outro ser, nem mesmo insetos, as plantas a sua volta, cinzas, parecem estalactites saindo da água, sem movimento, sem cheiro, mortas, petrificadas. Não lhe ferem e nem atrapalham sua passagem, e ele vai sempre em frente, sem saber para onde e nem o porquê da sua jornada. A sua volta tudo é pântano, não há horizonte, o céu é escuridão sem estrelas, sem astros, ele apressa o passo, dispara uma corrida desesperada, precisa chegar, precisa sair daquele pântano!
Ele continua correndo, estranhamente não se cansa, suas pernas não doem, seu corpo parece imune a qualquer dor e a água que é lançada, pela força dos seus pés, em forma de respingos no seu rosto, são como pedrinhas minúsculas de vidro, não molham, resvalam. No entanto, uma angústia sem tamanho, um aperto no peito, uma sensação sem precedentes, lhe invade a mente, uma solidão sem consciência, uma empreitada sem sentido, sem rumo ou nexo. Ele acelera mais e mais, as hastes das plantas passam sem sons pelo seu corpo, seus olhos buscam inutilmente uma luz, um ponto de terra, uma outra paisagem qualquer, que lhe dê a esperança da chegada, que faça valer essa caminhada, qualquer coisa que se justifique não parar, que aqueça o coração, que acalme a razão...
De repente um grito, um latido, ele abre os olhos e vê sua esposa gritando com o cãozinho que teima em latir para uma lagartixa na parede. Era manhã, precisava levantar e ir para o trabalho...
Manoel N Silva.
havia bebido umas cervejas, ouvido música, sentado na varanda observando transeuntes pela calçada, que lhe pareciam mulambos humanos a tremular, sob o efeito ótico causado pelos raios
solares, refletidos no asfalto em brasa, no início da tarde.
As crianças correndo e gritando sem razão, cachorros que zanzavam em buscas de restos, senhoras apressadas e senhores despreoucupados, nos seus passos largos, certos do almoço que lhes esperavam em casa. La adiante, um menino empurra um carro de reciclagem, e, em cada lixeira, mergulha metade do corpo em busca de garrafas vazias, latinhas de cerveja e refrigerante, joga-lhe as suas latinhas vazias e recebe um sorriso sem dentes, rasgado numa carinha sofrida e bronzeada em excesso...
Gatos perseguem pássaros distraídos na busca por migalhas no canteiro central.
A tarde vai caminhando lenta ao sabor amargo da cerveja e no ritmo da música triste que embala sua melancolia, o alcool na corrente sanguínea, vai chegando ao cérebro e fazendo seus mimos, transformando o medo em piada e o tédio em riso, vestindo de alegria a solidão, enchendo de desejos o vazio que domina sua existência. Mas, a euforia dos primeiros momentos, cede ao desânimo e ao peso da saturação etílica no cérebro e o que era diversão e riso se transforma em tristeza e choro...hora de dormir, afogar-se no mar do sono, fugir desse mundo em busca das sombrias paragens dos seus sonhos.
Desta vez, ele se depara no meio de um pântano, uma semi-escuridão, água escura, pesada, uma vegetação curta, chegando, no máximo, a metade do seu corpo, não escuta qualquer ruído, qualquer som que denuncie, outro ser, nem mesmo insetos, as plantas a sua volta, cinzas, parecem estalactites saindo da água, sem movimento, sem cheiro, mortas, petrificadas. Não lhe ferem e nem atrapalham sua passagem, e ele vai sempre em frente, sem saber para onde e nem o porquê da sua jornada. A sua volta tudo é pântano, não há horizonte, o céu é escuridão sem estrelas, sem astros, ele apressa o passo, dispara uma corrida desesperada, precisa chegar, precisa sair daquele pântano!
Ele continua correndo, estranhamente não se cansa, suas pernas não doem, seu corpo parece imune a qualquer dor e a água que é lançada, pela força dos seus pés, em forma de respingos no seu rosto, são como pedrinhas minúsculas de vidro, não molham, resvalam. No entanto, uma angústia sem tamanho, um aperto no peito, uma sensação sem precedentes, lhe invade a mente, uma solidão sem consciência, uma empreitada sem sentido, sem rumo ou nexo. Ele acelera mais e mais, as hastes das plantas passam sem sons pelo seu corpo, seus olhos buscam inutilmente uma luz, um ponto de terra, uma outra paisagem qualquer, que lhe dê a esperança da chegada, que faça valer essa caminhada, qualquer coisa que se justifique não parar, que aqueça o coração, que acalme a razão...
De repente um grito, um latido, ele abre os olhos e vê sua esposa gritando com o cãozinho que teima em latir para uma lagartixa na parede. Era manhã, precisava levantar e ir para o trabalho...
Manoel N Silva.
sábado, 13 de julho de 2019
TRADUÇÃO
Queria ter a palavra certa,
O verso correto e completo,
No tamanho exato desse momento.
Na dimensão concreta do meu sentimento!
Quem dera minha poesia medíocre
Se fizesse, por um momento,
A perfeita tradução da emoção.
Minhas mãos escrevessem com sangue
O desespero, a angústia, o medo e o desejo...
Quem me dera a capacidade, mesmo momentânea,
Da fluência significante do verbo descrever
Para que eu esculpisse em letras,
A obra prima da minha indignação!
Permitissem-me os deuses da escrita
Que as pontas dos meus dedos
Se fizessem cinzeis perfeitos
Compondo nessas teclas de plástico rígido
A mais sublime construção literária
A mais nítida crônica da dor humana
Jamais dita com tamanha clareza e sinceridade
Jamais percebida com tanta profundidade
Mesmo que por mais verdadeira que se revelasse,
Seria, por todos, corretamente ignorada!
Manoel N Silva
terça-feira, 2 de julho de 2019
PARA ENTENDER O BRASIL DE BOLSONARO...
Não. A culpa do que acontece hoje no Brasil, não é do Bolsonaro, ele é só um banana. E nem dos governos do PT e FHC, Isso é culpa de um sistema econômico em que a prioridade não é o ser humano e sim o patrimônio e os bens materiais e de todos que dele se beneficiam, ou seja, grandes empresários, grandes latifundiários, banqueiros e especuladores do sistema financeiro, que são quem realmente comandam os destinos da nação, apoiados por uma mídia oligárquica e um sistema politico viciado numa estrutura administrativa e judiciária calcada e forjada com os valores coloniais.
A minha critica ao governo atual é a sua incompetência política, discurso populista e moralizante, inércia administrativa e apoio a posições reacionárias e preconceituosas, que estimulam comportamentos violentos e legitimam atitudes que ferem os direitos humanos. Por outro lado, favorecem a grupos historicamente interessados apenas no enriquecimento fácil, a avançarem suas agendas políticas, criando leis que desfavorecem meio ambiente e minorias.
O mais Incrível, nesse cenário é a cegueira histórica dos apoiadores de Bolsonaro, não conseguem enxergar as heranças coloniais, os valores culturais enraizados no povo brasileiro...
Enfim, querem jogar no lixo mais de 300 anos de prática política voltados aos interesses de Portugal e depois da "independência" aos interesses comerciais ingleses. Além de que depois da implantação da República, foram pouquíssimos períodos de exercício da democracia, intercalados por regimes autoritarios e subservientes aos desejos e interesses estrangeiros, principalmente os dos EUA. Mas, se desejam reunir tudo isso e imputar a culpa em um período pouco maior que uma década. Fazer o quê? Cada um tem a percepção da realidade do tamanho da sua visão e compreensão do passado.
Manoel N Silva.
A minha critica ao governo atual é a sua incompetência política, discurso populista e moralizante, inércia administrativa e apoio a posições reacionárias e preconceituosas, que estimulam comportamentos violentos e legitimam atitudes que ferem os direitos humanos. Por outro lado, favorecem a grupos historicamente interessados apenas no enriquecimento fácil, a avançarem suas agendas políticas, criando leis que desfavorecem meio ambiente e minorias.
O mais Incrível, nesse cenário é a cegueira histórica dos apoiadores de Bolsonaro, não conseguem enxergar as heranças coloniais, os valores culturais enraizados no povo brasileiro...
Enfim, querem jogar no lixo mais de 300 anos de prática política voltados aos interesses de Portugal e depois da "independência" aos interesses comerciais ingleses. Além de que depois da implantação da República, foram pouquíssimos períodos de exercício da democracia, intercalados por regimes autoritarios e subservientes aos desejos e interesses estrangeiros, principalmente os dos EUA. Mas, se desejam reunir tudo isso e imputar a culpa em um período pouco maior que uma década. Fazer o quê? Cada um tem a percepção da realidade do tamanho da sua visão e compreensão do passado.
Manoel N Silva.
Uma análise suscinta, sem firulas, que transcende a mera ideologia.
O Brasil que se descortina no limiar da era Bolsonaro, não é fruto da política e nem dos políticos corruptos que a nossa prática parlamentar criou.
Nem mesmo das disputas ideológicas que marcaram nossa jovem democracia, não! O Brasil que nos aparece nesses poucos meses de um governo sem direção e sem rumo, mergulhado em fúteis ideias e sem bases idearias sólidas e autênticas, parece surgir de uma quimera grega, uma mutação improvável de um tempo sem medida e sem valor.
O que pariu essa besta imbecilizada, sem cabeça e sem cérebro, que se locomove sem norte, ao sabor de opiniões desconexas e sem embasamento, foi esse tempo fluído, como diria Baumam, sem estacas ideológicas, sem lentes científicas que sustentem visões. Foram posições e opiniões vazias, frutos de desejos e crenças, suscitadas por celebridades instantâneas que a a internet infantilizada possibilitou e a mídia irresponsável e ávida de lucro, transformou em realidade.
Manoel N Silva.
A Reforma
Não é a reforma da previdência que deve ser a prioridade dos governos...sim, precisamos reformar a previdência, mas não é nos termos que hoje se apresentam. Não precisamos sacrificar os contribuintes atuais, prestes a se aposentar, e nem aqueles que trabalham nas áreas rurais ou aqueles que dependem dos ditos benefícios de atenção continuada(BPC) para construir uma previdência justa e capaz de auto-suficiência, sem comprometer os investimentos e o desenvolvimento do país. Nem tampouco deve ser prioritaria a reforma tributária, necessária para equilibrar os desníveis tributários entre o capital e o setor produtivo... Mas, se essas reformas não devem ser prioritárias, quais reformas deveria ser?
Bem, as reformas são necessárias e urgentes, porém não prioritárias, mesmo porque, nenhuma dessas reformas passará pelo congresso que aí está. Nenhum deputado ou senador dará um tiro no pé, eleitoralmente falando, e mesmo que passe, passará capenga, como foram todas as outras antes propostas por FHC, Lula e. Dilma...
Pois bem, então qual seria "A Reforma" a ser priorizada, sobre todas essas?
Bem, seria a reforma das reformas, ou seja, a reforma política, essa que é o terror dos políticos e ao mesmo tempo o "desejo" ardente de todos...
Nosso sistema político eleitoral é uma vergonha, prioriza o capital, o poder econômico, em detrimento da representatividade. Não vou aqui me colocar como detentor da fórmula ideal, pois, ao meu entender, essa reforma, realmente a reforma que pode mudar o país e as práticas políticas, precisa ser amplamente discutida pela sociedade brasileira, deve ser objeto de consultas e debates populares, entre entidades de classes e representantes dos mais diversos setores sociais, desde empresários, trabalhadores, jornalistas, juristas, advogados e cidadãos comuns, sem nenhum vínculo corporativo. Para esses ultimos sugereria que fossem realizadasconsultas públicas, para averiguar suas posições.
Manoel N Silva.
sábado, 15 de junho de 2019
ESCURIDÃO
Eu compreendo o medo
E o desejo de ser o que não é
Sinto no rosto o hálito do chumbo
Na fumaça esquálida de um estampido
E se meu desejo de paz
Se perde entre os dentes trincados
Diante do desespero agonizante
De um jovem que parte sem cumprir
Nem mesmo sua sina
E a sua assassina mão, menos que menino,
Guiada pela contingência e não pela ação
Se faz discussão de culpa e punição
Meu pecado é a razão.
Eu não aceito o dedo divino
E nem o tribunal moral
Que encontra no ato puro
De um anjo sem asas e sem casa
A verdade indiscutível de um sentido
Para além do real, imortal delírio
De um Deus sem perdão e sem amor
Eu prefiro a mentira da compaixão
A crença ateia da inocência sem Deus
E a culpa velada de um povo ciente
De seu desejo e poder
Que transforma e distorce qualquer lei
Desde que lhe seja confortável.
Manoel N Silva
sexta-feira, 24 de maio de 2019
A LAMPARINA...
É quase noite, sentada na beirada da rede, olhando o teto de palha, onde
uma aranha desenhava círculos com sua teia fina e brilhante, sentido no corpo o
suor gotejar e o peito arfar no ritmo descompassado da sua respiração
entrecortada, aqui e ali, por um pigarro provocado pela falta de umidade, que
ressecava a boca e irritava a garganta. Os olhos lacrimejantes agarrando-se
aquela visão. Enquanto o mundo lá fora avermelhava-se em busca da escuridão,
seus dedos vasculham o entorno em busca
da caixa de fósforos e da velha lamparina a querosene, que jazem em uma mesinha
no canto do quarto, ao alcance de suas mãos.
Aos poucos, o vermelho escuro, quase negro, que entra pelas frestas da
parede de barro e pela pequenina janela na parede oposta a mesinha, quase como
um furo quadrado ao lado da porta de talos de carnaubeira, ligados um a um por
cordões, formando uma esteira que cobre a abertura que leva a sala, vai fazendo
desaparecer a teia e a aranha, dando lugar a uma semiescuridão angustiante e
pesada. Suas mãos encontram finalmente a caixa de fósforos, e ávidas por luz,
retiram um palito e riscam-no, protegendo a chama nas mãos em concha e a
dirigem para o pavio da lamparina, acendendo-o e lançando uma claridade bruxuleante
seguida por um cheiro nauseante de
querosene e uma pequena quantidade de fumaça escura, que aos poucos, vai
diminuindo na mesma proporção que a chama aumenta até torna-se um fio
branco que sobe a partir da chama e ao sabor do mormaço que
vez ou outra, provoca piruetas e desenhos
que se refletem na parede áspera,
como um balé macabro.
Um sorriso feio em uma boca banguela, ornada de apenas um dente, grande e
cariado, se abre em uma demonstração de prazer, seus olhos fundos, quase
invisíveis nesse ambiente pouco iluminado, parecem pequeninas luzes em buracos
na parede, como se fossem vagalumes ali pousados, me olhando com a ternura que
jamais conhecerei em toda a minha vida, cabelos brancos e rareados descem como
fios de luzes em torno de sua cabeça, suas faces brancas como a neves,
ponteadas de manchinhas escuras, seus braços finos e igualmente ponteados de
manchas escuras na pele de neve, iluminada por aquela luz quase irreal, seus
joelhos pequenos e suas pernas miúdas que terminam em pés igualmente pequenos,
dentro de um chinelo barato.
Agora é o desejo e o vício que movem suas mãos magras em direção a um
cachimbo de barro, igualmente repousando na mesinha, juntinho a um saquinho de
fumo de rolo, previamente, cortado e picado e que vão, ambos, parar entre seus
dedos. Em um ritual que conheço de cor e nunca esquecerei, o fumo picado vai
parar dentro do cachimbo e transforma-se em fumaça que enche sua boca em um
movimento que lembra um fole, vai trazer-lhe um pouco de alegria e prazer...
Ela ficava ali, balançando-se na rede, pitando seu cachimbo e eu olhando-a,
deitado na esteira de palha de carnaúba, e lendo meus cordéis...
Manoel N Silva
sábado, 18 de maio de 2019
E O FAMIGERADO TEXTO...
Jair
Bolsonaro orquestra mais uma farsa populista, aciona a rede zap zap para
compartilhar texto alarmante e agourento, numa clara tentativa de angariar
defensores e apoiadores, principalmente entre os de extrema direita e olavistas.
Isso certamente será um tiro no pé, os militares já estão de saco cheio com
Olavo de Carvalho e as sandices de seus seguidores. Durante a campanha já foi difícil
segurar aliados em virtude das loucuras e bobagens que esse pessoal da extrema
direita costuma reivindicar, entre elas, a volta da ditadura militar...
No Congresso
Nacional, que foi colocado em cheque, no texto, certamente haverá resistência e
consequentemente dificuldades para aprovar suas emendas e medidas. Bolsonaro
ingenuamente acredita que política se faz com chantagem emocional e frases de
efeito e que os políticos, empresários e a sociedade organizada, podem ser
enganados e manipulados, como o são seus fieis eleitores e seus delirantes seguidores.
Jair Bolsonaro
não compreende que, na presidência, não são arroubos e gritos, acusações e
ironias que o manterão lá, e sim ações firmes, medidas que tenham efeito real...
Passar mais de vinte anos como deputado à custa dessa estratégia barata, até
que é compreensível, mas, felizmente para o Brasil, cargos executivos exigem
ações concretas e não pirotecnia, que é a especialidade desse fanfarrão.
Os primeiros
efeitos negativos já se fizeram claros nessa segunda-feira, com repercussões
negativas e menções a impeachment e renúncia. Comparações com Jânio Quadros e
alusões a fragilidade, a falta de pulso do Presidente. Bolsonaro certamente esperava
que o texto repercutisse a seu favor, colocando-o como um paladino contra o
sistema, um defensor resistente aos “maus” hábitos da velha política... Ledo
engano, na realidade, a família enrolada com milicianos e os negócios do número
1 sob a mira do MP, deixam a grande maioria da população indignada e boa parte
dos seus eleitores, envergonhados, cabisbaixos e sem ação.
Posso estar enganado,
mas a imagem já tão decantada desse mito de barro, corroído pelos erros com a
educação e os micos no exterior, entra em fase terminal...
Manoel N Silva
MUITO ALÉM DE MURPHY
O que esperar
desse governo, se tudo que ele faz ou é inconsistente, ilógico, pirotécnico e
sem efeitos reais ou direcionados a coibir, censurar e controlar? Qual conjunto
ideológico de ideias norteia as ações político administrativas desse grupo tão
heterogêneo? Qual a corrente econômica que baseia as ações deste governo? Suas
ações não contemplam sequer seus aliados, e até os seus mais próximos colaboradores
são surpreendidos a todo o momento por recuos, declarações sem nexo e atitudes
e medidas que contrariam os interesses do próprio governo?
O que pretende
realmente fazer este governo? A impressão que dá é que está esperando alguma
coisa acontecer... O que seria? Que tsunami Bolsonaro espera para os próximos
dias? Um golpe militar? A renúncia pura e simples para que assuma o vice? Quase
cinco meses e nada foi feito, nenhuma medida efetiva no combate a violência, ao
desemprego, a corrupção, ao meio ambiente, exportações... Nada!
Um presidente
que age como um candidato, que governa com se fosse um dono de padaria, fala de políticas publicas e de estado como se fossem ações de uma dona de casa... Um
ministro da casa civil, que compara contingenciamento na educação com economia
de pai para comprar vestido de debutante, um ministro da educação que não
conhece PNE, LDB, que acredita em marxismo cultural e balbúrdia em
universidades, que faz metáforas matemáticas (errôneas) com chocolatinhos para
justificar cortes na educação... Bancada no congresso que mais parece uma trupe
circense, tão alienada politicamente, quanto o astronauta ministro da ciência e
tecnologia que ainda não descobriu que voltou do espaço.
Atores pornôs,
jornalistas plagiadoras, anarcomiguxos, loucos e desvairados, gurus
analfabetos, filhos mimados, terraplanistas e esquizofrênicos religiosos...
Enfim, nosso país é um circo sem picadeiro e os atores políticos e
administrativos, são todos canastrões!
A grande
imprensa não sabe mais o que fazer, não tem mais argumentos para sustentar essa
maluquice geral e se perde entre afagos e pedradas, perde credibilidade e
audiência em seus noticiários, o governo negocia com pessoas, esquece as
organizações, quebra hierarquias e promove o caos.
Laranjas, rachadinhas,
cheques e depósitos inconsistentes nas contas dos filhos e da esposa, motorista
milionário, filho genial que triplica valores de imóveis e tem lucros
fantásticos... Afinal o que virá por aí?
Será que pode
ficar pior? Parece que sim, decreto de
hoje, na prática, acaba com a autonomia das universidades, banco central,
etc... Nem Murphy previu isso... O presidente do INEP foi exonerado... Outro!!!
Manoel N Silva
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